‘Selic volta a cair, mas não o bastante para melhorar crédito para pequenos’

Copom anunciou a redução da taxa em 0,5%; para o Sebrae, 'ritmo da redução dos juros ainda é lento e prejudica o empreendedor brasileiro'

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Edifício-sede do BC
Edifício-sede do BC (Foto: Marcello Casal Jr./ABr)

Pela sexta vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a Selic. O anúncio do corte de 0,5% foi feito ontem e acompanhou a expectativa do mercado. Agora, a taxa chega ao nível de 10,75% ao ano (há sete meses, o índice era de 13,75%, após 12 aumentos seguidos). Para o Sebrae, a medida é reflexo do cenário positivo econômico nacional, mas ainda não é o suficiente para garantir melhores condições de crédito para os pequenos negócios.

“Acabamos de receber essa grande notícia para o Brasil e para a economia brasileira, sobretudo para os pequenos negócios que apresentam claramente a força desse setor que puxa o processo de empregos formais no nosso país e de crescimento econômico, que são os micros e os pequenos negócios. A notícia é a queda da taxa de juros produzida pela decisão do Banco Central, da taxa Selic, que passa a 10,75% – uma queda na sua somatória significativa e, portanto, permite que nós possamos inserir principalmente os micros e pequenos negócios para a obtenção de crédito”, avalia o presidente do Sebrae, Décio Lima.

O dirigente destaca que, apesar do bom momento da economia, é preciso olhar com mais cuidado para as micro e pequenas empresas. De acordo com o coordenador de Acesso a Crédito e Investimentos do Sebrae, Giovanni Beviláqua, a taxa média repassada aos pequenos empreendedores é baseada na Selic e, por isso, a necessidade de uma redução mais acelerada.

“Se o mercado está prevendo uma Selic de um dígito, em torno de 9% somente no final do ano, a taxa média de juros para os pequenos negócios também deve ser reduzida para cerca de 30% ao fim do ano. O valor ainda é muito elevado”, explica.

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Após o crescimento do Produto Interno Bruto em 2,9% em 2023, a expectativa é que o cenário econômico continue positivo para este ano. Nesta terça-feira, o Banco Central publicou o Boletim Focus, no qual escutou economistas sobre a expectativa para 2024. A mediana do mercado para o PIB de 2024 subiu de 1,78% para 1,8% e a inflação subiu de 3,77% para 3,79%.

Na avaliação do economista-chefe da Daycoval Asset, Rafael Cardoso, o Copom confirmou as projeções de corte de 0,50 p.p da taxa de juros e não trouxe surpresas em relação a isso. No entanto, ele destaca que o comunicado traz algumas novidades, dentre elas o reconhecimento pelo comitê de que o cenário externo está um pouco mais complexo.

“Há um reconhecimento de que o cenário externo ficou um pouco mais complicado e difícil. Ainda que você se aproxime da flexibilização monetária, há uma discussão ali sobre eventuais pressões na inflação vindas do mercado de trabalho. Esse não é um ponto novo, vimos isso acontecendo nos dados, principalmente nos Estados Unidos, mas o BC faz o reconhecimento desse processo” explica Cardoso.

Para ele, outro aspecto importante do comunicado é que o Banco Central destaca que a inflação subjacente está acima do compatível com a meta.

“A conclusão desse processo, dessa alteração do cenário, onde ele fica mais incerto pelo cenário internacional e mais incerto aqui em relação à inflação dos subjacentes, fez o BC optar por migrar e falar explicitamente que o balanço de riscos realmente ficou mais incerto”, conclui Cardoso.

A partir desta conjuntura, o Copom passa a se comprometer com novos cortes na Selic somente para o próximo encontro do comitê e deixa em aberto o que deverá ocorrer nas reuniões seguintes.

“O comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, diz o comunicado do BC.

Nesta mesma quarta-feira, o Fed anunciou a manutenção da taxa de juros da economia norte-americana nos atuais 5,50%. Na leitura de Fábio Zaclis, gestor de fundos multimercados da Daycoval Asset, havia uma expectativa para os caminhos que o Fed e o Copom iriam adotar.

“Depois de alguns dias de abertura na taxa de juros, a gente já tinha visto um certo alívio nas curvas nesta terça e quarta-feira, especialmente após o Federal Reserve ter divulgado um comunicado muito em linha com o que era a expectativa do mercado. Soma-se a isso o fato da entrevista pós-anúncio do Fed ter indicado que mesmo com a inflação mais forte neste começo de ano, foi mantido o indicativo de que eles vão fazer cortes mais lentamente ou que a taxa de equilíbrio pelo menos para frente, mantendo a projeção de três cortes nesse ano. Isso trouxe um alívio para o mercado de juros tanto internacional quanto no local”, explica Zaclis.

Com a expectativa de continuidade do processo desinflacionário e viés baixista para os preços dos alimentos, a Daycoval Asset mantém sua projeção de Selic de 9% ao ano (a.a) ao final de 2024 e 8% a.a para 2025.

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