Na última quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou mais uma vez os juros, por unanimidade, em 1 ponto percentual, para 13,25% ao ano. A elevação havia sido anunciada na reunião de dezembro.
Foi a quarta alta seguida da Selic. A taxa está no maior nível desde setembro de 2023, fixada em 13,25% ao ano. A alta consolida um ciclo de contração na política monetária. Entre os argumentos do BC para justificar a alta, apontou a alta recente do dólar e as incertezas em torno da inflação e da economia global.
Em nota, a Associação de Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, Rio Indústria, se posiciona de forma contrária ao recente aumento da taxa Selic, uma medida que, no nosso entendimento, representa um verdadeiro “tiro de canhão” contra a atividade empresarial, principalmente o setor industrial. O aumento dos juros tem impactado diretamente os empresários, tornando o custo do capital de giro exorbitante e dificultando a manutenção e expansão das operações das empresas.
O presidente da Associação, Sérgio Duarte, afirma que “o Brasil hoje apresenta uma das taxas de juros mais altas do mundo. Com uma taxa real de juros próxima a 10%, temos uma situação absolutamente fora da realidade global. Nenhum país saudável consegue sustentar uma política econômica que penalize tanto sua atividade produtiva”. A alta nos juros, somada aos spreads bancários elevados, tem gerado uma situação insustentável, especialmente para as indústrias. “A taxa de juros elevada e os custos adicionais dos bancos estão inviabilizando o acesso ao crédito para a grande maioria das empresas. Para muitos empresários, tomar crédito a juros de 30% a 40% ao ano é assinar a sentença de morte de suas empresas”, destaca o presidente.
Além disso, a política monetária atual afasta ainda mais o setor industrial da recuperação econômica que tanto necessita. O aumento da Selic compromete a competitividade da indústria brasileira, que já enfrenta dificuldades diante da concorrência externa. Como coloca o presidente da entidade, “a indústria brasileira está há anos sofrendo com crescimento baixo, perda de mercado e competitividade no cenário internacional. Esse tipo de medida, em vez de apoiar a recuperação, apenas prolonga o sofrimento do setor produtivo”.
No mesmo comunicado, “a Rio Indústria entende que é fundamental haver um equilíbrio entre a política fiscal e econômica, mas a elevação da taxa de juros não pode ser a solução para os problemas fiscais do país.”
“Não podemos sacrificar a atividade produtiva e, com ela, os empregos e a geração de renda para o Brasil. O aumento da Selic prejudica diretamente as empresas que geram empregos e sustentam a economia. Estamos vendo, infelizmente, que muitas empresas, especialmente as que já estavam enfrentando dificuldades, estão sendo forçadas a fechar suas portas”, conclui.
Já segundo Josilmar Cordenonssi Cia, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), no primeiro encontro do ano sob a gestão de Gabriel Galípolo, o Copom cumpriu o que havia prometido na ata da última reunião de 2024: aumentou a taxa Selic em 1 ponto percentual, para 13,25% ao ano. É esperado um outro aumento de mesma magnitude para a próxima assembleia, que está prevista para 18 e 19 de março, daí a Selic iria para 14,25%.
“A inflação, medida pelo IPCA, fechou 2024 em 4,86%, portanto, acima do teto da meta que é 4,50%. Para este ano, as expectativas estão acima de 5%. O indicador é uma espécie de febre, um superaquecimento que o organismo econômico está sofrendo. O aumento de juros seria um ‘antitérmico’ para não comprometer o funcionamento do organismo.”
Segundo ele, “o problema central é que o aquecimento da atividade econômica não está vindo de uma forma natural e sustentável, puxado pela demanda do setor privado, em que o investimento garantiria o aumento da capacidade da economia de atender o aumento da demanda. Atualmente, esse aquecimento (crescimento do PIB acima de 3%, quando o potencial cresce 2%, no máximo) é puxado por gastos e transferências do governo, que aumentam a demanda (basicamente consumo) sem contrapartida no investimento produtivo, desequilíbrio que leva à inflação.”
“O governo comemora politicamente o crescimento do PIB acima de 3%, mas a um custo muito alto. A dívida cresce a uma taxa acima de 7% ao ano, superior ao índice inflacionário. Essa trajetória é insustentável e o governo corre um risco, cada vez maior, de ter que enfrentar uma queda abrupta do PIB antes de 2026. Qualquer marolinha vinda do exterior pode ter um impacto de um tsunami.”
