O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, anuncia nesta quarta-feira um aumento na taxa Selic, atualmente em 11.25%. O mercado projeta uma alta de 0,75%, mas nos últimos dias as apostas acenavam para um aumento de 1%. “As maiores apostas já são para acréscimo de um ponto percentual na taxa Selic. A curva de juros é cada vez mais aberta, com o mercado já precificando a curva longa a 15%”, diz Bruno Piacentini, economista e professor da startup educacional Eu me Banco.
Sim, a perspectiva é de novos aumentos no próximo ano. Esse cenário reflete um ambiente econômico complexo, marcado por desafios internos e externos, como explica Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital. “Desde o último Copom, as condições aqui pioraram bastante. O pacote de isenção de IR para salários de até R$ 5 mil pode dar um impulso ao consumo, somado ao impacto inflacionário de medidas protecionistas nos Estados Unidos e ao dólar mais forte no mundo”, ressalta.
A elevação da Selic visa ancorar expectativas de inflação, mas pode trazer custos significativos para a economia. “Acredito que teremos uma taxa de 14% no final de 2025, o que deve levar a uma desaceleração do PIB no próximo ano”, avalia Bolzan, que prevê cortes nos juros somente em 2026. Diante desse contexto, ele destaca que a estratégia de investimentos deve ser conservadora, priorizando aplicações pós-fixadas e atreladas ao IPCA. “Estamos recomendando 43,5% em estratégias pós-fixadas para portfólios conservadores, enquanto papeis de inflação oferecem boa proteção contra a volatilidade”.
Idean Alves, especialista em mercado de capitais, compartilha uma visão semelhante, ressaltando a necessidade de um “remédio amargo” agora para evitar medidas ainda mais drásticas no futuro. “A alta de 0,75% seria o choque necessário para ancorar expectativas e melhorar o prêmio de risco do Brasil em relação a outros países”, explica.
Alves também recomenda investimentos pós-fixados com liquidez e vencimentos curtos, que oferecem maior flexibilidade em um cenário de incertezas. “Vencimentos longos podem se tornar rapidamente obsoletos caso o cenário se deteriore, enquanto a liquidez permite realocações estratégicas”, complementa.
Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP e especialista em finanças comportamentais, reforça que os próximos passos do Copom serão cruciais para equilibrar o cenário econômico. “Devemos ter um aumento de 0,75% agora, com muitas apostas em um novo aumento de 1% na próxima reunião, considerando os dados econômicos positivos nos EUA e o impacto do arcabouço fiscal anunciado”, analisa.
Para Patzlaff, os investidores conservadores encontram um terreno fértil na renda fixa, especialmente em CDBs e títulos públicos indexados à Selic. “Títulos de inflação também brilham nesse momento, mas é importante alinhar rentabilidade com segurança, considerando o risco de que algumas empresas privadas não resistam ao cenário adverso”, alerta. Com um cenário fiscal ainda incerto e uma conjuntura global desafiadora, a decisão do Copom reflete os esforços do Banco Central em ajustar as expectativas do mercado. “O movimento atual gera gordura para a nova direção do Banco Central, sob Gabriel Galípolo, a partir de janeiro”, conclui Alves, destacando o papel estratégico da política monetária em um momento de transição econômica.
Josias Bento, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, acredita que, para quem tem um horizonte mais longo, os ativos IPCA+ podem ser uma boa solução para quem vai investir entre 5 e 10 anos. “É importante nesse levar o título até o vencimento, pois vai sofrer com as marcações a mercado no período”, diz. Segundo ele, o prefixado para 2027 também está bem atrativo em termos de taxa, que deve subir mais, e os IPCA+ para 2035 e 2045 são outra boa oportunidade de alocação.