Reciclagem de PET cresce, mas enfrenta desafios estruturais

Ainda há gargalos de coleta, informalidade e baixa conscientização

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Garrafa PET no lixo (foto: Fernando Frazão/Abr)
Garrafa PET no lixo (foto: Fernando Frazão/Abr)


O plástico PET destaca-se como um dos materiais mais recicláveis, reunindo características como leveza, resistência e viabilidade econômica para reaproveitamento. No Brasil, sua taxa de reciclagem atinge 56,4%, superando a de materiais como vidro e outros plásticos, mas ainda distante do seu potencial máximo.

Segundo dados setoriais, 54% dos brasileiros não sabem como descartar corretamente materiais recicláveis, dificultando o acesso a resíduos de qualidade para a indústria. Em 2023 e 2024, segundo dados do setor, observou-se uma desaceleração perceptível na demanda por resinas recicladas, inclusive o PET, especialmente por parte de indústrias que anteriormente lideravam compromissos com a economia circular e metas ESG.

“Hoje já é possível produzir resinas recicladas de alta qualidade, equivalentes ao material virgem, inclusive para uso em embalagens alimentícias. Acreditamos que a evolução da economia circular passa pela excelência em processos industriais, pela rastreabilidade da cadeia e pela educação contínua dos parceiros”, afirma Irineu Bueno Barbosa Junior, CEO da Cirklo, empresa especializada em soluções para a reciclabilidade do PET.

O cenário é agravado pela competitividade do PET virgem, impulsionada por um ciclo petroquímico de baixa que teve início no segundo semestre de 2023, e pelas dificuldades técnicas e logísticas de garantir fornecimento estável e de qualidade de PET reciclado. Em 2024, segundo a Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), o setor de reciclagem desse tipo de plástico movimentou R$5,66 bilhões no Brasil.

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O excesso de plástico no planeta se tornou um dos maiores desafios ambientais do século. Todos os anos, cerca de 8 milhões de toneladas de resíduos plásticos chegam aos oceanos, segundo a ONU. A produção global, atualmente em torno de 400 milhões de toneladas anuais, pode quase triplicar até 2050, se nenhuma medida for tomada. Apesar disso, menos de 10% de todo o plástico produzido é reciclado corretamente.

Diante desse cenário, movimentos como o Julho sem Plástico ganham força ao incentivar mudanças de comportamento e pressionar por soluções mais estruturais. Separar corretamente o lixo reciclável, reduzir o consumo de itens descartáveis e priorizar embalagens biodegradáveis são atitudes que fazem diferença no dia a dia. Mas, para que o impacto seja real, é preciso ir além da conscientização individual.

O Brasil, por exemplo, despeja cerca de 1,3 milhão de toneladas de plástico nos oceanos todos os anos, segundo relatório da ONG Oceana, ocupando a oitava posição entre os maiores poluidores plásticos do mundo e liderando o ranking na América Latina. Em escala global, a produção anual já ultrapassa 430 milhões de toneladas, sendo que dois terços desse volume se transformam rapidamente em resíduos.

“O maior desafio não é só ensinar a separar o lixo, mas garantir que ele seja coletado e destinado de forma correta. A logística reversa precisa funcionar em todas as etapas e é aí que muitas cidades ainda falham”, afirma Eduardo Nascimento, CEO da startup Minha Coleta, cujo modelo já permitiu o processamento de mais de 300 mil toneladas de resíduos, com 63% desse total desviados de aterros sanitários em 2023.

No Rio de Janeiro, o potencial de reciclagem ainda está longe de ser aproveitado. Só 5 kg de resíduos recicláveis por pessoa são coletados por ano na capital fluminense, segundo dados do IBGE. Em todo o estado, apenas em condomínios e empresas geram cerca de 800 toneladas de materiais recicláveis por dia, dos quais uma parcela mínima tem destinação correta, o que representa um desperdício estimado em R$ 333 milhões ao ano.

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