Os impactos socioeconômicos muitas vezes são negligenciados quando se fala em mudanças climáticas. É difícil vislumbrar o impacto do clima em nossa vida cotidiana, e geralmente deixamos para o futuro a necessidade de adaptação e redução de vulnerabilidades socioeconômicas.
A percepção do Brasil como indene a eventos extremos está mudando. Podemos hoje ter certeza que os efeitos das mudanças climáticas valem para todos. Isso ficou muito claro com a pandemia de Covid-19, que surge, segundo especialistas, como um dos efeitos da destruição da natureza pelo homem. É necessário começar a reagir com planejamento e prevenção dos desastres naturais, evitando perdas para todos e sobretudo para os mais pobres, que são os mais expostos à crise climática.
Os impactos climáticos já estão presentes em nosso dia a dia; a seca na região Sul, nas bacias do Paraná e Paraguai, está determinando perdas de safras agrícolas. Outros eventos, como as inundações no Sudeste e Nordeste, também vêm ocorrendo com mais frequência no Brasil. Já se apresentam aumentos consideráveis de temperaturas, anunciados por nuvens de poeira e desvios das chuvas, que impactam sobretudo o fornecimento de água.
Alguns dos impactos socioeconômicos decorrentes de eventos climáticos em zonas urbanas ou rurais são as perdas das safras, da fertilidade do solo, da biodiversidade, da qualidade da água dos rios, da mobilidade e equipamentos urbanos, de moradias, de empregos, da qualidade de vida, dentre outros, com o consequente aumento da pobreza e dos riscos para as populações.
Não é possível admitir, por exemplo, que na próxima década ainda haja pessoas pobres sem acesso à água, esgotamento sanitário, sem segurança hídrica, sem condições de vida digna. Para tanto é necessário que cada investimento na área hídrica tenha foco nas medidas de mitigação e adaptação. Outros investimentos, sejam do setor público ou privado, devem ter foco na redução dos riscos climáticos e mitigação de seus efeitos.
Poucas empresas anunciam essa redução do custo climático. Grandes projetos imobiliários em zonas urbanas, por exemplo, ignoram a necessidade de um olhar mais abrangente para o seu entorno. Também os critérios de governança ambiental da agenda ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) – com tradução in Wikipedia (inglês) Governança Ambiental, Social e Corporativa – são pouco publicizadas pelas empresas à população em geral e ainda não representam grandes transformações que atraiam investidores e consumidores mais atentos às necessidades de redução dos efeitos econômicos e sociais gerados pela crise climática.
A redução dos custos socioeconômicos só será possível se houver um grande esforço para enfrentar esse desafio, com o engajamento de todos os atores sociais e especialmente das empresas, com uma visão que supere os objetivos de lucro imediato. O comprometimento com a mitigação dos efeitos e adaptação às mudanças climáticas, especialmente dos mais pobres, é um custo de transação a ser absorvido com mais transparência e divulgação de resultados.