Redentora com Bush

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Do secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, depois de mostrar-se descrente de que a recente visita do presidente Lula aos Estados Unidos resulte em mudanças estruturais nas relações entre os dois países: “Estou mais preocupado em parabenizar o gênio que marcou a visita a Camp David exatamente no dia 31 de março. Que data brilhante, para um governante brasileiro que lutou contra a ditadura militar, estar com o presidente do país que ajudou a articular o golpe cívico-militar de 31 de março/1 de abril de 1964”, ironizou Pomar, principal líder da corrente Articulação de Esquerda, do PT.

Heróis de Lula
O mesmo Pomar, sexta-feira, véspera do 43º aniversário do golpe militar de 1964 e  antes de Lula regressar ao Brasil, ainda sonhava que Lula sinalizasse de alguma forma que reverenciava outros heróis, além de ministros de R$ 8 mil e usineiros: “Espero que Lula aproveite a ocasião para lembrar, lá no “ventre do monstro”, dos verdadeiros heróis do povo brasileiro, gente famosa e gente anônima, que não dobrou sua espinha ao Império”, cobrou o dirigente petista, que, como visto, em vão.

Sobre o risco de piruetas
Os que, dentro e fora do governo, alimentam ilusões de que o apagão aéreo se revolve com o fim do movimento dos controladores padecem da mesma miopia dos que insistem em proclamar serem sadios os fundamentos de um país que, já há década e meia, se arrasta na rabeira do crescimento mundial. Na verdade, além de uma questão estratégica sobre a quem caberá o controle sobre o tráfego aéreo do Brasil, o movimento dos controladores foi impulsionado pelo esgotamento da política de sucateamento da infra-estrutura do país levada a cabo nessa década e meia desperdiçada.
O trágico episódio da queda do avião da Gol apenas explicitou problemas que conviviam em potência já há longos anos e que, como diria o presidente Lula, iam sendo administrados pelo jeitinho brasileiro e boa dose de sorte. O acidente e suas consequências, inclusive, criminais, uniram uma categoria heterogênea, que inclui civis e militares, sobre os riscos a que estão sujeitos os que trabalham no limite do sucateamento. A desmilitarização não apenas não muda esse quadro, como ameaça empurrar o Brasil para o buraco negro da convivência com dois tipos de controles diferentes e antagonizados.

Repeteco
O governador de São Paulo, José Serra, declarou estar preocupado com a crise no controle aéreo brasileiro: “Eu acho que teria dado tempo de montar um esquema alternativo para que o controle não ficasse apenas na mão de um grupo organizado.” E acrescenta: “O que garante a melhora da qualidade do serviço no futuro? O que garante que não teremos novas chantagens?”

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Vivandeiras
O gosto e a estridência com que os veículos de imprensa mais conversadores se referem aos controladores como “amotinados” e à “baderna” nos aeroportos reaviva os fortes laços mantidos por eles com o golpe de 64, que, coincidência ou não, completou 43 anos exatamente no sábado. Naquela época, com retórica similar, a imprensa teve papel decisivo para incitar militares e civis à ditadura de triste memória.

Bombardeio midiático
A retórica saudosista da imprensa conservadora não esgota nas suas ligações com o golpe de 64. Tem ainda um forte quê de esquizofrenia: principais apoiadores e incentivadores do forte aperto fiscal que ajudou a sucatear a infra-estrutura do país, eles agora se surpreendem com os efeitos. Lembram cena emblemática do épico Corações e mentes, em que, diante da reação de cineastas norte-americanos à devastação provada pelos bombardeios de aviões dos Estados Unidos, vietnamistas observam com ironia: “Esses norte-americanos são estranhos. Jogam bombas e depois se espantam com os estragos.”

Ritmo lento
A construção civil não iniciou o ano como se esperava. Em todo o Brasil foram criados 5.522 postos de trabalho, menos da metade dos 11.708 registrados em janeiro. A construção civil respondeu por apenas 3,73% dos 148.019 novos postos abertos no país, índice bem abaixo do patamar tradicional, entre 7% e 8%. No Rio de Janeiro, foram criados 1,2 mil empregos no primeiro bimestre – no ano passado, foram 3,9 mil no mesmo período, revela o sindicato da construção (Sinduscon-Rio).

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