“Queremos suplantar a arrecadação do ano passado.”

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(José Batista Gusmão, rotariano, diretor de assuntos corporativos da Bridgestone Firestone)

Há algumas expressões do cotidiano das empresas que equivocadamente ainda são mal recebidas fora do ambiente delas. É o caso do marketing, palavra geralmente associada a propaganda, geralmente mentirosa. Chamar alguém de “marketeiro” não é um elogio, com certeza. Perde-se com isso a oportunidade de verificar que o marketing pode ser um importante instrumento da cidadania.

– Outra dessas palavras estigmatizadas é estratégia. Associa-se muitas vezes esta expressão a jogo ou a um comportamento previamente estudado para atingir um objetivo, sem espontaneidade portanto, e nem sempre correto, já que contrariaria o que é natural.

– O comportamento das empresas identificado com o exercício da responsabilidade social, no entanto, deve ser um conjunto coerente de procedimentos referentes a como a empresa exerce a gestão dos seus negócios, compreendendo como se relaciona com os seus públicos interessados, como afeta o seu mercado e até sobre o que ela produz. A coerência de procedimentos presume planejamento, coordenação, controle e disciplina, o que implica na definição de estratégias.

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– Uma das estratégias mais eficazes que uma empresa pode eleger para o exercício da responsabilidade social diz respeito à identificação da base territorial escolhida para medir a sua capacidade de afetar a sociedade e produzir as suas ações sociais. Evidente que responsabilidade social e ação social são conceitos distintos mas se a organização optar pelo exercício de ações externas como forma de expressão complementar da sua responsabilidade corporativa, a economia local afirma-se como estratégia.

– Caso que pode ilustrar de forma interessante esta estratégia de exercício de responsabilidade social é o da região do Grande ABC, em São Paulo. Somada à capital São Paulo, Guarulhos e Osasco, esta é a região mais importante do país do ponto de vista geoeconômico. Nas últimas décadas, o ABC vem constatando um processo de esvaziamento econômico que as vezes é apresentado de forma atenuada, como uma mudança da base econômica, do setor industrial para comércio e serviços. Retórica que os números não engolem.

– O agravamento da exclusão verificado na região faz eco em significativos indicadores da atividade econômica. Nos últimos vinte anos, os municípios do Grande ABC, a capital, Guarulhos e Osasco caíram de cerca de 56% do valor adicionado do estado de São Paulo para 38%. Na indústria de transformação, a queda da região foi de 31,5%. No mesmo período, verificada a contribuição dos municípios da região para o ICMS, constata-se que eles participavam com cerca de 57% e, em 2001, caíram para 38,6%.

– Mais grave a observar é que o valor adicionado contribui com 76% na definição da distribuição do ICMS, contra 13% do fator população e 5% de receitas tributárias próprias. Como o fluxo populacional para estes municípios se faz no sentido inverso ao do esvaziamento econômico, a pressão sobre os serviços públicos aumenta enquanto os recursos para o atendimento diminuem. Mais, os municípios procuram aumentar as receitas próprias já que estas podem melhorar a posição diante da distribuição do ICMS.

– Mais ainda, os ganhos de produtividade observados no período representam a outra face da moeda do desemprego. Na última década, a perda da região metropolitana de São Paulo em postos de trabalho com carteira assinada foi superior a 440 mil. Isto significa que a perda da capacidade de consumo é ainda maior do que a perda do ICMS. Trata-se de uma conspiração excludente poderosa.

– A região do Grande ABC vive um interessante conjunto de casos relativos à mobilização pela responsabilidade social, neste cenário de dificuldades econômicas e gravidade da situação social. Um deles refere-se ao Prêmio Desempenho, realizado pela Editora Livre Mercado. Patrocinado pela Bridgestone Firestone e inicialmente reservado a empresas, os Destaques do ano passaram a compreender entidades governamentais e não governamentais. É uma evolução quanto à compreensão sobre a importância das parcerias.

– O caso da mobilização na região do Grande ABC acumula experiências de sucesso, como as das empresas, entidades públicas, organizações não governamentais e pessoas em destaque nas edições do Prêmio Desempenho. Revela também desafios mobilizadores. É o caso da Associação Projeto Crescer, administrada pelo Rotary Clube de Santo André, ao lado do Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graacc) e da Associação de Apoio às Crianças com Neoplasia (AACN), que se propõe a colocar a região entre as três maiores arrecadações do próximo McDia Feliz e construir assim a Casa de Apoio à Criança com Câncer, do Instituto de Oncologia de Santo André.

– Não poderiam faltar algumas frustrações para alimentar os casos de novos desafios. Programas como o Criança e Adolescente, Prioridade 1, criado em outubro de 1997 pela Câmara Regional que congrega os sete municípios da região, busca novas parcerias para alcançar o estágio pretendido na sua criação. Outro caso é o da Megacampanha Social que provoca a MZM Construtora e a rede de supermercados Coop na busca de novas formas de apoio aos agentes que coordenam entidades de apoio aos excluídos, Nossas Madres Terezas.

Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)
Correio eletrônico: [email protected]

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