Conversamos sobre o resultado do Santander no 3T25 com Michel Bezerra, analista de research do Trix.
Qual a sua avaliação sobre o resultado do Santander no 3T25?
Para falarmos de Santander e do resultado do 3T25, é importante contextualizar onde o banco se encontra atualmente. Se voltarmos um pouco no tempo, olhando, principalmente, o último ciclo de crédito, nós vamos que o Santander, assim como o Bradesco, sofreu muito com a inadimplência e com o aumento de provisões. Isso bateu bastante na última linha do DRE do banco e impactou a sua rentabilidade. Contudo, do começo de 2023 até quase o final de 2024, o Santander veio em uma toada de focar a carteira de crédito em linhas mais seguras, colateralizadas, tentando fazer com que o seu risco diminuísse o nível de inadimplência e de provisões.
Nesse período, o Santander conseguiu entregar essa tese de investimento, mas a partir de então o banco chegou em uma espécie de platô, parando em um nível de rentabilidade de 17%, 17,5%, e passou a ter dificuldades de crescimento da sua carteira de crédito. O que aconteceu com o banco foi diferente do que aconteceu com o Bradesco, que possui uma tese parecida, mas que vem, realmente, performando melhor que o Santander em uma janela de 12 meses.
Com relação ao resultado do 3T25, o que nós vimos é um pouco parecido com o que está sendo visto desde o 3T24. O Santander teve um ROAE de 17,5%, com um crescimento em relação ao 2T25, quando entregou 16,4%, mas muito parecido com o resultado do 3T24, quando entregou 17%. Como depois de um ano o banco mostrou o mesmo ROAE, nós não conseguimos enxergar a tese de melhora de rentabilidade, principalmente quando imaginamos uma rentabilidade de 20%, 21%, que é o nível em que o Itaú consegue rodar, e que o próprio Santander rodou lá atrás.
Para entendermos o que está acontecendo, nós temos que começar a análise pelo top line do Santander. A margem financeira bruta é dividida em duas partes, a margem com clientes, o core do banco, e a margem com o mercado, a tesouraria, que é uma linha bem mais volátil, principalmente quando falamos em movimentos de juros. Na margem com clientes, o Santander conseguiu entregar um bom resultado, R$ 16,5 bilhões, com um crescimento de 11% em relação ao 3T24 e de 2,7% em relação ao 2T25, muito por ter focado, nos últimos trimestres, em linhas com uma rentabilidade um pouco maior, mas tendo o cuidado com a qualidade da carteira.
Por outro lado, a margem com o mercado impactou o top line do Santander. No 3T25, a margem com o mercado entregou um resultado negativo de R$ 1,3 bilhão ante um resultado positivo de R$ 325 milhões no 3T24 e um resultado negativo de R$ 730 milhões no 2T25, muito por conta do movimento de elevação de juros, principalmente a parte longa da curva. Isso porque, quando há esse movimento de elevação das taxas, o preço dos títulos públicos cai e o ajuste de marcação a mercado acaba batendo nessa linha.
Quando somamos essas duas linhas, a margem financeira do Santander atinge R$ 15,2 bilhões, com uma ligeira queda de 0,1% em relação ao 3T24 e uma queda de 1,2% em relação ao 2T25. Dessa forma, apesar da margem com clientes ter conseguido entregar resultado, a margem com mercado, que é uma deficiência histórica do Santander, acabou comprometendo o top line da companhia.
Com relação às provisões, elas, de uma maneira geral, vieram boas. O crescimento de 10,9% foi muito por conta da mudança gerada pela Resolução 4966/2021, que foi implementada em 2025. Com essa Resolução, as provisões, que anteriormente eram reconhecidas por perda incorrida, ou seja, quando efetivamente acontecia o default, o atraso no pagamento, passaram a ser reconhecidas pela perda esperada. Com isso, os bancos já fazem o provisionamento quando percebem que existe alguma deterioração na capacidade de pagamento do cliente. Independente disso, quando comparamos com o 2T25, que já tinha essa regulação, nós vemos que as provisões do Santander caíram, o que mostra que o nível de inadimplência está controlado.
