Para entender o que está acontecendo entre Índia e Paquistão, temos que voltar a 1946, quando a Grã-Bretanha decidiu abandonar o território — que era considerado a joia da coroa — após dois séculos de dominação. No ano seguinte, 1947, começaram as tensões entre a Índia e o Paquistão, devido à disputa pela posse da Caxemira. Essas tensões foram causadas por um ódio profundo, de base religiosa, que resultou em confrontos de fronteira entre os dois países — luta que durou quase 80 anos, tantos quanto os anos de sua existência como Estados independentes. Infelizmente, a situação piorou depois de duas décadas nas quais a tensão, sempre latente, não havia resultado em algo tão grave.
De fato, em 22 de abril deste ano, um ataque terrorista islâmico desencadeou a crise, causando a morte de 26 turistas indianos, assassinados a sangue frio no bucólico vale de Baisaran.
A Índia acusou o Paquistão — cuja fronteira é muito próxima da área do massacre — de instigar o ataque e ameaçou vingança, que se materializou com a Operação Sindoor, por meio de um ataque aéreo a nove bases terroristas localizadas em território paquistanês, que, segundo Nova Déli, causou a morte dos 26 civis.
Pela primeira vez em meio século, a populosa região fronteiriça de Punjab, no Paquistão, foi atingida pela incursão indiana, desencadeando uma escalada em uma das regiões mais perigosas do mundo.
A Operação Sindoor marca uma virada na doutrina militar indiana em resposta a um grande ataque terrorista, devido ao fato de que a Índia atacou diretamente campos jihadistas no Paquistão, excedendo o limite tradicional de contenção. De acordo com Happymon Jacob, da Central Securities Depository Regulation (CSDR), isso representa uma mudança estrutural: Nova Déli, agora, considera todo ataque terrorista como um ato de guerra convencional. A medida encerra a temporada de diálogo com Islamabad e inaugura uma estratégia de dissuasão ativa, com implicações regionais e globais.
Por sua vez, o governo paquistanês, após negar que estivesse dando cobertura aos terroristas, ordenou que seu exército respondesse ao ataque indiano. Nova Déli, por sua parte, imediatamente ameaçou retaliar e ordenou a evacuação de moradores indianos da Caxemira, preparando-se para um conflito maior.
Tanto os Estados Unidos quanto a China pediram que os dois países exercessem moderação, em um momento em que, no mundo, há vários focos de tensão e guerras.
Já se passaram mais de 50 anos desde que a Índia e o Paquistão se enfrentaram em uma guerra total. Mas quais são as raízes desse ódio, nascido sobre as ruínas do Império Britânico? A resposta é simples, ligada à própria natureza da Índia e do Paquistão — dois grandes países vizinhos, com, respectivamente, 1,32 bilhão e 243 milhões de habitantes. Em 1947, de fato, a maioria hindu e a grande minoria muçulmana viviam misturadas, mas, já em 1946, quando Londres anunciou sua intenção de abandonar aqueles territórios após quase dois séculos de dominação, as duas partes começaram a agir para atingir o objetivo de criar dois Estados.
Uma série de atrocidades foi o estopim que acelerou a separação, considerada inevitável. O maior incidente ocorreu em Calcutá, em agosto de 1946, quando mais de 6 mil pessoas morreram em tumultos.
Assim, em 1947, nasceram dois Estados: a Índia e o Estado muçulmano do Paquistão, separados por fronteiras traçadas de forma muito grosseira pelos ingleses — fato que levou a êxodos em massa, em meio a uma violência horrível. Um ódio desenfreado que causou a morte do maior promotor da independência indiana, Mahatma Gandhi, o defensor da não violência. Dentro do ideal de paz e não violência que ele defendia, uma de suas frases foi: “Não existe um caminho para a paz! A paz é o caminho!”.
Em 20 de janeiro de 1948, Gandhi foi vítima de uma tentativa de assassinato: uma bomba foi atirada contra ele, mas ninguém ficou ferido. Entretanto, em 30 de janeiro de 1948, Gandhi foi morto a tiros, em Nova Déli, por Nathuram Godse, um hindu radical. Godse foi posteriormente julgado, condenado e enforcado, apesar do último pedido de Gandhi para que seu assassino não fosse punido. O corpo do Mahatma foi cremado, e suas cinzas foram jogadas no rio Ganges.
Desde então, Índia e Paquistão vivem à beira da guerra, especialmente na Caxemira, cujas fronteiras, no Himalaia, nunca foram definitivamente acordadas. Nesse quadro, em 1970, o abandonado Paquistão Oriental — separado do Ocidente por 2 mil quilômetros de território indiano — conquistou sua independência de Islamabad, também graças à ajuda interessada da Índia. Assim nasceu o atual Bangladesh, um dos Estados mais superlotados e pobres do mundo.
Nas décadas seguintes, primeiro a Índia e depois o Paquistão se equiparam com arsenais nucleares, transformando, assim, em um pesadelo potencial qualquer confronto entre dois países divididos pelo ódio mais perigoso que existe: o ódio religioso.
Do mesmo ventre nasceram Índia e Paquistão, separados por fronteiras, mas unidos por feridas que o tempo insiste em reabrir. Parabéns pelo artigo!
Parabéns pelo artigo Dr. Eduardo, Índia e Paquistão tem que viver em paz, somos todos irmãos, independente de nação!