A ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou hoje repasse de R$ 300 milhões a estados e municípios para a compra de soro e demais medicamentos necessários no manejo clínico da dengue.
Dados da pasta apontam que, atualmente, 23 unidades federativas registram incidência da doença, cada uma com variações importantes.
“Um tema muito importante são os medicamentos para dengue. Soro e outros medicamentos que são utilizados para salvar vidas, abordagem clínica, evitar os casos graves em tratá-los da maneira adequada”, disse, em entrevista coletiva no Ministério da Saúde.
“Estamos destinando, em portaria publicada hoje, R$ 300 milhões para estados e municípios fazerem especificamente a aquisição desses medicamentos”, completou.
Além disso, o Ministério da Saúde vai redistribuir as doses da vacina contra a dengue enviadas a 521 municípios selecionados pela pasta e que ainda não foram utilizadas. De acordo com Nísiae, terão prioridade nesse processo municípios que decretaram situação de emergência em razão da doença.
“Vamos fazer a redistribuição das doses que não foram aplicadas e que estão nos municípios. Vamos fazer um rankeamento dos municípios que estão em situação de emergência por dengue. Isso não vai ser detalhado hoje. Está em processo, tem que ser feito de forma muito cuidadosa”, disse.
A ministra ressaltou que a pasta poderia utilizar diversos critérios no momento de redistribuir as doses contra a dengue, entre eles aumentar a faixa etária a ser imunizada na rede pública, atualmente definida entre 10 e 14 anos. “O critério adotado, pela questão de saúde pública que nós vivemos, é ampliar para municípios”, explicou.
“A vacina é um instrumento importantíssimo a médio e longo prazo. Ela não é a solução para essa epidemia. Ainda mais uma vacina que é aplicada em duas doses com intervalo de três meses”, destacou.
Em entrevista, a ministra disse que a pasta segue negociando com a farmacêutica Takeda, fabricante da Qdenga, a possibilidade de produção da vacina no Brasil. O plano do governo é utilizar a planta da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que já é responsável pela produção de doses contra a febre amarela aplicadas no país.
“Continuamos no processo, ainda não finalizado, com a Fiocruz. Já antecipamos que haverá a possibilidade de uma produção nacional, mas só vamos fazer o anúncio completo, com segurança, com todos os dados e o cronograma porque senão a gente coloca uma coisa no ar.”
“Está em processo, mas ainda não temos a definição precisa de quantas doses poderão ser produzidas. Há várias questões técnicas que não vou entrar aqui e que também demandarão uma análise na própria Anvisa. Não é automático.”
Segundo Nísia, o ministério acompanha de perto os avanços da vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan. “Temos apoiado o Instituto Butantan no desenvolvimento da vacina, que já alcançou, segundo publicações, bons resultados na fase 3 de sua pesquisa clínica”, disse. “Toda essa documentação caberá ao Instituto Butantan – não é um papel do Ministério da Saúde – encaminhar à Anvisa”, acrescentou.
“Ainda não foi anunciado um cronograma formal pelo instituto, mas estamos trabalhando muito juntos. Estarei em São Paulo, inclusive, na próxima semana, com o diretor do Instituto Butantan. Vamos ter a oportunidade de atualizar isso e ver se há algo mais, além do que temos feito, que o ministério possa fazer no sentido de acelerar esse processo. Essa é a nossa disposição por causa da expectativa de ter a vacina como, de fato, o que ela é: um instrumento importantíssimo. Não o único, mas muito importante para esse enfrentamento.”
Na Câmara, a Comissão de Saúde aprovou convite para a ministra prestar informações sobre as ações de prevenção e combate às arboviroses, em especial a dengue, desenvolvidas pela pasta.
Autor do requerimento, o deputado Célio Silveira (MDB-GO) destaca que diversos estados e municípios brasileiros decretaram estado de emergência por conta do alto número de casos da doença.
“O ano de 2023 já tinha sido um dos piores anos que enfrentamos em relação à dengue, com recorde de mortos, mas o ano de 2024 tem apresentado números muito piores. Isso é alarmante, porque o pico da dengue ainda não chegou, ele ocorre, em regra, em abril”, alertou.
Segundo o painel de monitoramento dos casos de arboviroses do Ministério da Saúde, 630 pessoas já morreram por dengue no País neste ano, e 1.009 mortes estão em investigação. Os casos identificados da doença já somam 1,9 milhão.
A Comissão de Saúde aprovou ainda a criação de uma subcomissão para acompanhar e debater o cenário de incidência da dengue no Brasil, impactos e medidas de combate à doença. A criação do colegiado foi proposta pelo deputado Pedro Westphalen (PP-RS).
De acordo com o Ministério da Saúde, a epidemia atual de dengue será a pior dos últimos anos. Dados do Painel de Arboviroses do Ministério registram 653 mil casos prováveis de contágio na população nos dois primeiros meses do ano e os números devem aumentar.
Ainda no início de fevereiro, o Ministério estimou que os casos prováveis e efetivos de dengue podem chegar ao acumulado de 4,2 milhões em dezembro, o maior da história. Isso representa pouco menos que o triplo de casos totais do ano passado, que atingiu 1,6 milhão.
A emergência sanitária também acende o alerta em relação às crianças, que estão entre os grupos mais sensíveis ao contágio e voltando a frequentar as aulas.
“Diante da gravidade do assunto, é importante as escolas adotarem medidas de precaução e abordarem o tema nas aulas de forma criativa, com vídeos e atividades práticas”, afirma Vitor Azambuja, cofundador da metodologia educacional De Criança Para Criança (DCPC).
“É importante saber se as crianças estão acompanhando o assunto e compreendendo a necessidade dos cuidados com a saúde. A dengue voltou e as crianças podem falar disso para outras crianças usando a sua própria expressividade. O que uma criança fala, a outra entende”, destaca Vitor.
Do ensinamento teórico ao prático, é possível trabalhar o tema da dengue de diversas formas nas salas de aula, acrescenta o professor e consultor pedagógico do DCPC José Francisco Aparecido, conhecido como Chiquinho. Se o professor já tiver passado as informações sobre como é o mosquito, onde ele se aloja e período de atividade, os alunos podem fazer uma pesquisa na própria escola.
“Visto que o mosquito da dengue é ativo de dia e age principalmente no período de aula, dá para levar as crianças aos espaços da escola para ver se há vasos com água empoçada e tudo aquilo que propicia ao mosquito se reproduzir. A criança tem que ter noção, mas é importante que ela visualize. Dessa forma, quando ela voltar para sua casa, fará o mesmo”, detalha Chiquinho.
Usar outras ferramentas pedagógicas também ajuda a fixar conceitos, continua o professor. Como sugestões, podem ser realizados podcasts ou trabalho específico com especialistas na área da saúde, além de palestras para as crianças por meio de fantoches, jogos e atividades criativas. Entre elas está a metodologia do DCPC, de transformação de histórias em desenhos animados.
Pela metodologia do DCPC, os alunos do Ensino Fundamental das escolas parceiras escolhem um tema mediado pelo professor e criam uma história com roteiro, desenhos e narração. Os arquivos são digitalizados e enviados à plataforma do DCPC para serem transformados em animação.
Com informações da Agência Brasil e da Agência Câmara de Notícias
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