Quando olhamos para as principais linhas de negócio do Santander, o banco teve resultados positivos. Por exemplo, a receita de seguros teve um crescimento de 8,5% em relação ao 3T24 e de 11,8% em relação ao 2T25, e o mercado de capitais teve um crescimento de 21,6% em relação ao 3T24 e de 20,5% em relação ao 2T25. Com relação à receita de serviços, o Santander teve um crescimento de 4,1% em relação ao 3T24 e de 6,7% em relação ao 2T25. Com isso, o Santander teve um resultado operacional de R$ 4,1 bilhões, com uma queda de 1,8% em relação ao 3T24 e um crescimento de 1,2% em relação ao 2T25.
Com relação ao lucro líquido, por conta de uma taxa efetiva menor de imposto de renda, o Santander fechou com um resultado de R$ 4 bilhões, com um crescimento de 9,4% em relação ao 3T24 e de 9,6% em relação ao 3T25. Se o Santander não tivesse tido essa alíquota efetiva menor, o banco, provavelmente, teria entregue uma rentabilidade menor.
Daqui para a frente, o Santander precisa focar na melhora da sua rentabilidade. Parte disso, deve vir com uma menor volatilidade na margem financeira com o mercado. Inclusive, o banco comentou no call de resultado que, desde o final do ano passado, ele implementou uma nova política de hedge para tentar fazer com que essa linha seja menos volátil, sendo que essa mudança deve ter um efeito integral a partir do 1T26 ou do 2T26, o que deve beneficiar o Santander um pouco mais a frente. Além disso, existe a expectativa de queda da Selic, o que também deve ter impacto no fechamento da curva de juros. Somando tudo isso, se o Santander conseguir manter as despesas controladas, o que ele conseguiu fazer no 3T25, pode-se esperar um caminho gradual de melhora de rentabilidade, com um 2026 podendo ser melhor que 2025.
O ROAE poderia ter sido melhor, mas 17,5% é ruim?
Não é ruim, pois está acima do custo de capital do Santander, mas o banco está em um mercado muito competitivo e que possui outros players muito parecidos com ele, como o Itaú, que entrega um ROAE acima de 20%. Inclusive, o ROAE do Itaú vem melhorando, ainda mais, trimestre a trimestre. O próprio Banco do Brasil, que é um banco público e que possui algumas amarras, principalmente em termos de eficiência, já entregou ROAEs no nível de 20%. O Santander, antes do momento ruim do último ciclo de crédito, conseguiu entregar um ROAE de 20%.
Dessa forma, por mais que o ROAE não seja ruim, pois está acima do custo de capital do banco, ele poderia ser melhor.
Como você tem visto o Santander no mercado bancário brasileiro?
No início do ano, o Santander anunciou o One App, um caminho parecido com o do Itaú, que havia anunciado, há alguns trimestres, um aplicativo único para simplificar a experiência do cliente de forma a que ele tivesse uma melhor jornada e que gerasse uma possibilidade maior de cross-sell para alavancar ainda mais o canal digital, com soluções mais personalizadas, incluindo Inteligência Artificial, para cada cliente. Esse aplicativo unificado é muito positivo, dado que um dos seus pares vem conseguindo números muito positivos com esse tipo de decisão.
Na sua opinião, onde o Santander poderia render mais como banco?
Olhando para 2026, o Santander já prometeu uma linha de margem com o mercado menos volátil, sendo que se houver uma redução da Selic, essa linha pode ser beneficiada. Se o banco mantiver os resultados positivos da margem com os clientes, o top line também pode ser beneficiado. O mercado vai esperar um crescimento mais robusto da carteira de crédito, já que as carteiras dos outros bancos estão crescendo, principalmente do Itaú, que se tornou o benchmark do mercado, mas é claro que não adianta crescer deteriorando os resultados, com aumento de inadimplência e da provisão. A iniciativa do One App também pode ser impulsionadora, já que o cross-sell pode impactar a receita de serviços.
