Seis e meia dúzia

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Para o cientista político Bolívar Lamounier, a “grande novidade de 2005” foi “a economia ter superado a crise política sem maiores turbulências” – posição insistentemente defendida pelos analistas neoliberais, que preferem ignorar que foi justamente a fragilidade econômica que propiciou o surgimento da crise do mensalão. “É um sintoma de aperfeiçoamento institucional”, insistiu, em palestra promovida no Rio pelo Citibank na noite da última quarta-feira. Ele acredita que, ao prejudicar o presidente Lula, a crise política “resgatou a competitividade eleitoral” e que a sucessão presidencial em 2006 será “tranquila para os mercados”, com a disputa reduzida a PT e PSDB. Parodiando Garrincha, só falta combinar com o adversário – no caso, os eleitores.

Sem procedência
Se vai insistir na proposta de engressar a Constituição, para institucionalizar a política de arrocho fiscal para impô-la aos futuros governos, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, deveria, ao menos, reler a resposta que o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP) – à época deputado federal – deu quando o então ministro Pedro Malan foi acometido da mesma pretensão: “O ministro está se comportando mais como cabo eleitoral de uma candidatura cada dia mais difícil, do que propriamente como ministro. Não vejo qualquer procedência neste tipo de afirmação.”
A afirmação foi feita, em 7 de maio de 2002, no 14º Fórum Nacional, promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos, no BNDES, pouco depois de Malan, no mesmo local, se sentir no direito de cobrar dos candidatos da oposição à Presidência da República que deixassem “mais claro seus compromissos em relação a responsabilidade fiscal, controle da inflação e sistema de câmbio flutuante”.

Nossas propostas
Para diferenciar as propostas do candidato Lula das apresentadas pelo tucano José Serra, Mercadante acrescentou ainda: “Nossas posições são muito claras: queremos reduzir a vulnerabilidade externa, aumentando as exportações e substituindo as importações. É isso que vai dar garantia para uma queda sustentável na taxa de juros e, principalmente, vai dar o caminho para o Brasil mudar sua política econômica, orientada para o social.”
Sobre arrocho fiscal, nenhuma palavra. Muito menos sobre arrocho fiscal eterno.

Construção
Um trabalhador rural, José Mário Alves Gomes, o Timba, de 47 anos,  teve morte fulminante, no último dia 21, numa lavoura de cana em Rio das Pedras, em Piracicaba (SP), depois de cortar 410 metros de cana, o que equivale a cerca de 25 toneladas. O procurador do Trabalho Aparício Querino Salomão, da Procuradoria do Trabalho da 15ª Região, afirmou estar convencido, “numa avaliação preliminar”, de que a morte ocorreu “por excesso de trabalho, consequência do pagamento por produtividade”: “Eles trabalham por produção e quanto mais cortam mais ganham. No esforço de ganhar mais acabam adoecendo”, salientou o procurador.

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Casa Grande
Segundo a Pastoral do Migrante de Guariba, Timba foi o 11º trabalhador rural a morrer em condições semelhantes desde 2004. Timba trabalhava para a usina Santa Helena, do Grupo Cosan. “A gente tem horário para sair, 5h30, mas não tem para voltar. Às vezes voltamos cinco, seis horas da tarde, e não nos deixam parar para descansar ou comer”, reclamou João Batista Alves Barbosa, natural de Araçuaí, em Minas Gerais, como Timba. e que já sentiu os efeitos da exaustão por excesso de trabalho.

Tipo exportação
O BNDES vai financiar – até US$ 25 milhões – a exportação para venda de 43 carros metroviários da multinacional de origem francesa Alstom Brasil Ltda. para a expansão do metrô de Santiago, Chile. Já para o metrô do Rio o banco não libera recursos.

Finados
Deputados e senadores interromperam a sessão da CPI do mensalão para discutir tema mais ameno: o “enforcamento” de segunda e terça-feira da semana que vem, já que quarta-feira é feriado de Finados. Com um gesto com o indicador, alguns parlamentares indicavam que a gazeta estava garantida. Já a volta ao batente na quinta e sexta-feira…

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