A semana começa com feriado lá fora (mercados fechados em Nova Iorque), mas promete com agenda econômica importante. Ata da última reunião do Fed (na quarta-feira passada) e dados do mercado de trabalho nos EUA (na última sexta), além do IPCA de junho por aqui.
A volatilidade dos mercados segue alta, oscilando, grosso modo, entre duas grandes narrativas: o desafio desinflacionário é grande o suficiente para esperarmos uma recessão iniciada pelo BC norte-americano versus a esperança de que sinais de recessão despertarão o velho Fed, que aliviaria o aperto nas condições financeiras.
Primeiramente, vale dizer que as duas leituras conseguem conviver, mas em tempos diferentes: hoje, o desafio concreto está na ponta inflacionária; em um segundo momento, talvez em meados de 2023, o desafio caminhará em direção à recessão.
Qual deve ser a postura dos BCs a partir daqui, especialmente o Fed? Na nossa leitura, deverá seguir justamente o timing dessas duas narrativas; seguirá apertando os juros, com viés hawkish (inclinado a mais juros), monitorando em segundo plano a atividade. Nós entendemos que uma preocupação prévia com a possibilidade de recessão é precipitada.
De qualquer forma, nos parece razoável o movimento das curvas de juros futuros observado recentemente em diferentes regiões: elevação dos vencimentos mais curtos vis-à-vis os médios/longos, em linha com o conflito inflação X recessão.
Os dados da semana passada vão nesse sentido; entre outros, vimos a inflação da Área do Euro atingir novo pico recente, ficando acima das expectativas e, ao mesmo tempo, vimos o nowcast do Fed de Atlanta sugerir um novo PIB negativo nos EUA no segundo trimestre deste ano.
No Brasil, os destaques ficam com a percepção (renovada) de que as rachaduras no Teto de Gastos são irrecuperáveis e as notícias de que o teto sobre o ICMS ganhou aderência de 18 estados e o Distrito Federal.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, assinou despacho que apensa a PEC 1 (PEC dos benefícios, extra-Teto), à PEC dos biocombustíveis para usufruir do status de tramitação avançada na casa. Do lado “positivo” seu relator estaria ao menos estudando a possibilidade de retirar do texto o “estado de emergência”. Mesmo assim, somado à vasta votação favorável no Senado, vemos que o teto carece de defesas no Parlamento, incluindo a defesa de ser parte da Constituição.
Vale destacar que, segundo “O Globo”, os ministros do STF veem PEC como uma “afronta às leis”, mas dados os 71 x 1 no Senado e o apoio da oposição, as medidas ganham amparo. Outro argumento é que, por ser emenda constitucional, estaria acima da legislação eleitoral, uma lei ordinária.
Por fim, a principal implicação de curto prazo da forte aderência dos estados à redução do ICMS deverá ser uma deflação expressiva do IPCA já em julho. A princípio, trabalhávamos com uma defasagem maior até o seu aparecimento nos preços, com deflação apenas em agosto. Mas, hoje, com todas as incertezas inerentes ao processo, vemos a chance de uma queda de 0,5% – 1,0% nesse mês.
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Marco Caruso, economista-chefe
Eduardo Vilarim, economista
Banco Original
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