Reagan, Lula e as batatas

Ganhos na economia não são para todos; nos EUA, 70% dos trabalhadores não viram aumento real em meio século

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Pessoas sem-teto nas ruas de Los Angeles, EUA
Pessoas sem-teto nas ruas de Los Angeles, EUA (foto Xinhua)

Pergunte a si mesmo: você está melhor do que há 4 anos? A pergunta foi feita pelo ator Ronald Reagan durante debate na TV com Jimmy Carter, eleições norte-americanas de 1980. A resposta veio numa avassaladora vitória dos republicanos nas urnas. Reagan virou presidente e marcou, junto com a britânica Margareth Thatcher, uma época de retrocessos no mundo.

A frase foi lembrada pelo colunista do jornal The Guardian Aditya Chakrabortty a partir da divulgação de um relatório do thinktank progressista Democracy Collaborative. A ideia é: a economia nos EUA cresce acima da média dos demais países desenvolvidos, empregos em alta, salários aumentando, Bolsa de Valores batendo recordes. Então (“É a economia, estúpido”), os democratas deveriam estar marchando para uma fácil vitória com Kamala Harris; mas o que se vê é uma disputa apertada, pendendo para Trump, apesar de este estar próximo de ir parar atrás das grades.

Os autores do relatório da Democracy examinaram os dados econômicos de sempre – crescimento, empregos, salários – mas em um período de tempo muito mais longo. O que os números dizem é que, para um grande grupo de pessoas, a vida piorou.

Para a grande maioria dos trabalhadores dos EUA, sejam eles de colarinho branco ou azul, os salários estagnaram na maior parte do último meio século. Excluindo a inflação, os ganhos médios por hora de sete em cada 10 funcionários dos EUA mal aumentaram desde que Richard Nixon estava na Casa Branca.

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A discussão se aplica ao Brasil: com economia crescendo acima do esperado, desemprego caindo para perto dos níveis mais baixos, salários crescendo – ainda que pouco – e inflação desacelerando, por que o governo Lula não decola na visão da população?

A resposta é muito mais complexa do se pode encontrar apenas na economia (o livro O Pobre de Direita: A Vingança dos Bastardos, de Jessé Souza, aprofunda bem a discussão do ponto de vista sociológico), mas não há dúvida de que a questão econômica pesa e não se reflete em melhora da qualidade de vida.

Nos governos Lula 1 e 2, havia a esperança – e uma certa ilusão – sobre a “nova classe média”. Lula 3 ainda não conseguiu reencontrar o caminho da esperança.

E as batatas?

O gasto dos norte-americanos nas redes de fast food vem caindo, e não se trata apenas de busca por uma saúde melhor. A principal fornecedora de batatas congeladas para McDonald’s e KFC vai fechar uma fábrica e demitir 4% dos seus empregados devido à queda do consumo.

A batata frita é um indicador das finanças do consumidor: em tempos de aperto, caem os pedidos, ou então troca-se a batata grande pela média. A economia vai bem… para quem, cara-pálida?

Rápidas

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