O saldo total da carteira de crédito deve crescer 1,1% em junho, segundo a Pesquisa Especial de Crédito da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Se o resultado se confirmar, o ritmo de expansão anual da carteira deve acelerar pelo quinto mês consecutivo, fechando o primeiro semestre com um ganho de tração significativo, aumentando de 7,7% em janeiro para 9,9% em junho. O resultado sinaliza a continuidade do processo de retomada do crédito no fechamento do primeiro semestre, devido ao ciclo de flexibilização monetária observado no período.
O destaque do mês deverá ser o crédito destinado às empresas, com estimativa de avanço de 1,8%. A carteira livre deve crescer 2%, impulsionada pela sazonalidade positiva das linhas de descontos/antecipação de recebíveis e pelo aumento das linhas externas, impactadas pela depreciação do real.
Já a carteira direcionada, com expectativa de alta de 1,4%, deve ser impulsionada pelos programas públicos, tanto em nível nacional, como o Desenrola Pessoa Jurídica, quanto pelas medidas de auxílio direcionadas ao Rio Grande do Sul. Com o bom resultado, o ritmo de expansão anual da carteira Pessoa Jurídica deve acelerar de 6,6% para 7,7%.
As projeções são feitas com base em dados consolidados dos principais bancos do país, que representam, a depender da linha de crédito, de 41% a 88% do saldo total do Sistema Financeiro Nacional. O levantamento da Febraban é divulgado mensalmente como uma prévia dos dados oficiais, que estão programados para serem divulgados no dia 26 de julho, pelo Banco Central nas Estatísticas Monetárias e de Crédito.
De acordo com a Pesquisa Especial de Crédito, o saldo destinado às famílias deve subir 0,6% em junho, com alta similar entre as carteiras com recursos livres (0,6%) e direcionados (0,7%). De um lado, os financiamentos para aquisição de veículos devem seguir mostrando um bom dinamismo; de outro, as linhas mais arriscadas (rotativas) devem mostrar números mais fracos (reflexo de um possível aumento da cautela por parte das instituições financeiras). Já a carteira direcionada deve crescer 0,7%. Em 12 meses, a carteira Pessoa Física deve acelerar de 11,0% para 11,6%, liderada pela aceleração da carteira livre (de 8,6% para 9,9%), fato que tem contribuído, junto com o avanço da massa salarial, para o avanço do consumo das famílias.
“Os números de junho devem manter o quadro apresentado pelo mercado de crédito ao longo do primeiro semestre, com aceleração do crescimento do saldo e das concessões, num ambiente de juros e inadimplência menores”, avalia Rubens Sardenberg, diretor de Economia, Regulação Prudencial e Riscos da Febraban.
Ainda segundo ele, “adicionalmente, o resultado do mês também deve apontar os primeiros efeitos das medidas tomadas para ajudar na reconstrução do Rio Grande do Sul. A dúvida é se o mercado de crédito manterá este ritmo no segundo semestre, diante do aumento das incertezas econômicas”.
As concessões de crédito devem mostrar pequena alta de 0,1% em junho. Ajustando pelo número de dias úteis, o resultado aponta para um crescimento mais expressivo, de 5,1%.
De acordo com o levantamento, o maior volume no mês (ajustado por dias úteis) deve ser puxado pelas operações destinadas às empresas, com forte alta tanto nas operações com recursos livres quanto naquelas com recursos direcionados. As concessões destinadas às famílias também devem subir ligeiramente (0,1%).
Na comparação com junho de 2023 (que elimina fatores sazonais), o resultado indica uma alta de 13,8% (média por dia útil) no volume total de concessões, com alta disseminada entre os segmentos (Pessoa Física/Pessoa Jurídica e Livre/Direcionado). No acumulado em 12 meses, o volume total de concessões continuará subindo, passando de 8,5% para 8,9%.
Já o estudo “Da cédula ao Drex: a evolução do dinheiro em 30 anos”, produzido pelo Mercado Pago em parceria com o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD), mostra que por mais que 78% da população afirme ter conta em algum banco, um em cada três brasileiros ainda não se sente devidamente incluído financeiramente, sendo a falta de acesso a crédito um dos principais motivos (73%) para que exista essa percepção.
Para Igor Castroviejo, diretor comercial da plataforma 1datapipe o fato de mais de 38% da população trabalhar informalmente, de acordo com um levantamento da Statista, o que dificulta a detecção de capacidade de pagamento por parte das autarquias.
“Além disso, um estudo do Instituto Locomotiva aponta que são mais de 4,6 milhões de brasileiros sem conta bancária e um outro material, chamado de Beyond Borders 2022/2023, apontou que apenas 40% dos adultos do país possuem um cartão de crédito. Com isso, são milhões de brasileiros invisíveis aos olhos dessas avaliações e, consequentemente, sem acesso a algo tão importante como o crédito”, pontua Igor Castroviejo.