O Centro Brasil no Clima (CBC), em parceria com a Climate Transparency e o Centro Clima, promoveram o lançamento do Climate Transparency Report de 2022. O relatório apresenta a comparação entre os países do G20 em relação às emissões e suas políticas de adaptação, mitigação e financiamento. O relatório foi apresentado ao vivo no Brasil no fim de outubro de 2023 por Sérgio Besserman, consultor sênior do CBC, e Willian Wills, diretor de projetos do CBC. O avanço da política climática é muito importante para empreender correções em nossa trajetória e saber como será possível zerar as emissões líquidas até 2050 e chegar ao desmatamento zero até 2030.
Precisamos cumprir as metas assumidas no Acordo de Paris, mas vemos que os países do G20 continuam aumentando as emissões, apesar de o ritmo dessas emissões ter caído. Existem países mais intensivos em emissões de carbono, como EUA, Canadá, China e Arábia Saudita. O Brasil pretende atingir uma economia de baixo carbono (Net zero) até 2050, mas pouco sabemos das estratégias para se alcançar esse objetivo.
Em adaptação, o Brasil não tem estratégia em educação, turismo e finanças. Além disso, a dependência do Brasil em hidroeletricidade, em cerca de 80%, pode restar comprometida com secas prolongadas resultantes das mudanças climáticas.
Em mitigação, dados de 2021 apresentam que o Brasil participa em cerca de 44% em energias renováveis e tem baixa dependência do carvão se comparado com outros países do G20. No setor energético, temos mais energia renovável do que os demais países do G20. Isso se deu graças às nossas características físicas e investimentos em hidrelétricas e programas como Proálcool, com a produção de etanol, feitos durante a crise do petróleo na década de setenta. No entanto, embora o Brasil se coloque em posição favorável se comparado com a economia de outros países em termos de geração elétrica, é necessário voltar a investir para chegar a emissões líquidas zero em 2050.
É necessário também investir em transporte de massa, pois temos um setor de transporte baseado sobretudo no modal rodoviário. Há que se eletrificar o transporte público e ter um sistema eficiente de transporte. Muito embora nossas emissões sejam baixas em relação a outros países no setor de transporte, isso se deve porque temos um setor ineficiente e menor do que de outros países, possuindo uma frota per capita bem menor em relação ao G20.
Projetos em finanças do Banco Central (Projetos Fibras e outros) estão avançando, e todas as instituições financeiras hoje têm que apresentar os riscos climáticos das empresas que financiam, fazendo com que o setor produtivo migre para atividades de baixo carbono.
Apesar de alguns avanços, o desmatamento da Amazônia cresceu, chegando em 2021 ao nível mais alto desde 2006. Isso significa metade das emissões do país e ameaça as nossas metas de emissão zero até 2030, faltando uma ação rigorosa do governo para redução do desmatamento, inclusive com um plano de desenvolvimento sustentável para a região, melhorando o índice de desenvolvimento humano e fazendo com que cerca das 30 milhões de pessoas que lá vivem alcancem melhor qualidade de vida.
A precificação do carbono também é um fator importante para o empreendedor fazer seus cálculos de investimentos, introduzindo as externalidades e ajudando numa economia de baixo carbono. O decreto do governo federal pode servir de base para regulamentar um futuro mercado de carbono no Brasil (Dec. 11.550 de 05/06/2023), mas ainda não existe obrigação de redução de emissões para os diversos setores.
Em resumo, além de diversificar as fontes de energia renováveis, necessitamos de um controle mais rigoroso do desmatamento. Ainda, urgem investimentos em eficiência energética na indústria e transportes de massa, com a eletrificação do transporte público. Existem algumas expectativas promissoras, como a de ver aprovada a regulamentação do mercado de carbono no Brasil até a COP30, Conferência da ONU sobre Mudanças do Clima prevista para 2025, em Belém (PA).
A questão que se coloca é: haverá tempo para o Brasil e demais países, diante da velocidade das mudanças climáticas, de mitigar seus efeitos? A resposta também se encontra em nossas ações e contribuições pessoais para tentar diminuir esse verdadeiro gap de governança global.