Relevância do acordo entre Grécia e Egito

562

O acordo greco-egípcio, assinado no dia 6 de agosto deste ano, que visa definir a demarcação inicial das Zonas Econômicas Exclusivas (ZEE), chega em um momento em que os dois países têm muito a ganhar com tal acontecimento. A Grécia consegue, de fato, ignorar o memorando MoU turco-líbio. Lembramos que, em 27 de novembro de 2019, a Turquia e o Governo do Acordo Nacional da Líbia (GNA), reconhecido pela ONU, assinaram o MoU, memorando que traça as fronteiras marítimas entre Líbia e Turquia e define, entre outros, o território onde a exploração de energia pode ocorrer.

Porém, qual é o motivo que nos leva a afirmar a relevância do acordo greco-egípcio? Em primeiro lugar, os dois países têm muito a ganhar com esta atitude. A Grécia, então, acaba com o MoU. O memorando mencionado foi rejeitado explicitamente por Atenas, e foi repetidamente descrito como um documento ilegal pelo lado grego.

De fato, o documento estaria minimizando a importância e a soberania das ilhas gregas, apresentando a polêmica reivindicação turca naquela região do Mediterrâneo. Isso apoiaria o conceito de que a Zona Econômica Exclusiva (ZEE) deve ser definida, principalmente, pelo território continental do país e o papel das ilhas deve ser marginalizado, o que é completamente inaceitável pela Grécia.

Surpreendentemente, a Grécia foi um dos poucos países a permanecer particularmente ocioso na demarcação inicial da Zona Econômica Exclusiva. Depois que o acordo greco-egípcio e o mapa resultante forem, oficialmente, publicados e adotados pelas Nações Unidas, Atenas também cancelará, de jure, as reivindicações turcas.

Espaço Publicitáriocnseg

Eis a razão pela qual o acordo tornou-se vital para a Grécia. Antes disso, em uma região onde reservas de energia significativas foram confirmadas, a Grécia foi omissa, não tomando as medidas necessárias para prosseguir com a exploração e a perfuração na área, em contraste com vários outros países próximos, como Chipre, Egito, Líbano e Israel!

O acordo torna-se benéfico, igualmente, para o Egito, pois cria uma situação indesejada, tanto para a Turquia, quanto para a GNA; devemos considerar, aqui, que o conflito em curso, na Líbia, se desenvolveu, gradualmente, em uma guerra por procuração entre Ancara e Cairo, portanto, qualquer ação que possa piorar a posição turca na região é, definitivamente, bem-vinda pelo presidente egípcio Sisi.

A política interna do Egito ainda é relevante nesta decisão, considerando que vários elementos da oposição egípcia são firmemente apoiados pela Turquia. A Irmandade Muçulmana, organização muçulmana sunita, que pode contar com o apoio de uma parte da população egípcia, representa uma ameaça interna significativa para o presidente Sisi; é bem sabido que a Irmandade recebe considerável apoio financeiro, logístico e político do presidente turco Erdogan.

A Turquia, porém, não ficou calada e reagiu ferozmente, logo após o anúncio do acordo. Erdogan afirmou, após as orações de sexta-feira, que a Grécia agiu de forma enganosa e que o acordo, entre Grécia e Egito, não tem valor algum. O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, por sua vez, usou retórica semelhante, descrevendo o acordo como nulo e sem efeito, com a imprensa turca incentivando essas afirmações.

Mesmo considerando que o acordo contribuiu para o aumento da presença grega no Mediterrâneo oriental, os termos e especificações do mesmo levantam algumas preocupações substanciais. A preocupação principal se refere ao complexo da ilha de Kastelorizo, uma das razões da discórdia entre a Grécia e o Egito. Mas, surpreendentemente, Atenas decidiu, ao mesmo tempo, deixar de fora uma parte de Rodes, importante ilha grega a oeste, nas proximidades da Turquia. Com isso, essa medida abriria espaço para novas negociações no futuro entre Grécia, Egito, Chipre e, idealmente, a Turquia.

Desta forma, o governo grego evitou de considerar a área como fazendo parte do acordo com o Egito, área considerada principal ponto de atrito com Ancara, indicando que existe a intenção de cooperar e trabalhar sobre um possível acordo bilateral com o país vizinho.

Em potenciais negociações futuras, este último ato de Atenas forneceu a Ancara um cartão de negociação adicional, uma vez que deixar partes das ilhas fora do acordo de ZEE, na verdade, se alinha com a alegação turca de que as ilhas têm direitos limitados na ZEE.

Edoardo Pacelli

Jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália), é editor da revista Italiamiga.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui