Conversamos sobre o resultado do Santander no 1T25 com Harold Thau, sócio da Técnica, empresa de análise e consultoria de mercado de capitais.
Qual a sua avaliação sobre o resultado do 1T25 do Santander?
O resultado do 1T25 veio em linha com a nossa expectativa. O banco apresentou crescimento, mas mais moderado quando comparado ao resultado do 1T24. Por exemplo, na receita de intermediação, o Santander fechou com R$ 38,7 bilhões no 1T25 contra 32,6 bilhões no 1T24, com um crescimento de 18,8%; no resultado de intermediação, R$ 14,8 bilhões no 1T25 contra 13,3 bilhões no 1T24, com um crescimento de 10,7%, e no resultado líquido, R$ 3,1 bilhões no 1T25 contra R$ 3 bilhões no 1T24, com um crescimento de 1,8%.
Veja que o resultado líquido não cresceu tanto quanto a receita e o resultado de intermediação, que, normalmente, geram o grande resultado dos bancos, ou seja, tomar dinheiro e emprestar. A receita de prestação de serviço, que representa 11% da receita do Santander, é importante, mas não tão importante quanto à receita de intermediação bancária.
Dando um passo atrás para que possamos entender o resultado do 1T25, na sua avaliação, porque o resultado do Santander melhorou tanto em 2024 em relação a 2023?
Apenas para que tenhamos uma referência, o Santander fechou 2024 com uma receita de intermediação de R$ 199,2 bilhões, crescimento de 88,8%; um resultado de intermediação de R$ 22,8 bilhões, crescimento de 76,6%; um resultado operacional de R$ 11,6 bilhões, crescimento de 191,5%, e um resultado líquido de R$ 13 bilhões, crescimento de 47%.
Estabelecida essa referência, nós temos que ter claro que o Santander é o resultado da fusão de vários bancos. Ele começou a sua atuação no Brasil de forma tímida, adquirindo e incorporando bancos de pequeno e médio porte, sendo que a sua maior aquisição foi o Banespa em 2000. De lá para cá, o banco vem buscando tornar essa máquina mais eficiente. Nós também temos a questão da adaptação do Santander ao Brasil, que é um mercado bem diferente do mercado espanhol e europeu, o que demora.
Com o tempo, o Santander foi ficando parecido com os bancos brasileiros de grande porte, mas por muitos anos se dizia que ele não gerava resultados no nível do Bradesco, Itaú e Banco do Brasil. Foi a partir de 2023 que o banco começou a chegar mais próximo do que são os bancos brasileiros de grande porte.
O resultado de 2024 pode ser repetido em 2025?
Na nossa visão, o Santander deve apresentar um crescimento relativamente pequeno em relação ao resultado de 2024, sendo que a nossa projeção para 2025 está muito em linha com o resultado do 1T25.
Como você tem visto o Santander no mercado bancário brasileiro?
Eu tenho visto uma atuação muito boa e eficiente, em linha com os grandes bancos nacionais, mas o Santander tem uma característica que o diferencia: ele é um banco internacional com sede na Europa, o que lhe dá algumas vantagens sobre os grandes bancos nacionais em áreas como câmbio, crédito e linhas internacionais que envolvem pessoas jurídicas sediadas na Europa, além das pessoas físicas.
Hoje, o Santander é o único banco internacional que possui uma posição destacada no mercado brasileiro de varejo bancário. Por exemplo, o HSBC e o Citibank saíram do mercado de varejo há alguns anos, enquanto o Santander está super presente, ocupando um espaço que antes era dividido com outros bancos internacionais.
Na sua opinião, onde o Santander poderia render mais como banco?
Essa é uma pergunta difícil, pois, como disse, o Santander está em linha com os grandes bancos nacionais, especialmente os privados. Por exemplo, ele está presente em todas as linhas, como crédito consignado, financiamento imobiliário, produção e crédito rural. A sua atuação vai continuar muito próxima à atuação dos grandes bancos nacionais privados, mas não existe milagre, pois o Santander já atingiu, ou está muito próximo de atingir, a eficiência que podia em função do conglomerado de bancos que foram adquiridos no Brasil. Agora, o Santander tem que trabalhar na busca contínua da eficiência, da mesma forma como fazem os demais bancos.
Outro ponto que não podemos nos esquecer é que a concorrência das fintechs inibiu um pouco o crescimento dos grandes bancos, especialmente no atendimento com taxas e custos menores. Inclusive, está havendo a discussão de que parte dessas fintechs não são bancos, já que muitas delas são empresas de adquirência que dão crédito com base nas maquininhas de cartão e desconto na antecipação de recebíveis. Esse é um mercado promissor, mas, de certa forma, elas passaram a concorrer com os bancos, o que gera um pouco de tensão.
Qual a sua avaliação sobre o payout e o dividend yield do Santander?
O payout do Santander fica na ordem de 57% do seu lucro enquanto o seu dividend yield está em 5,65%.
O payout é bom, mas o dividend yield não é baixo?
O payout é bom, mas eu não diria que o dividend yield é baixo, mas sim interessante. O dividend yield do Santander não é um dos maiores do mercado, mas pelo porte do banco, na minha opinião, ele é bom. Isso porque como o banco precisa de capital para oferecer crédito, que é o que rentabiliza a sua atividade, ele não pode distribuir mais que esses 57%, sendo que o dividend yield é uma função do dividendo por ação dividido pelo preço da ação no mercado. É por isso que ele está em um nível interessante para o investidor que quer receber dividendos, mas que também quer que o banco continue crescendo e gerando mais lucros. Para isso, o Santander precisa oferecer mais crédito.
E o ROAE do Santander?
Para que você tenha uma referência, o ROAE do Santander foi de 12,7% em 2020; 19% em 2021; 15% em 2022; 8,3% em 2023, e de 14,4% em 2024. No 1T25, o ROAE foi de 10,2%. Como o Santander está sujeito as oscilações da economia e da taxa de juros, seus retornos sobre o patrimônio líquido oscilaram ao longo do período que mencionei, mas, na média, esses retornos podem ser considerados satisfatórios.
Como você tem visto o desempenho das ações do Santander?
A unit do Santander (uma ação ordinária + uma ação preferencial) está muito bem em 2025, com uma valorização de pouco mais de 30%, enquanto o Ibovespa se valorizou 15%. Em 12 meses, que é um prazo muito importante, pois dá uma visão mais histórica, ela se valorizou em 14%, enquanto o Ibovespa se valorizou 8%. Ou seja, tanto no ano quanto nos últimos 12 meses, o Santander deu um retorno ao acionista, que permaneceu com as ações nesses períodos, superior ao Ibovespa, o que é muito bom.
Como você tem visto as perspectivas do Santander para 2025?
O Santander está relativamente bem e vai continuar crescendo, pelo que tudo indica, na velocidade dos demais bancos de grande porte. Um ponto importante é que o capital do Santander ainda está muito concentrado na mão dos seus controladores. Suas ações têm uma boa liquidez, mas bem menor que a liquidez das ações do Itaú e do Bradesco. É possível que, mais à frente, o Santander coloque mais ações no mercado, não necessariamente através de uma emissão primária, mas através da venda de um pouco de ações dos blocos de controle do banco.