Nesta terça-feira, para quem ainda não votou – antecipadamente via correio – nos Estados Unidos poderá ir às urnas para escolher entre o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris. Dos 50 estados, 18 já começaram a votação de forma antecipada. Até quarta-feira da semana passada (30 de outubro), mais de 50 milhões de cédulas já haviam sido entregues.
Diferentemente do processo brasileiro, lá cada um dos estados organiza a votação de acordo com suas próprias regras. O resultado total poderá levar dias para ser conhecido, pois cada estado tem seu tempo de apuração.
Mas é fato que o cenário de uma possível reeleição de Donald Trump está criando um movimento especulativo no mercado financeiro, os chamados “Trump Trades”, além de movimentar a pauta econômica de inúmeros países, indo além das fronteiras norte-americanas, afetando mercados globais e, em especial, economias emergentes como o Brasil. A análise é do especialista em finanças Fernando Bento, CEO e sócio da FMB Investimentos.
Uma vitória de Trump causará fortes impactos. “Uma política fiscal expansiva nos EUA pode resultar em um dólar mais forte, pressionando economias emergentes. Para o Brasil, um dólar valorizado pode impulsionar a inflação ao encarecer a importação de produtos e insumos dolarizados. Esse movimento tende a afetar diversos setores, desde a indústria até o consumidor final”, diz Fernando Bento.
Segundo o CEO, investidores ao redor do mundo estão reavaliando seus portfólios, antecipando as potenciais mudanças econômicas e políticas que poderiam acompanhar o retorno de Trump ao poder, incluindo uma nova onda de desregulamentação, incentivos fiscais e políticas externas mais agressivas. De acordo com Fernando Bento, para economias emergentes, que frequentemente têm dependência de commodities e estão vulneráveis à valorização do dólar, a possível volta de Trump representa um cenário de volatilidade. No caso brasileiro, uma série de fatores pode contribuir para pressões econômicas mais intensas, como a valorização do dólar. Pressão sobre os juros Uma alta pressão sobre a taxa de juros também deve ser esperada, caso o candidato do Partido Republicano volte a ocupar a Casa Branca.
“A alta do dólar e os possíveis aumentos nas taxas de juros nos EUA sob uma administração Trump poderiam provocar uma fuga de capitais das economias emergentes para mercados mais seguros, como o americano. Esse cenário forçaria o Brasil a manter ou elevar suas taxas de juros para conter a inflação e atrair investidores estrangeiros, impactando o crédito e a atividade econômica doméstica”, enfatiza.
O impacto nas exportações, nos setores como o do aço e o agronegócio, que já enfrentaram tensões comerciais com os EUA durante o primeiro mandato de Trump, poderiam novamente sentir o peso de uma política mais isolacionista. A volatilidade de commodities, com o estímulo à produção de petróleo e gás nos EUA, podem pressionar os preços internacionais de energia. “Para o Brasil, que é um grande produtor de commodities, essa queda nos preços pode ter efeitos mistos. Embora seja benéfico para consumidores industriais, pode afetar negativamente a balança comercial brasileira e as empresas de energia”, finaliza o especialista.