Risco de doenças agrava crise humanitária na Faixa de Gaza

OMS alertou para possível surto de pólio na região e pediu cessar-fogo na guerra entre Israel e Hamas para fazer campanha de vacinação

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Campo de refugiados de Maghazi, em Gaza (Foto: Agência Xinhua)
Campo de refugiados de Maghazi, em Gaza (Foto: Agência Xinhua)

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para o risco de um surto de poliomielite na região da Faixa de Gaza, que enfrenta neste momento uma guerra entre o Estado de Israel e o grupo palestino Hamas, atual controlador do território. A agência das Nações Unidas informou em 30 de julho, que suas equipes humanitárias estão “em uma corrida contra o tempo” para entrar na região com mais de 1 milhão de vacinas contra a doença, que provoca paralisia nos membros e é transmitida através do contato com o esgoto ou água contaminada. O vírus da pólio já foi encontrado em amostras de esgoto coletadas em cidades e acampamentos do enclave, onde vivem mais de 2,4 milhões de pessoas.

Durante o anúncio, feito em Genebra, o porta-voz da OMS, Christian Lindmeier, apelou para um cessar-fogo imediato em Gaza, que permita a entrada das vacinas e a realização de uma campanha de vacinação em massa. “É preciso impedir que as vacinas fiquem estacionadas, assim como muitos outros caminhões, do outro lado da fronteira”, exortou ele. Já o porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), James Elder, atribuiu o problema “ao deslocamento em massa, à destruição da infraestrutura de saúde e ao ambiente operacional terrivelmente inseguro”.

Toda a Faixa de Gaza está sob o cerco das tropas israelenses desde o dia 7 de outubro de 2023, quando terroristas ligados ao Hamas invadiram assentamentos judeus e cidades da fronteira, deixando mais de 1.200 mortos e capturando mais de 250 reféns. O ataque inédito levou Israel a decretar “estado de guerra” e a invadir o enclave, com os objetivos de “destruir” a organização e resgatar os reféns. Uma das estratégias foi o fechamento dos acessos ao território palestino, o que dificultou a chegada da ajuda humanitária enviada por outros países, incluindo alimentos e medicamentos.

“Vale lembrar que existe um bloqueio de bens e serviços imposto a décadas pelos países vizinhos dos territórios palestinos (Faixa de Gaza e Cisjordânia) que, além de colocar as pessoas desses territórios em situação de insegurança e vulnerabilidade, acaba por favorecer a atuação do próprio grupo Hamas”, lembra o professor Dimas Duarte Júnior, professor do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos da Universidade Tiradentes (Unit), destacando que o cerco afeta diretamente toda a infraestrutura necessária para as necessidades básicas de subsistência.

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“Em situações de conflitos armados como o que ocorre atualmente entre Israel e Palestina, há um estado deliberado de violência que sitia pessoas ou populações inteiras ou as obriga a migrar involuntariamente para preservar suas vidas. Há privação do acesso aos produtos de primeira necessidade, como água potável, alimentação, combustíveis, eletricidade, medicamentos e até mesmo de ajuda humanitária. Quem vive da pesca, não tem acesso ao mar e quem vive da agricultura, não tem acesso à terra, pois ou elas foram destruídas ou as pessoas temem por suas próprias vidas se a elas regressarem. Os que não morreram ainda são condenados a um futuro em que as condições de subsistência inexistem”, acrescenta o professor.

Apesar da gravidade do momento atual, esta situação não é nova para as pessoas que vivem na região, principalmente para os palestinos. Dados da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (Unrwa) mostram que, hoje, existem mais de 14 milhões de refugiados palestinos espalhados pelo mundo, sendo 44% em países árabes, 22% na Cisjordânia, 15% na Faixa de Gaza, 12% em Israel e somente 5% em outros países.

A situação atual reforça as acusações de crime de guerra contra os dois lados do conflito. Ativistas e ONGs internacionais que atuam nos territórios da Palestina denunciam que tanto Israel quanto o Hamas estão incorrendo nos crimes de guerra previstos pelas Convenções de Genebra e pelo Tribunal Penal Internacional (TPI). Isso inclui desde crimes hediondos usados como tática de guerra, como estupros, homicídios e torturas, e vão até os bloqueios e ataques contra equipes de ajuda humanitária.

Dimas Júnior explica que os ataques indistintos contra civis “se caracterizam como uma forma de punição coletiva” e violam claramente as regras do direito humanitário, o que também se configura como crime de guerra. “Por mais que um conflito armado seja moldado pela ação e reação das forças envolvidas, as ações de socorro aos civis, voltadas a minorar os efeitos catastróficos que toda guerra causa, é um direito reconhecido pelo direito humanitário. A sua negativa ou a imposição de obstáculos para a sua efetivação, em si, já constitui uma violação do direito internacional”, completa Dimas.

Ontem, o Exército israelense anunciou ter recuperado os corpos de seis reféns mortos na Faixa de Gaza, numa operação conjunta com os serviços secretos internos. Os corpos são de Alex Dancyg, Chaim Peri, Yagev Buchshtab, Yoram Metzger e Nadav Popplewell, todos já anunciados como mortos pelo Exército nos últimos meses, e Avraham Munder, cuja morte foi anunciada, entretanto, pelo kibutz Nir Oz.

Um antigo refém disse à agência de notícias France Presse que os seis homens estavam detidos juntos num túnel, depois de terem sido raptados pelo Hamas em 7 de outubro.

A Cisjordânia ocupada vive a maior onda de violência desde a Segunda Intifada (2000-2005) e este ano pelo menos 293 palestinos foram mortos por fogo israelense, a maioria milicianos, de acordo com a contagem da agência de notícias EFE. O ano passado foi o mais mortífero em duas décadas, com mais de 520 mortos.

O Exército israelense intensificou as frequentes incursões na Cisjordânia, depois do ataque do Hamas de 7 de outubro e, desde então, cerca de 636 palestinianos foram mortos por tropas e uma dúzia por colonos.

Com informações da Agência Brasil, citando a Lusa

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