Safra de 2024 deve ficar em 299,6 milhões de toneladas, 5,0% menor que em 2023

Período de chuvas no início do ano ajudou na recuperação de 0,9% na produção de soja observada em abril

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Colheita de grãos (Foto: Wenderson Araujo/CNA/Trilux)
Colheita de grãos (Foto: Wenderson Araujo/CNA/Trilux)

A safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas deve ser de 299,6 milhões de toneladas em 2024, segundo a estimativa de abril do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgada hoje pelo IBGE. Isso representa uma produção 5,0% menor do que a obtida no ano passado (315,4 milhões de toneladas). Na comparação com a estimativa de março, houve um aumento de 0,4% ou de 1,2 milhão de toneladas.

A produção de soja, principal commodity do país, cresceu 0,9% na comparação com o previsto em março e deve chegar a 148,3 milhões de toneladas. Essa quantidade equivale a uma retração de 2,4% na comparação com o total produzido no ano passado.

Os efeitos causados pelo El Niño, caracterizado pelo excesso de chuvas nos estados da Região Sul e falta de chuvas regulares com elevadas temperaturas no Centro-Norte do Brasil, trouxeram, como consequência, uma limitação no potencial produtivo da leguminosa em boa parte das unidades da federação produtoras.

O destaque positivo ficou por conta do Rio Grande do Sul, como pontua o gerente da pesquisa. “Quando falamos da soja, mais especificamente do Rio Grande do Sul, há uma recuperação neste início do ano após um período de seca que afetou três safras. Já no verão de 2023 para 2024, choveu bastante, causando um aumento na produção da soja e do milho primeira safra. Portanto, a produção da soja está se recuperando quando olhamos para a estimativa feita em abril, analisando essa primeira parte do ano”, avalia o gerente do LSPA, Carlos Barradas.

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A produção do milho, quando consideradas as duas safras, caiu 0,3% na comparação com o estimado no mês anterior e deve somar 115,8 milhões de toneladas em 2024, ficando 11,7% menor do que o produzido em 2023, uma queda de 15 milhões de toneladas.

“A produção do milho no Brasil apresentou queda principalmente por conta do preço, que caiu muito e desestimulou seu plantio na segunda safra. Importante destacar também que o milho 1ª safra enfrentou problemas climáticos em alguns estados com poucas chuvas e muito calor. Uma das consequências, como já vínhamos destacando em outras divulgações, é que alguns produtores deixaram de lado essa produção para plantar algodão, o que também resultou em recordes de produção de algodão”, lembra o pesquisador do IBGE.

Já a safra do arroz deve crescer 2,0% na comparação com o produzido do ano passado. A estimativa foi 0,3% maior em relação ao previsto em março, alcançando 10,5 milhões de toneladas. Juntos, a soja, o milho e o arroz respondem por 91,6% da produção de grãos no país.

“Esse crescimento deve-se, principalmente, ao aumento na área plantada, que subiu 3,7%. O arroz é plantando durante a safra de verão e sofre uma concorrência muito grande com a soja, principal cultura brasileira. Como os preços do arroz subiram nos últimos meses, houve também um aumento de área plantada em detrimento da soja em algumas localidades. Isso ajuda a explicar o crescimento de 2,0% na produção do arroz em relação ao ano passado” destaca Barradas.

A estimativa de abril para a produção do sorgo foi de 4,0 milhões de toneladas, aumento de 6,6% com relação ao previsto em março e redução de 6,8% em relação ao obtido na safra 2023.

“Uma característica importante do sorgo é que ele é mais ‘rústico’ precisa de menos água. Portanto, quando o produtor perde a janela de plantio do milho de segunda safra, ele acaba plantando o sorgo, pois esse grão suporta mais a falta de umidade. O aumento em relação à estimativa de março pode ter sido dado por alguns produtores, em algumas regiões, terem perdido a janela de plantio do milho de segunda safra”, diz o gerente da pesquisa.

A estimativa da produção de feijão para 2024, considerando-se as três safras, cresceu 0,1% em relação ao mês anterior e deve alcançar 3,3 milhões de toneladas, um aumento de 11,1% em relação a 2023.

“É interessante observar que a produção do feijão atende tranquilamente o consumo brasileiro. O destaque vai para a segunda safra, que já é a mais importante do Brasil e está em 1,6 milhão de toneladas, com o estado do Paraná sendo responsável por quase metade desse total, com 49,8% da produção”, salienta o gerente do LSPA.

Na distribuição da produção pelas UFs, o Mato Grosso lidera como o maior produtor nacional de grãos, com participação de 28,0%, seguido pelo Paraná (13,4%), Rio Grande do Sul (13,3%), Goiás (10,6%), Mato Grosso do Sul (8,3%) e Minas Gerais (5,6%), que, somados, representaram 79,2% do total. Regionalmente, o Centro-Oeste (47,2%) lidera esse ranking, enquanto as demais regiões têm as seguintes participações: Sul (28,9%), Sudeste (9,2%), Nordeste (8,7%) e Norte (6,0%).

As principais variações absolutas positivas nas estimativas da produção, em relação ao mês anterior, ocorreram em Goiás (1.279.774 T) e no Pará (998.575 T). As variações negativas ocorreram no Paraná (-801 mil), em São Paulo (-442.380 T) e em Minas Gerais (-96.291 T).

Já segundo o monitoramento do Serviço Geológico do Brasil (SGB), o período de estiagem começou no Pantanal e o cenário é de alerta para a possibilidade de uma seca severa nos próximos meses na Bacia do Rio Paraguai. No município de Ladário (MS), onde está localizada uma estação de referência e com a série histórica mais longa, o nível do rio está na marca de 1,44 metro, segundo dados dessa segunda-feira.

A cota está abaixo da média histórica e pode atingir níveis críticos entre setembro e outubro, quando as chuvas, normalmente, retornam na região, que abrange Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Essa estação chuvosa – de outubro de 2023 a abril de 2024 – foi caracterizada por um déficit no volume de chuvas, que prejudicou a recuperação da bacia. Neste mês, era esperado em torno de 57 mm para a região e foi registrado volume inferior a 3 mm. Diante desse cenário, as projeções mostram que Ladário pode atingir, no pico da estiagem, uma cota que varie entre o que ocorreu em 2020, quando foi registrado -32 cm, e o cenário mais grave observado em 2021, época em que o rio chegou a -61 cm.

“As projeções indicam que a mínima anual pode ocorrer em outubro, com cota negativa. Se chover dentro da média, teremos cenário semelhante ao ano de 2020. Caso as chuvas fiquem abaixo da normalidade, o cenário será mais grave e similar aos anos em que enfrentamos as piores secas da história do Pantanal: 1964, 1971 e 2021”, afirmou o pesquisador em Geociências do SGB Marcus Suassuna.

A situação tem impactos significativos no ecossistema, nas comunidades ribeirinhas, nos estados e em todo o Brasil, com repercussão também em outros países vizinhos, em especial na Bolívia e no Paraguai, que são dependentes da hidrovia Paraná-Paraguai para o comércio exterior.

Além disso, a seca severa provoca dificuldades no abastecimento de água, limitações na navegação, ampliação dos riscos de incêndios florestais e um potencial aumento do tráfego em rodovias, que danifica as estradas e eleva os riscos de mortandade de animais silvestres por atropelamento.

Com informações da Agência de Notícias IBGE e da Agência Brasil

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