Qual a sua avaliação sobre o payout e o dividend yield do Santander?
Quando falamos de banco, o crescimento da carteira tem que conversar com o pagamento de dividendos. Se o banco quer pagar mais dividendos, ele não pode crescer a carteira, e se ele não crescer muito a carteira, ele abre espaço para pagar mais dividendos. Nos últimos anos, o Santander tem pago um payout em torno de 50%, 60%, mesmo em momentos de deterioração da carteira de crédito. Para que possamos imaginar um payout maior e um nível maior de dividendos, isso vai depender do destravamento de uma rentabilidade maior da carteira e da entrega de crescimento.
Pelas nossas projeções, o Santander deve entregar um dividend yield um pouco maior que 6% para 2025, e algo em torno de 8% para 2026.
As ações do Santander são para que tipo de investidor?
De maneira geral, as ações dos bancos incumbentes, como Itaú, Banco do Brasil, Bradesco e Santander, são mais para investidores que querem um portfólio um pouco mais defensivo, menos volátil e que tenha um pagamento regular de dividendos. Esse é um case muito mais para dividendos do que para crescimento.
Para quem busca ativos mais apimentados, que tem uma possibilidade maior de destravamento de valor, é melhor olhar para os bancos digitais como Inter e Nubank.
Como desde 2020 a ação do Santander perde do CDI, vale a pena investir nessa ação?
O retrato do Santander é um pouco o retrato da nossa Bolsa, que apesar das máximas históricas, ainda possui múltiplos muito atrativos, não apenas para o índice, mas em diversos setores. Por exemplo, o Santander está negociando a 1,1x o book, um nível bem abaixo do que ele já foi negociado. Já o Itaú está sendo negociado por quase duas vezes o book, não tão barato quanto Santander, Bradesco ou Banco do Brasil, mas ele já chegou a ser negociado em um patamar bem maior. Essa é uma janela ruim para a Bolsa, mas extremamente positiva para o CDI, que ficou acima de dois dígitos por um longo período.
Qual a sua avaliação sobre o desempenho das ações do Santander?
A performance da ação do Santander bateu o Ibovespa, mas o que vai acontecer daqui para a frente vai depender do que o banco vai entregar. Mesmo que não haja essa descompressão de múltiplo, o Santander pode chegar mais perto de duas vezes o valor de book, assim como o Itaú, que entrega um ROAE de 20%, cresce a carteira de crédito de forma sustentável e mantém os níveis de inadimplência controlados. Se o Santander quiser chegar perto disso, ele precisa entregar um desempenho próximo ao do Itaú.
Como você está vendo as perspectivas do Santander?
Para 2026, as perspectivas são positivas. Claro, isso vai depender da execução do banco, mas vão haver alguns ventos jogando a favor, como, por exemplo, a possível queda da Selic, o que vai ter impacto direto na marcação a mercado e na margem com o mercado. O mercado também vai acompanhar se o banco vai conseguir crescer carteira sem que isso prejudique os níveis de inadimplência e as provisões. O cenário macro também importa e o desempenho da Bolsa depende do que vai acontecer nas eleições, mas no que depende do banco, as perspectivas são positivas.
Considerando a nossa conversa, você gostaria de acrescentar algum ponto à sua entrevista?
Daqui para a frente, os investidores precisam acompanhar se o Santander vai conseguir entregar um melhor crescimento de carteira, como isso vai impactar os níveis de inadimplência e como isso vai conversar com a rentabilidade. Para que o banco possa destravar valor, ele precisa entregar uma melhor rentabilidade de forma consistente para chegar ao final de 2026 ou 2027 com um ROAE de 20%.
















