Brasil, após crescer entre 1981 e 2010, estagnou entre a 13ª e 14ª posição
Há hoje um consenso de que a capacidade de inovação de um país é em grande parte devido à sua força científica, que pode ser mensurada por critérios quantitativos e qualitativos. O componente quantitativo é mais fácil de ser medido, e há diferentes fontes de informações nas revistas científicas que circulam internacionalmente.
O componente qualitativo é de avaliação mais complexa, mas se pode ter uma boa ideia da importância dos trabalhos publicados em função da qualidade e popularidade das várias revistas, com seus respectivos índices de impacto, mas também pela repercussão de cada trabalho entre os colegas que trabalham na mesma área e que se reflete no número de vezes que o artigo é citado.
Outro indicador relevante, sobretudo para uma avaliação mais global, é o grau de internacionalização da cooperação científica. As evidências também indicam que há uma forte correlação entre a capacidade de produzir conhecimento com a de transformar este conhecimento em produtos e processos inovadores capazes de gerar riqueza, desenvolvimento econômico e social. Os comentários a seguir estão baseados em dados obtidos pela pesquisadora Cristina Haeffner usando a fonte InCites Clarivate Analytics.
Por muitos decênios, a maior produção de artigos científicos ocorria em países com larga tradição, sendo que em 2010 os 20 maiores produtores eram, em ordem decrescente: Estados Unidos, China, Alemanha, Inglaterra, Japão, França, Canadá, Itália, Espanha, Austrália, Coreia do Sul, Índia, Holanda, Brasil, Taiwan, Rússia, Suíça, Turquia, Suécia e Irã. A produção científica dos Estados Unidos era 2,5 vezes maior que a da China.
A análise dos mesmos dados em 2021 mostra mudanças significativas que indicam a prioridade que cada país dá à área da Ciência & Tecnologia. Destaco a seguir as mudanças mais marcantes. Primeiro, em 2020, a China ultrapassou os Estados Unidos e, em 2021, publicou 80 mil artigos a mais. Segundo, a Inglaterra ultrapassou a Alemanha, e ocupam hoje a 3ª e 4ª posições, respectivamente. A diferença entre o nível de publicação entre os dois líderes e esses países é da ordem de 4 vezes.
Terceiro, a Índia que ocupava a 12ª posição, cresceu significativamente e ocupa hoje a 5ª posição, com possibilidade de avançar para a terceira nos próximos anos em função da prioridade que vem dando à área de C&T e da evolução do número de publicações ocorridas nos últimos cinco anos. Quarto, merece destaque a posição do Irã, que passou da 20ª para a 15ª posição.
O Brasil, que cresceu significativamente entre 1981 e 2010, estagnou entre a 13ª e 14ª posição, tendo à frente a Rússia e atrás Irã, Holanda e Turquia.
No que se refere ao índice de impacto, o maior destaque é Singapura, com um valor de 15.13, sendo que vários países importantes apresentam valores entre 8 e 10. O Brasil tem um índice de 6,42 enquanto Irã apresenta 8.09, sendo maior que o da Rússia (4.16).
No seu conjunto, os dados apontam que a produção de conhecimento na área científica é dinâmica, sendo que a estagnação ou a redução do financiamento por parte de agências governamentais exerce efeito significativo nos indicadores.
Wanderley de Souza é professor titular da UFRJ, membro da Academia Brasileira de Ciências e da US National Academy of Sciences.