Não há dúvidas de que eventos climáticos extremos estão aumentando ao redor do mundo. No Brasil, são exemplos a seca de 2014 em São Paulo, as chuvas de 2021 no sul da Bahia e Minas Gerais, e, em 2024, no Rio Grande do Sul, como também a escassez hídrica no Ceará e na Região Norte em 2023. Ainda em 2023, os EUA e a Europa foram surpreendidos por incêndios e inundações, e a Índia enfrenta no momento uma grave onda de calor e escassez de água. Tais eventos extremos reclamam uma consciência maior sobre a necessidade de adaptação e o recurso a novas tecnologias, além de investimentos significativos no setor hídrico. A questão do planejamento ainda é incipiente em nosso país, e uma atuação integrada dos estados brasileiros é aguardada para responder a novos eventos climáticos extremos, que se apresentam cada vez mais frequentes, decorrentes do aquecimento global.
A água, por ser um recurso natural essencial para a vida, permeia quase todos os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os usos da água vão desde a dessedentação dos humanos e animais, irrigação das lavouras até processos industriais, incluindo a produção de energia hidrelétrica e resfriamento de termelétricas que necessitam de reservas de água suficientes. Todavia, não trabalhamos de forma integrada, o que seria essencial para se chegar ao acesso universal à água até dezembro de 2033, nos termos propostos pelo novo marco do saneamento (Lei 14.026/2020). Apesar de ser um recurso natural essencial, ainda existem cerca de 500 milhões de pessoas no mundo sem acesso à água, e muitas sofrem pela precariedade do abastecimento. A maioria dos países precisa avançar nos ODS referentes à água, mas os investimentos insignificantes no setor revelam que a segurança hídrica não constitui uma prioridade para os governos.
O Brasil, por ser um país de grandes dimensões, tem muita diversidade em sua ocupação, sendo importante a adoção de medidas eficientes de acordo com as necessidades de cada região. Estão sendo desenvolvidos projetos como o de dessalinização da água em Fortaleza, de abastecimento de algumas cidades por águas subterrâneas, de sistemas de drenagem, de redução de perdas, de criação de reservatórios de água para as secas, dentre outros. Todavia, as diversas soluções precisam ser postas em prática visando a disponibilidade de água para todos, o que exige grandes investimentos em soluções regionais mais adequadas e integradas. Tais soluções foram colocadas em pauta e debatidas em profundidade na Brasil Water Week, realizada pela Abes entre 3 e 7 de junho.
Reestruturar as cidades frente as mudanças climáticas é um verdadeiro desafio. Cidades inteiras talvez necessitem ser realocadas após as enchentes no Rio Grande do Sul. Atividades humanas decorrentes da urbanização, mudança dos usos da terra e da água alteram o ciclo global da água desde meados do século 20. As ações para o abastecimento, tratamento e coleta do esgoto de forma correta incluem planejamento urbano adequado. No entanto, poluímos nossos rios, pois grande parte das cidades brasileiras não conta com saneamento básico, além de estarmos contaminando as águas subterrâneas pelo seu uso inadequado.
Alterações da quantidade e sazonalidade da água ameaçam a prosperidade e segurança alimentar em vários países. A segurança hídrica envolve questões de mudança dos padrões de precipitação e dos impactos econômicos e sociais, que atingem essencialmente os mais pobres, enfatizou em evento da Abes na Brasil Water Week Thelma Krug, vice-presidente do IPCC de 2015 a julho de 2023 e, atualmente, presidente do Comitê Diretor do Sistema Global de Observação para o Clima (GCOS/WMO).
O Brasil segue rumo à COP 30, a ser realizada em 2025 em Belém do Pará, onde haverá o Painel Internacional sobre Mudança Climática. Espera-se que até lá seja possível compartilhar soluções para adaptação e redução de riscos às mudanças climáticas. Também se espera que haja uma avaliação e perspectiva do que precisa ser feito em relação à segurança hídrica, bem como dos investimentos destinados para tanto, não apenas visando diminuir os impactos dos desastres ambientais, mas, sobretudo, reduzir os impactos sociais por estes gerados. Afinal, a COP 30 será realizada na região mais rica do país em recursos naturais, mas com o IDH mais pobre do Brasil, onde a maioria dos habitantes não conta com água potável ou saneamento básico.