Segundo o Banco Central, em comunicado nesta sexta-feira, o setor público consolidado registrou em 2024 déficit primário de R$ 47,6 bilhões (0,40% do PIB), ante déficit de R$ 249,1 bilhões (2,28% do PIB) em 2023. No mês de dezembro, houve superávit primário de R$ 15,7 bilhões no setor público consolidado, ante déficit de R$ 129,6 bilhões em dezembro de 2023, ressaltando-se que naquele mês o impacto do pagamento de precatórios alcançou R$ 92,4 bilhões. Em dezembro, o Governo Central e as empresas estatais foram superavitários, na ordem, em R$ 26,7 bilhões e R$ 1 bilhão, enquanto os governos regionais registraram déficit de R$ 12 bilhões.
Em 2024, os juros nominais do setor público consolidado, apropriados pelo critério de competência, alcançaram R$ 950,4 bilhões (8,05% do PIB), ante R$ 718,3 bilhões (6,56% do PIB) em 2023. Em dezembro, os juros nominais atingiram R$ 96,1 bilhões, ante R$ 63,9 bilhões em dezembro de 2023. Contribuiu para essa elevação o resultado das operações de swap cambial (ganho de R$ 6,6 bilhões em dezembro de 2023 e perda de R$ 19,9 bilhões em dezembro de 2024).
O resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e os juros nominais apropriados, foi deficitário em R$ 998 bilhões (8,45% do PIB) em 2024, ante R$ 967,4 bilhões (8,84% do PIB) em 2023. Em dezembro, o déficit nominal atingiu R$ 80,4 bilhões, comparativamente a R$ 193,4 bilhões em dezembro do ano anterior.
A redução de 0,39 p.p. do PIB no resultado nominal em 2024 decorreu da melhora no resultado primário, uma vez que os juros nominais do setor público consolidado no ano, 8,05% do PIB, elevaram-se pelo quarto ano seguido, alcançando o maior percentual desde 2015 (8,37% do PIB).
Já a Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) atingiu 61,1% do PIB (R$ 7,2 trilhões) em 2024, com elevação anual de 0,7 p.p. do PIB. Contribuíram para esse resultado, os juros nominais apropriados (8 p.p.), o déficit primário (0,4 p.p.), o reconhecimento de dívidas (0,2 p.p.), o efeito da desvalorização cambial de 27,9% no ano (-2,9 p.p.), os demais ajustes da dívida externa líquida (-0,3 p.p.), o efeito das privatizações (-0,3 p.p.) e o crescimento do PIB nominal (-4,4 p.p.).
Em dezembro, a relação DLSP/PIB diminuiu 0,1 p.p. em relação ao mês anterior, refletindo os impactos do superávit primário (-0,1 p.p.), dos juros nominais apropriados (0,8 p.p.), da desvalorização cambial de 2,3% no mês (-0,3 p.p.), dos demais ajustes da dívida externa líquida (0,1 p.p.) e do crescimento do PIB nominal (-0,6 p.p.).
A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG, que compreende o Governo Federal, o INSS e os governos estaduais e municipais) atingiu 76,1% do PIB (R$ 9 trilhões) em 2024. No ano, a relação DBGG/PIB elevou-se 2,2 p.p., resultado decorrente da incorporação de juros nominais (7,5 p.p.), do efeito da desvalorização cambial acumulada no ano (1 p.p.), do reconhecimento de dívidas (0,3 p.p.), dos resgates líquidos de dívida (-0,9 p.p.), dos demais ajustes da dívida externa (-0,2 p.p.), e do crescimento do PIB nominal (-5,4 p.p.). Em dezembro, a relação DBGG/PIB reduziu-se 1,6 p.p. do PIB, refletindo os resgates líquidos de dívida (-1,7 p.p.), o crescimento do PIB nominal (-0,7 p.p.), o efeito da desvalorização cambial (0,1 p.p.) e os juros nominais incorporados (0,7 p.p.).
Matéria atualizada às 11h26, com dados do Banco Central
Com informações da Agência Brasil
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