Renda de pessoas negras equivale a 58% da de brancas, mostra estudo

Análise é do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais; 70,7% das mulheres pretas já sofreram racismo no trabalho

120
Carteira de trabalho (Foto: Wilson Dias/ABr)
Carteira de trabalho (Foto: Wilson Dias/ABr)

A renda do trabalho principal de pessoas negras correspondia, em média, a 58,3% da renda das pessoas brancas no período de 2012 a 2023. O dado é de um levantamento divulgado nesta sexta-feira pelo Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (Cedra).

O estudo baseia-se em informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com os dados, a renda média do trabalho principal das pessoas negras em 2012 era de R$ 1.049,44; e a das brancas, R$ 1.816,28. Já em 2023, essa diferença passou a ser de R$ 2.199,04 (negras) e R$ 3.729,69 (brancas). O resultado mostra que houve uma redução de 1,2 ponto percentual na desigualdade entre os grupos, no período.

O levantamento mostra também que, no período de análise, a renda média do trabalho doméstico realizado pelas mulheres negras correspondia a 86,1% da renda das brancas. Em 2012, essa renda equivalia a R$ 503,23 para negras e R$ 576, para brancas.

Espaço Publicitáriocnseg

Após 10 anos, em 2022, as mulheres negras recebiam, em média, R$ 978,35 e as brancas, R$ 1.184,57. Na comparação com os dados de 2012, a desigualdade entre esses grupos aumentou 4,8 pontos percentuais.

Em 2012, as pessoas negras representavam 53% da população e ocupavam 31,5% do total dos cargos gerenciais. Já em 2023, esses percentuais passaram para 56,5% da população e 33,7% dos cargos gerenciais, o que mostra que houve aumento de 3,5 pontos percentuais (p.p.) na proporção de negros na população, mas de apenas 2,2 p.p. nos cargos gerenciais.

Em relação às mulheres, a proporção de brancas em cargos gerenciais aumentou 1,5 ponto percentual de 2012 a 2023, ainda que tenha diminuído de 24,1% para 22% a participação na população.

Já a proporção de negras aumentou tanto nos cargos gerenciais (1,3 p.p.) quanto na população (26,5% em 2012 para 28,5% em 2023), mostrando que houve aumento na desigualdade no período de análise.

Em relação aos empregadores, a proporção de homens brancos em 2012 era quase cinco vezes maior do que a de mulheres negras, em média. Em 2023, passou a ser quatro vezes maior, mostrando que, apesar da diminuição da distância, os homens brancos continuam predominando na condição de empregadores. Já a taxa de desocupação das mulheres negras em 2012 era 6,1 pontos percentuais (pp) acima da dos homens brancos. Essa diferença aumentou em 2017 para 8,9 p.p. e, depois, caiu para 7,4 p.p., em 2023.

Já a pesquisa “Empreendedoras Negras”, coordenada pelo Laboratório de Gênero e Empreendedorismo (LAB) do Instituto RME, com apoio da Rede Mulher Empreendedora, traça o perfil e destaca os desafios enfrentados por mulheres pretas e pardas que empreendem no Brasil. Para 71,2% das empreendedoras pretas, o racismo se manifesta ainda mais cruel contra mulheres de pele escura, percepção compartilhada por 60,8% das mulheres pardas.

Alguns dados da pesquisa “Empreendedoras e Seus Negócios 2024”, também realizada pelo IRME e RME, se repetem neste novo estudo. Um exemplo é a maternidade: 73% das empreendedoras são mães. No entanto, o número de mães solo aumentou significativamente. Enquanto na pesquisa anterior 37% delas se identificavam dessa forma, agora o índice supera 48% (50,2% das empreendedoras pretas e 46,9% das pardas são mães solo).

No que se refere à idade, 64% das empreendedoras têm entre 30 e 49 anos. Sobre escolaridade, 62,9% das empreendedoras pretas possuem ensino superior, contra 52,5% das pardas.

Em relação ao faturamento, 47,6% das empreendedoras ganham até R$ 2 mil por mês, sendo 44,6% delas pretas e 51,5% pardas. Já as que faturam acima desse valor representam 37%, com 42,3% das pretas e 30,5% das pardas neste grupo.

A pesquisa revela que a liberdade para se fazer o que gosta é a principal motivação para o empreendedorismo, seguido por aumentar a renda, independência financeira e flexibilidade de horário. Além disso, 66,6% das empreendedoras afirmam que coletivos e organizações são os principais agentes de apoio e promoção de iniciativas para o empreendedorismo feminino.

Embora o ranking dos desafios seja semelhante entre mulheres pretas e pardas, ganha destaque o acesso a crédito para mulheres pretas, assim como aparece mais a discriminação de cor/raça entre elas. Chama a atenção que o equilíbrio entre vida pessoal e profissional aparece em terceiro lugar para mulheres pardas.

A sobrecarga com trabalho doméstico e familiar é a principal dificuldade no cotidiano, seguida pela falta de crédito e pelo racismo e discriminação. A pesquisa também aponta que 70,7% das mulheres pretas já sofreram discriminação racial no trabalho, assim como 52,8% das pardas.

A pesquisa foi coordenada pelo LAB e executada pela Ideafix, que utilizou metodologia quantitativa, com base em 715 respondentes. A coleta de dados ocorreu entre os dias 14 e 18 de outubro de 2024, utilizando autopreenchimento online.

Com informações da Agência Brasil

Leia também:

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui