No mundo corporativo, a campanha Setembro Amarelo ressalta uma discussão importante: a relação entre trabalho e saúde mental. O tópico é importante, principalmente em tempos em que o Relatório Mundial de Saúde Mental da OMS (2022) aponta que o número de trabalhadores adultos com transtornos psicológicos está em torno de 15%.
Atualmente, os problemas mais comuns neste grupo são depressão, ansiedade e burnout. Porém, apenas 35% das nações globais oferecem programas de âmbito nacional voltados à prevenção da saúde mental no ambiente de trabalho. A questão, apesar de negligenciada, envolve fatores legais, éticos e práticos e precisa ser destrinchada em sua complexidade.
As leis relacionadas à saúde dos colaboradores variam de acordo com o país e a região, mas geralmente incluem regulamentações que obrigam os empregadores a fornecerem um ambiente de trabalho seguro e saudável. No Brasil, porém, não é tão presente. Importante destacar a Norma Regulamentadora 7 (NR-7), que exige que as empresas promovam prevenção, avaliação e controle de riscos que possam afetar a saúde dos colaboradores, incluindo riscos psicossociais. Entretanto, não existe norma específica na legislação brasileira voltada a essa demanda, que recentemente anda se tornando mais urgente.
Dados apresentados na 342ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Saúde (CNS) demonstraram que os transtornos mentais relacionados ao trabalho (TMRT) estão em terceiro lugar quando o assunto é “motivo de afastamento”, com tendência a subir de posição. Fato esse que ilustra como o estresse psicológico vem prejudicando a população profissionalmente ativa. Segundo a OMS, entre as principais denúncias dos colaboradores de agravantes de depressão e ansiedade estão o bullying e a violência psicológica.
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A promoção da saúde mental no local de trabalho não é apenas um direito trabalhista, mas também é benéfica para as empresas. Colaboradores com boa saúde mental tendem a ser mais produtivos, engajados e satisfeitos com seus empregos. Além disso, um ambiente de trabalho saudável diminui o absenteísmo e a rotatividade de funcionários, o que pode economizar recursos financeiros e aumentar a competitividade das empresas no mercado.
É importante reconhecer que a abordagem à saúde mental no trabalho pode variar de acordo com o tamanho da empresa. Grandes corporações geralmente têm mais recursos financeiros para investir em programas que ajudem nesta questão, como terapeutas ou coaches, enquanto pequenas empresas podem ter orçamentos mais limitados. No entanto, as obrigações legais são as mesmas para ambas.
As grandes empresas também podem oferecer benefícios mais abrangentes, como planos de saúde mental e programas de assistência ao funcionário, enquanto as pequenas empresas podem depender mais da sensibilidade do empregador e da cultura organizacional existente. Como pontos de convergência para ambos os espaços, existem algumas práticas importantes, como:
- Realizar campanhas de conscientização sobre saúde mental para reduzir o estigma e promover o diálogo aberto;
- Oferecer Programas de Assistência ao Funcionário (EAP) que forneçam aconselhamento confidencial e recursos para colaboradores com problemas de saúde mental;
- Permitir horários flexíveis, trabalho remoto e pausas para ajudar os funcionários a equilibrarem as vidas pessoais e profissionais;
- Treinar gerentes para reconhecer sinais de estresse e fornecer apoio aos funcionários;
- Oferecer licenças remuneradas para saúde mental quando necessário.
- Aprofundar nossa compreensão acerca do papel desempenhado por profissionais da psicologia no diagnóstico de questões de saúde mental relacionadas ao ambiente de trabalho é imprescindível diante do cenário atual. Além disso, é essencial fortalecer a comunicação e o intercâmbio de informações com o Ministério Público do Trabalho. Esses esforços conjuntos podem contribuir significativamente para promover uma vida profissional mais saudável.
Alex Araujo é CEO da 4life Prime Saúde Ocupacional, uma das maiores empresas do Brasil. Formado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) em Administração de Empresas e Gestão de Recursos Humanos.