Renda, fintechs e dívida privada impulsionam crescimento do crédito

Estudo do FMI tenta explicar crescimento do crédito apesar de Brasil ter as mais altas taxas de juros do planeta.

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Prédio do FMI (Foto: Agência Xinhua)
Prédio do FMI (Foto: Agência Xinhua)

A taxa básica de juros no Brasil (Selic), atualmente em 15%, é uma das mais altas entre as grandes economias. Mesmo assim, em 2024, o crescimento do crédito bancário atingiu 11,5%. e a emissão de títulos privados subiu 30%. Texto de Daniel Leigh, chefe da missão do FMI para o Brasil, e de Swarnali A. Hannan e Rui Xu, ambos do Fundo Monetário Internacional, tenta entender como o aumento ocorreu.

“Essa expansão do crédito em meio a juros altos beneficiou muitas pessoas, famílias e empresas, mas também levantou dúvidas sobre a eficácia da própria política monetária. Em outras palavras, por que os esforços do banco central para desaquecer a economia, tornando financiamentos mais caros, parecem não estar funcionando?”, questionam os três autores.

Mercado de títulos no Brasil é um dos fatores do crescimento do crédito

Gráfico do FMI sobre mercado de títulos no Brasil

O crescimento do crédito nos últimos anos se deveu tanto a fatores cíclicos como a mudanças estruturais. “Do lado cíclico, a economia brasileira cresceu mais rápido do que o previsto, com o baixo desemprego e o aumento da renda alimentando uma maior demanda por crédito. Além disso, o Brasil vem fazendo mudanças estruturais significativas que aumentaram a inclusão financeira e a disponibilidade de crédito.”

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O FMI destaca a rápida expansão das fintechs. “Em 2024, os bancos digitais e outras instituições financeiras digitais representavam ¼ do mercado de cartões de crédito e mais de 10% dos empréstimos pessoais sem desconto em folha de pagamento. O aumento da concorrência reduziu a concentração do setor bancário e baixou as taxas de empréstimo médias dos bancos já estabelecidos”, analisa o estudo.

Outro destaque foi o financiamento das empresas por meio de emissão de dívida no mercado, que triplicou na última década em relação ao PIB, impulsionado por isenções de impostos para debêntures. “O forte crescimento da renda e o sucesso do país em ampliar a inclusão financeira impulsionaram tanto a demanda como a oferta de crédito.”

Juros no Brasil x outros países

Gráfico do FMI compara juros no Brasil com outros paísess

O artigo do FMI não se furta a defender a política monetária ortodoxa e se esforça para mostrar que o aperto dos juros continua a funcionar. “Na verdade, dados recentes indicam que o crescimento do crédito está começando a desacelerar.”

Um dos pontos levantados pelo FMI é sobre os empréstimos direcionados pelo governo. Uma ultrapassada tese afirma que créditos específicos, com juros abaixo das elevadas taxas presentes no mercado, leva a aumentos maiores da Selic.

“O volume de novos empréstimos vem caindo desde abril, o que é mais um sinal de que a medida [elevação dos juros] está surtindo efeito”, alegam Leigh, Hannan e Xu. “De modo geral, nosso estudo mostra que a preocupação com a falta de eficácia da política monetária revelou-se em grande parte injustificadas e que a transmissão da política monetária no Brasil continua ativa.”

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