A Rússia e os Estados Unidos concordaram em garantir a implementação da Iniciativa do Mar Negro, para garantir uma navegação segura, eliminar o uso da força e impedir o uso de embarcações comerciais para fins militares no Mar Negro, desde que as sanções ao comércio agrícola e de alimentos da Rússia sejam aliviadas, disse o Kremlin nesta terça-feira.
Segundo a versão russa, os Estados Unidos ajudarão a restaurar o acesso da Rússia aos mercados globais para exportações agrícolas e de fertilizantes, reduzindo os custos de seguro de transporte e melhorando o acesso a portos e sistemas de pagamento internacionais.
O acordo entrará em vigor após uma série de sanções e restrições relacionadas ao seu comércio agrícola e alimentício terem sido suspensas, observou o Kremlin. A medida incluiria a suspensão de sanções ocidentais ao Banco Agrícola Russo, que atende empresas agrícolas, e a reconexão do banco ao sistema financeiro internacional de mensagens Swift.
A declaração do Kremlin veio após negociações separadas de nível técnico entre as delegações dos EUA e da Ucrânia, bem como entre as delegações dos EUA e da Rússia, realizadas de domingo até esta terça-feira em Riad, Arábia Saudita.
A versão do Kremlin é mais avançada do que a da Casa Branca, que disse que os Estados Unidos chegaram a um acordo com a Rússia e a Ucrânia sobre o Mar Negro. Entre os resultados das negociações EUA–Rússia, os Estados Unidos ajudarão a restaurar o acesso da Rússia ao mercado mundial para exportações agrícolas e de fertilizantes, reduzirão os custos de seguro marítimo e aumentarão o acesso a portos e sistemas de pagamento para tais transações, de acordo com a declaração da Casa Branca.
Os Estados Unidos continuarão facilitando as negociações entre a Rússia e a Ucrânia para alcançar uma resolução pacífica, em linha com os acordos feitos em Riad, prosseguiram os EUA. As negociações EUA–Rússia e EUA–Ucrânia também concordaram com esforços para alcançar uma “paz duradoura”.
Nas negociações entre EUA e Ucrânia, ambos os lados reafirmaram o compromisso dos Estados Unidos em ajudar a alcançar a troca de prisioneiros de guerra, a libertação de detidos civis e o retorno de crianças ucranianas transferidas à força.
EUA desistira de isolar a Rússia
Segundo a pesquisadora de política externa russa e doutoranda em ciência política na Universidade de São Paulo (USP) Giovana Branco, a discussão do fim das sanções trata-se de um sinal claro de que os Estados Unidos não estão mais dispostos a lidar com o conflito e se sentem cansados de tentar isolar a Rússia do mundo ocidental. “É um marco importantíssimo porque uma das principais ações dos países ocidentais foi justamente a exclusão da Rússia, por exemplo, do Swift”, declarou à agência russa Sputnik Brasil.
Para os Estados Unidos, é estratégico não só se reaproximar da Rússia, mas também reconectá-la ao Swift, concorda Getúlio Neto, Getúlio Alves de Almeida Neto, integrante do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (Cire) e do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (Gedes), visto que a tentativa de isolar a Rússia “catapultou a aproximação entre Moscou e Pequim”, afirmou à Sputnik.
Restará ver como a União Europeia decidirá prosseguir. Acostumados a seguir a deixa norte-americana, os aliados europeus podem se mostrar mais reticentes com essa retomada, explicita a pesquisadora da USP.
Usina nuclear de Zaporizhzhia fora do acordo
Transferir o controle da Usina Nuclear de Zaporizhzhia (ZNPP) para a Ucrânia ou qualquer outro país é impossível, disse o Ministério das Relações Exteriores da Rússia nesta terça-feira. O Ministério disse em uma declaração que a operação conjunta da usina com quaisquer Estados estrangeiros também é inaceitável, acrescentando que não há tais precedentes globalmente e citando preocupações de segurança. Ele também descartou a possibilidade de a usina ser administrada por quaisquer organizações internacionais, que ele diz não ter credenciais e competência relevantes.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse na semana passada que discutiu o envolvimento dos EUA na restauração da usina nuclear de Zaporizhzhia durante um telefonema recente com o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmando que Kiev está aberta à participação dos EUA na restauração da usina. De acordo com a Casa Branca, Trump expressou a disposição dos EUA de ajudar na administração das usinas nucleares da Ucrânia, citando a experiência americana em eletricidade e serviços públicos.
Com informações da Agência Xinhua e da Sputnik Brasil
Matéria atualizada às 16h27 para incluir declarações de especialistas brasileiros