Sinais mais disseminados de retomada da economia são esperados apenas a partir do segundo semestre, de acordo com o Boletim Macro de janeiro do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre). Os pesquisadores esperam um crescimento de 3,5% para o PIB em 2021, herança do resultado de 2020 (carregamento estatístico) de 2,5%.
Em sua análise, a coordenadora do Boletim, Silvia Matos, e o coordenador da Economia Aplicada, Armando Castelar, apontam que essa estimativa ainda está condicionada ao ritmo da vacinação, bem como à evolução do contágio no país que, apontam, ainda geram preocupação e se apresentam como um risco negativo para as projeções.
No mundo, o quadro atual é também difícil, mas muito heterogêneo entre os países. Para o Ibre, 2021 será marcado, a partir de meados do ano, por uma rápida retomada das economias dos países desenvolvidos, com destaque para o setor serviços, que deve se recuperar à medida que a vacinação avance.
“Em particular nos EUA, apesar da intensidade da pandemia, o crescimento econômico permanece resiliente. Além disso, espera-se que o Governo Joe Biden aprove um forte estímulo fiscal, aproveitando o controle democrata do Senado. O presidente do Fed também enfatizou a manutenção da política de estímulos monetários. Com isso, o crescimento dos EUA deve ser mantido em ritmo elevado”, projeta o Boletim.
Na Europa, as medidas de distanciamento social devem reduzir o crescimento no primeiro trimestre. Se a velocidade de vacinação não aumentar, 2021 ainda pode se encerrar com recuperação incompleta da atividade, em que pese a situação melhorar na segunda metade do ano.
A economia chinesa continua surpreendendo positivamente, destaca o Boletim. O PIB da China acelerou no quarto trimestre, fechando 2020 com crescimento de 2,3%, sendo a única grande economia sem retração econômica no ano. A previsão para 2021 é de um expressivo crescimento de 9,2%.
Emprego e inflação
Uma das preocupações abordadas pela publicação em relação ao Brasil é o mercado de trabalho. As sondagens do Ibre apontam um recuo importante da expectativa do consumidor, receoso com sua situação, provocando o maior descolamento entre o índice de confiança dos consumidores e das empresas desde fevereiro de 2010. Mostram ainda uma tendência de empresas a serem cautelosas em relação a decisões de investimento e contratações.
Daniel Duque, pesquisador do Ibre, mostra que a evolução da população ocupada, que pela Pnad Contínua, do IBGE, registra aumento acelerado em outubro, quando observada numa série mensalizada aponta uma redução gradual dessa expansão, puxada pelo setor informal. Já quanto ao saldo do Caged, Duque indica uma queda para dezembro estimada em 188 mil postos, depois do saldo positivo de novembro, de 414 mil vagas.
Outro tema que deverá concentrar as atenções pelo decorrer do ano é a tendência de curto prazo da inflação e os rumos da política monetária, com a difícil decisão, como aponta José Julio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetário do FGV Ibre, sobre quando elevar a taxa de juros.
Em sua análise, ele recorda que as estimativas do Banco Central já apontam uma inflação projetada a níveis bem próximos da meta, o que levou o BC a retirar, na última reunião do Copom, a sinalização de manter os juros estáveis feita em agosto do ano passado.
Senna ressalta a importância dada pelo banco às projeções de inflação para 2022, e que estas tiveram peso importante na decisão do BC. Ele também destacou a advertência de que uma retirada da sinalização não significaria um aumento imediato da Selic. Para Senna, o fraco ritmo da economia previsto para o início do ano deverá levar o Banco Central a ser cauteloso, “evitando movimentos precipitados de alta de Selic”.
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