Em um mercado cada vez mais competitivo e globalizado, as empresas buscam constantemente maneiras inovadoras de crescer, aumentar sua eficiência e acessar novos mercados. Uma estratégia que tem voltado a ganhar destaque entre líderes empresariais é a formação de joint ventures e parcerias estratégicas, que oferecem oportunidades para explorar sinergias, compartilhar riscos e combinar o melhor de cada organização, tudo isso mantendo a independência e a identidade das partes envolvidas.
Um dado recente, divulgado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), ajuda a ilustrar esse aumento. Em 2024, a autarquia bateu recorde em notificações de atos de concentração. Ao todo, foram 712 comunicados, um aumento de quase 20% em relação ao ano anterior. O valor das operações analisadas pela autoridade antitruste chega a R$ 1,1 trilhão.
Mas como estruturar uma joint venture que realmente maximize os resultados? Esse é o ponto onde muitas empresas enfrentam desafios. A criação de valor em uma parceria estratégica bem-sucedida exige mais do que simplesmente unir duas empresas. É preciso garantir que ambas estejam alinhadas estrategicamente, com objetivos claros e uma estrutura bem definida para a governança e a tomada de decisões. Ao integrar capacidades complementares — como a expertise tecnológica de um lado e o conhecimento de mercado do outro —, a joint venture pode alcançar resultados que dificilmente seriam atingidos por uma única organização atuando sozinha.
Entretanto, o que define o sucesso de uma joint venture é, em grande parte, o cuidado com o planejamento e a forma como a parceria é construída desde o início. Governança clara, distribuição justa de riscos e lucros, análise de impactos fiscais e flexibilidade para adaptação são componentes fundamentais para garantir que todos os envolvidos saiam ganhando. A beleza de uma joint venture é que, ao contrário de uma fusão ou aquisição, as empresas não precisam abrir mão totalmente de seu controle, gestão ou, ainda, de sua personalidade jurídica. Elas mantêm sua autonomia enquanto se beneficiam de uma colaboração profunda e estratégica.
Seja para explorar novos mercados, desenvolver tecnologias inovadoras ou simplesmente otimizar operações, a flexibilidade oferecida por uma joint venture pode ser o fator que impulsionará sua empresa ao próximo nível. E não estamos falando de compromissos permanentes, como nas fusões ou aquisições, mas de uma abordagem mais ágil e adaptável — até mesmo com prazos específicos —, que permite ajustar a colaboração de acordo com as necessidades e mudanças do mercado. Além disso, o compartilhamento de riscos torna essas parcerias ainda mais atraentes, já que cada parte assume sua responsabilidade proporcionalmente, sem sobrecarregar uma única organização.
Por outro lado, é crucial aprender com exemplos reais. A joint venture entre BRF e Minerva, por exemplo, é um caso de sucesso no mercado brasileiro. As duas gigantes do setor de alimentos uniram forças em uma parceria estratégica voltada para a exportação de carne bovina, combinando a expertise da Minerva no segmento de carne com a estrutura de distribuição global da BRF. Essa colaboração permitiu que as empresas se posicionassem de forma competitiva em mercados internacionais, maximizando sinergias e dividindo os riscos operacionais.
No final do ano passado, o Cade aprovou a joint venture entre Amil e Dasa, que cria a segunda maior rede de hospitais do Brasil. Tendo o país uma média de 2,1 leitos para cada mil habitantes — índice abaixo da média mundial (2,9) —, segundo o Observatório ANAHP 2023, o Brasil enfrenta o desafio de expandir o número de hospitais e suprir a necessidade por mais vagas. Nesse sentido, especialistas apontam que alianças entre organizações surgem como uma boa estratégia para o setor.
No entanto, nem todas as parcerias têm o mesmo sucesso. Um exemplo marcante de fracasso no Brasil foi a fusão entre a Oi e a Brasil Telecom, ocorrida em 2008. A união, que tinha o objetivo de fortalecer a competitividade no setor de telecomunicações, enfrentou grandes desafios culturais e operacionais. A integração entre as duas empresas foi mais complexa do que o esperado, levando a dificuldades financeiras e de gestão. Esse caso serve de alerta para empresas que pretendem realizar fusões: sem o devido alinhamento estratégico e uma clara estrutura de governança, até as maiores operações podem enfrentar problemas severos.
Aqui, a lição é clara: quando as expectativas e as culturas não estão alinhadas, o risco de fracasso é enorme. Mas, quando estruturadas corretamente, as joint ventures têm um enorme potencial para gerar valor, reduzir riscos e proporcionar acesso a novos mercados de maneira eficaz.
Diante de novas oportunidades de expansão, inovação ou busca por parcerias estratégicas, é fundamental que cada movimento seja baseado em uma análise criteriosa do mercado. Identificar sinergias, avaliar riscos e benefícios, além de negociar termos vantajosos, são fatores essenciais para o sucesso de uma joint venture. O contexto competitivo e as condições de mercado exigem uma governança sólida e decisões bem-informadas, capazes de potencializar os resultados e garantir uma parceria equilibrada e sustentável.
Entender o ambiente de negócios, reconhecer tendências e oportunidades e analisar a compatibilidade entre os parceiros são etapas essenciais para garantir que uma joint venture alcance os resultados esperados. Um planejamento estratégico, embasado em dados de mercado e conhecimento setorial, pode transformar uma colaboração em um diferencial competitivo, gerando valor de longo prazo. Nesse contexto, o suporte de especialistas que compreendem profundamente as nuances dessas operações faz toda a diferença.
Cada joint venture é única, e o equilíbrio entre conhecimento técnico e sensibilidade estratégica é o que transforma uma colaboração promissora em um verdadeiro motor de crescimento. A complexidade envolvida nesse tipo de empreendimento demanda um planejamento criterioso, com a expertise necessária para assegurar resultados sólidos e duradouros. No final, o sucesso de uma joint venture não depende apenas da oportunidade em si, mas da capacidade de transformá-la em uma alavanca estratégica de valor. Com uma visão apurada e as decisões certas, parcerias podem se tornar o caminho mais eficaz para inovação, expansão e liderança de mercado.
Rafael Frota Índio do Brasil Ferraz, advogado do Bhering Cabral Advogados