Salto de qualidade no transporte público

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O transporte público, no mundo e no Brasil, ainda não foi revolucionado pela Tecnologia de Informação. A base tecnológica dos transportes ainda é composta pela Termodinâmica, a Mecânica e a Eletricidade, ciências dos séculos XVII, XVIII e XIX.
É claro que alguns meios de transportes estão equipados com computadores de bordo (chips) e outros dispositivos sofisticados em matéria de processamento de informação e de telecomunicação, como, por exemplo, o piloto automático dos metrôs. Tais inovações, no entanto, não constituem mudanças revolucionárias nos modos de se deslocar pessoas e cargas. As grandes transformações ainda estão por vir…
No Rio de Janeiro, já estão disponíveis tecnologias informáticas capazes de promover um verdadeiro salto de qualidade nos transportes públicos. É o caso dos cartões inteligentes, projetados para funcionar, entre outras coisas,  como meio eletrônico de pagamento das tarifas e de controle de acesso de passageiros.
Os cartões inteligentes já operam com sucesso nos pagamentos dos sistemas de transportes de muitas capitais do mundo. Agora também começam a dar os primeiros passos de implantação ou  experiência  em capitais de alguns estados brasileiros – São Paulo, Salvador, Recife e Goiânia.
Trata-se de um cartão parecido com um cartão telefônico ou um cartão de crédito, contendo em seu interior chips e uma micro-antena de rádio para troca de mensagens com os equipamentos de leitura (validadores) instalados nos veículos. Tais validadores debitam valores de tarifa quando o cartão é usado.
Evidentemente, além da aplicação nos transportes, o mesmo cartão pode hospedar outras aplicações, tais como na área de saúde, vale refeição, compra de mercadorias e serviços em máquinas ou em estabelecimentos credenciados, etc.
Funciona, portanto, como verdadeiro porta-níqueis eletrônico, onde os valores carregados inicialmente vão sendo abatidos conforme ocorram os débitos pelo uso. A vantagem é que, diferentemente do cartão telefônico, o cartão inteligente pode ser recarregado, de modo que o cliente pode manter sempre o mesmo cartão, o qual pode conter sua identificação pelo nome ou por uma foto.
Outras vantagens fantásticas deste sistema, que já está consolidado em cidades como Hong Kong, Paris, Lisboa e Berlim, é que permite dispensar o uso do dinheiro nas transações relativas à viagem. Em cidades brasileiras, como o Rio de Janeiro, isto representa grande contribuição para o aumento da segurança dos meios de transportes, pois não haverá mais o caixa do cobrador para ser assaltada.
Além disso, o sistema de pagamentos através do cartão inteligente permite várias programações, tornando possível conceder descontos em certos horários ou dias da semana, ou ainda fazer viagens integradas sem que o cliente tenha que pagar integralmente a soma das tarifas dos diferentes modais utilizados. Além disso, os bancos de dados alimentados pelas informações sobre os deslocamentos dos passageiros podem fornecer elementos essenciais  para o planejamento e operação dos transportes, além de outras atividades.
O Rio de Janeiro está entrando, com certo atraso, no rol de cidades que utilizam ou vão utilizar os cartões inteligentes. Mas pretende recuperar o tempo perdido aprendendo com as experiências de outras cidades. Para isso, o Governo do Estado está realizando seminário internacional para analisar as experiências conhecidas.
Em seguida vão ser criados dois grupos para especificar tecnicamente os sistemas e equipamentos a serem adotados na região metropolitana, pelos diversos modais (ônibus, trem, metrô, barcas e vans), e também para formatar juridicamente a empresa que vai administrar todo o processo de emissão, carga e distribuição dos cartões, monitorar seu uso pelos clientes e distribuir a receita para cada um dos operadores cujos serviços tenham sido utilizados.
O cartão vai substituir com vantagem o vale transporte – hoje desviado para outros fins – e permitirá melhor controle das viagens gratuitas. Vai desestimular também o transporte clandestino, pois estes não terão as chamadas catracas eletrônicas (validadores). Estas são as pragas que estão atormentando as empresas organizadas de transportes, muitas das quais em dificuldades financeiras causadas pela fuga da demanda e gratuidade.
Além de poder ser empregado em todos os modais (trem, ônibus, vans credenciadas, metrô e barcas), é preciso que o cartão seja adotado também pelas prefeituras dos diversos municípios, especialmente da Região Metropolitana, que regulam os ônibus locais. Será muito bom para o cliente poder trafegar em ônibus também dentro de seu município usando o mesmo cartão que usa nas viagens intermunicipais, ou no metrô, nos trens e nas barcas.
Se o processo caminhar bem, em seis meses teremos escolhidos os fornecedores do sistema, através de licitação, e se dará início à aquisição dos equipamentos, de modo que seja possível começar a operar experimentalmente no final de 2001. Evidentemente, tudo isso só será viável com a colaboração positiva das operadores de transportes do Estado do Rio de Janeiro, a boa fé de seus clientes e a ajuda dos meios de comunicação.

Luiz Salomão
Secretário Estadual de Transportes e diretor da Escola de Políticas Públicas e Governo da UFRJ.

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