Um balanço das realizações na área das hastas públicas em 2007, no Rio de Janeiro, apresenta saldo positivo e faz crer que em 2008 vai crescer bastante o movimento da leiloaria deste estado. Se for confirmada a premissa de maior agilidade na atuação do Judiciário, encurtando o tempo de tramitação dos processos que são finalizados através dos leilões, no ano que chega vai ter muito trabalho para todos os que – antigos na lida ou iniciantes – dedicam seu tempo e seus esforços ao mercado das apregoações.
Sem grandes destaques, mas num ritmo equilibrado e constante, a leiloaria do Rio mostrou sua eficiência como auxiliar da Justiça e não só: também ofereceu bons momentos de convívio e oportunidades para aquisição aos apreciadores de obras de arte, peças antigas e outros tipos de coisas úteis, colecionáveis, objetos de pesquisa – como livros, documentos, fotos etc.
E como acontece todos os anos em todos os setores de atividade, alguns foram mais bem sucedidos que outros, até porque nem todos têm os mesmos objetivos, ambições e metas. Mas, sem dúvida, a leiloaria como um todo fecha o ano de 2007 com saldo positivo e excelentes perspectivas para 2008. Embora o calendário não registre isto, o ano sempre começa de verdade depois do Carnaval, porque o assunto agora é samba, fantasia e como se sairá a Escola de Samba da nossa preferência no desfile da Marquês de Sapucaí. Adeus, 2007. Venha com muita Paz e Amor, 2008!…
Recordar é bom
Primeiro leiloeiro a ser entrevistado para uma página de jornal inteiramente dedicada aos pregões, em março de 1969, Affonso Nunes Velásquez declarou que não lia nada: nem livros, nem revistas e “nem jornais, porque não perco tempo com isso” Além de ser, na época, o mais conhecido e procurado apregoador do Rio de Janeiro, Affonso Nunes alimentava o sonho de ser político e gastou muito dinheiro para ser vereador. Mas, quando resolveu ser deputado, contando com os préstimos do mesmo vereador oportunista que o ajudara na primeira empreitada, teve uma amarga desilusão: o colega espertinho pegou a verba alta do leiloeiro mas fez campanha mesmo para outro candidato, que se elegeu.
Também na relação dos primeiros a virar notícia naquela página, que foi criada por iniciativa de Wilson de Oliveira e Maurílio Ferreira, que estavam à frente da redação, com o concurso de Mario Vale, Otávio Gomes Giannini era o oposto de seu colega Affonso. Brincalhão, grande contador de anedotas, bem informado sobre todos os assuntos e apreciador de música (seu avô italiano era maestro), Giannini tinha uma atração a que não resistia pelas mulheres e não perdia ocasião para dizer galanteios àquelas que ficavam ao alcance de sua voz.
Era ótimo parceiro para intermináveis almoços ou jantares (com bebidas, é claro!) e além de fazer leilões – inclusive substituindo colegas – pintava paisagens e marinhas cheias de luz. Na condição de artista, participava de salões, saía com outros pintores para curtir a natureza e até posou para Aurélio D”Alincourt, que colocou seu retrato numa grande exposição. Era uma figuraça!
Outro que se destacava naquela época (anos 60/70), Horacio Ernani Thompson de Mello era conhecido e elogiado pela elegância e requinte não só em relação a si próprio, como pelo nível de seus leilões. Exposição promovida por ele era acontecimento social de repercussão certa: colunáveis, intelectuais, políticos e empresários de sucesso circulavam pelos salões com desenvoltura, de olho nas ricas peças que desfilavam sob o seu comando. O que foi Ernani III tinha um charme que agradava muito às mulheres, o que presumidamente incomodava sua esposa. Aconteceu uma vez que a então famosa atriz francesa Jeanne Moreau, de visita ao Rio, foi levada a uma exposição dele na Praia do Flamengo, onde existia o primeiro Palácio dos Leilões. O fotógrafo de plantão não perdeu a oportunidade de bancar o paparazzo (ainda não se falava disso por aqui), clicando os dois. Esta foto não foi publicada a pedido do próprio leiloeiro.
História de um quadro
Um dos mais fortes apregoadores da área judicial por longo tempo, Paulo Brame também teve marcante atuação como leiloeiro de obras de arte e antigüidades. Nos seus concorridos leilões realizados na Rua João de Barros, no Leblon, nunca faltaram pinturas do amazonense Manoel Santiago, cujos trabalhos impressionam pelas formas e cores inimitáveis. Figuras, paisagens e marinhas eram freqüentes nos desfiles/venda do primeiro Brame da leiloaria carioca, que era admirador incondicional desse artista, chegando a colecionar numerosas telas, desenhos e aquarelas de Santiago.
Entre os óleos mais bonitos da coleção estava o esplêndido Almoço sobre a Relva, medindo 2 x 1,50, que foi rejeitado no Salão Nacional de Belas Artes na década de 30, salvo engano. O belo quadro pertencia antes ao imortal Austregésilo de Athaide, que resolveu vender para não gastar dinheiro com a restauração que a obra exigia. Custou mil dólares a Paulo Brame.
Ledy Gonzalez