A Síria aumentou expressivamente a importação de erva-mate do Brasil neste ano. O país comprou apenas 220 toneladas no produto brasileiro entre janeiro e agosto do ano passado e passou a aquisições de 2,7 mil toneladas no mesmo período deste ano, segundo dados compilados junto ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Brasil (MDIC).
O volume vendido cresceu em 12 vezes. Também em valores a importação síria de erva-mate brasileira deu um salto, foi de US$ 441,4 mil para US$ 5,2 milhões em igual comparativo. Com isso, a Síria se tornou o terceiro maior mercado da erva-mate do Brasil no exterior.
A responsável pelo feito é uma empresa gaúcha, a Agroindustrial Elacy Ltda, que possui matriz em Venâncio Aires e tem como sócio-diretor Gilberto Luiz Heck, que é também presidente do Sindicato da Indústria do Mate do Estado do Rio Grande do Sul (Sindimate-RS) e integra a diretoria do Instituto Brasileiro da Erva-Mate (Ibramate).
Heck conta que a Elacy fez parceria com empresa argentina produtora da marca Amanda, a La Cachuera, por meio da qual fornece aos sírios. A Argentina é responsável por quase 100% do abastecimento de erva-mate do país árabe. “A Síria é uma grande consumidora de erva-mate, só que eles consomem o mate no mesmo padrão que a Argentina. A erva tem que ser descansada. A gente deixa um ano, um ano e meio maturando para depois mandar para a Síria”, diz Heck.
A erva argentina tem folhas picadas em tamanhos maiores, alguns palitos, pouco pó e é maturada, fica em descanso por longo período antes de ser comercializada. Já a erva brasileira é bem verde e composta principalmente pelo pó fino. Heck explica que a erva verde no padrão brasileiro é consumida apenas no Brasil e que em todos os demais países a busca é pela erva maturada.
Para atender o mercado sírio, a Elacy produziu o volume a ser enviado ao país árabe no padrão argentino. Heck conta que inicialmente foi feito um mix da erva brasileira com a do parceiro argentino, que é importada pelo Brasil, mas a proporção do produto da Elacy foi crescendo.
“A gente foi fazendo um avanço gradativo na participação da erva brasileira por uma questão de blend”, explica Heck. Mas segundo o empresário, os embarques devem chegar a ser 100% da erva-mate do Brasil.
Heck conta que a Síria possui uma empresa que é grande importadora de erva-mate, que embala e comercializa o produto com marca própria e com as de seus fornecedores. Esse importador, inclusive, tem uma indústria ervateira na Argentina, de acordo com Heck. A indústria Elacy entrega a a sua erva a granel para a empresa síria.
Segundo Heck, o costume do chimarrão ou mate no país foi adotado por causa dos laços imigratórios da Síria com a América do Sul. Imigrantes sírios que viveram em países sul-americanos e retornaram ao país acabaram disseminando o hábito, que foi alimentado também por visitas à Síria dos parentes que ficaram morando em nações sul-americanas.
Na Síria, o produto é chamado principalmente de mate, como na maioria dos países sul-americanos. Já no Brasil, o produto é denominado também de chimarrão. Diferente dos brasileiros, que compartilham a cuia de chimarrão, os sírios tomam o mate individualmente, cada um em um copinho ou pequena cuia, e usam de forma coletiva apenas a água quente, explica Heck.
Heck é um otimista quanto às possibilidades de expansão da exportação de erva-mate. Ele vê chances para o produto em vários nichos e percebe o potencial da demanda no mercado árabe. Com os muitos sírios que deslocaram do país nos últimos anos, o consumo do mate também foi se espalhando para outras nações do Oriente Médio. “O mercado, hoje, que está em mais forte crescimento é o árabe”, diz.
Atualmente a produção de erva-mate está concentrada no Norte do Paraguai, Nordeste da Argentina e Sul do Brasil, tendo esses três países como responsáveis pelo abastecimento de tudo o que é consumido no mundo, segundo o presidente do Sindimate-RS. O Brasil é o maior produtor, com as empresas do setor concentradas nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, e algumas no Mato Grosso do Sul. Heck estima que cerca de 50% da produção nacional atenda o mercado interno e o restante seja exportado.
Apesar de produzir muita erva segundo o gosto da demanda interna, o Brasil também se adapta às variações exigidas pelo consumidor internacional. De acordo com Heck, o Uruguai é o maior mercado do Brasil no exterior e tem o maior consumo per capita do mundo. “Mas o Uruguai é um país pequeno, a população não cresce, encolhe, então a gente foi em busca de novos horizontes”, diz, sobre a expansão.
Os dados do Mdic apontam que de janeiro a agosto o Brasil faturou US$ 44,5 milhões com exportações de erva-mate aos uruguaios. Houve um pequeno aumento sobre o mesmo período do ano anterior, de 2,2%. O segundo maior mercado no exterior nestes meses foi a Argentina, com US$ 9,6 milhões e alta de 65,5%, seguida pela Síria. No total, a exportação brasileira de mate alcançou US$ 70,1 milhões de janeiro a agosto de 2024, com aumento de 23,1%.
Agência de Notícias Brasil-Árabe
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