Sarajevo e a pacificação dos Balcãs

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A região dos Balcãs tem sido o “caldeirão de pólvora” da Europa, desde a época de sua ocupação pelo Império Otomano.
A crise atual, entretanto, tem suas origens na guerra do Império Austro-Hungaro contra a Sérvia (1808) que resultou na anexação das províncias da Bósnia e Herzegovinia ao dito Império. Criou-se, então, uma rivalidade étnica até hoje insuperável, dos povos de etnia eslava, muçulmana e germânica. Desde então, nos conflitos locais, de maneira aberta ou dissimulada, Moscou apoia os seus primos da Sérvia, Berlim apoia os seus primos germânicos espalhados pela Bósnia, Herzegovinia, Croácia e Slovenia e os países árabes apoiam os muçulmanos.
A nota trágica deste conflito quase bisecular foi o assassinato em Sarajevo, capital da Bósnia, em 1914, por um terrorista sérvio, do príncipe Francisco Fernando, herdeiro do trono Austro-Hungaro. Viena, aliada de Berlim, acusou o governo da Sérvia de responsável pelo crime e declarou guerra a este país. Moscou posicionou-se ao lado sérvio. O pavio da guerra propagou-se rapidamente na trama das alianças bélicas e a Alemanha invadiu a Bélgica e a França. Irrompia a 1ª Grande Guerra, cujo resultado trágico de morticínios na Europa apresentou o balanço sinistro de 10 milhões de soldados mortos.
Sarajevo pela segunda vez foi palco dos horrores do conflito armado quando, em 1991, irrompeu a guerra da Bósnia, bombardeada, saqueada, cercada, a cidade simbolizou a crueza e a violência dos antagonismos raciais entre muçulmanos e sérvios. Somente a intervenção da ONU pode aquietar os ódios raciais na Bósnia.
Agora novamente o nome de Sarajevo retorna ao noticiário internacional, não mais como o estopim de uma guerra, mas como uma mensagem de paz. Nesta cidade já histórica reuniram-se os governantes de 39 países, entre os quais os “grandes”, com a intenção de criar condições para uma paz duradoura nessa agitada região balcânica.
Firmaram um Pacto de Estabilidade do Sudeste da Europa, destinado a “estabelecer na região governos democráticos, economias de mercado prósperas e sociedades pluralistas nas quais sejam respeitados os direitos humanos, inclusive das minorias nacionais”.
Os líderes mundiais Clinton, Schroeder, Blair, Chirac e o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Stepachin, fizeram pronunciamentos confiantes no sucesso de sua proposta de pacificação dos Balcãs. A Iugoslávia, sob o governo do presidente Milosevic, foi excluída da reunião e também dos anúncios de ajuda econômica destinada à recuperação dos países da área. O representante soviético assinou a Declaração de Sarajevo mas discordou do critério de ajuda econômica excluindo a nação iugoslava.
A crítica dos internacionalistas e da imprensa européia ao Pacto firmado em Sarajevo é que se trata ou de uma intenção generosa de pacificação e de ajuda econômica ou, principalmente, de mais uma demonstração dos “grandes” procurando se eximirem de suas culpas nos conflitos sangrentos que, há tantos anos, infelicitam os povos balcânicos.

Carlos de Meira Mattos
General reformado do Exército e conselheiro da Escola Superior de Guerra (ESG).

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