Conversamos sobre o resultado do 4T24 da SLC Agrícola com Lucas Mello, gestor de ações da SOMMA Investimentos.
Qual a sua avaliação sobre o resultado do 4T24 e de 2024 da SLC?
O resultado do 4T24, em sua maior parte, veio dentro da expectativa. A companhia reportou uma receita líquida de quase R$ 2 bilhões, com um aumento de 3% na comparação com 2023, mas 4% abaixo das expectativas do mercado. O Ebitda ajustado foi de R$ 611 milhões, com uma queda de 9% no ano e 3% abaixo da expectativa do mercado. A parte boa foi que a margem Ebitda, que ficou em 30,9%, se manteve estável, com um leve upside na comparação do trimestre e do ano.
A parte que pode ter deixado o mercado um pouco mais preocupado foram as revisões das projeções da Safra 2024/2025, já que a seca, que aconteceu no Centro-Oeste na Safra 2023/2024, atrasou um pouco o plantio do algodão e, consequentemente, da segunda safra de milho. Contudo, enquanto a projeção do algodão teve uma redução de 7% em relação ao orçamento original, a projeção do milho teve uma ampliação de 4% para a safra 2024/2025, muito em função da demanda bastante positiva.
No consolidado, a SLC apresentou um rendimento muito bom na soja, mas um resultado um pouco mais fraco na parte de algodão e milho, devido, como comentei, ao atraso do plantio em decorrência das secas e, posteriormente, de uma chuva excessiva. É preciso ficar atento à redução do plantio do algodão, pois como ele possui uma margem maior, isso pode gerar um impacto negativo nos resultados mais a frente.
Mesmo com a seca e a perda de produtividade da soja, que também foi um tema bastante discutido no call de resultado, já que isso gerou um efeito dominó, pois o algodão e o milho são plantados depois da soja, a SLC teve um bom resultado em 2024, com uma receita de quase R$ 7 bilhões, um Ebitda de R$ 2 bilhões, uma Margem Ebtida de quase 30% e um lucro líquido de R$ 500 milhões.
Quando sai um resultado da SLC, quais são os primeiros números que você analisa?
Nós vamos direto na produtividade. Depois, nós analisamos o DRE (Demonstração de Resultado do Exercício), vendo, basicamente, receita, margem bruta, margem Ebitda, geração de caixa e, por fim, a posição de hedge da companhia, através da qual nós conseguimos deixar a tese de investimento e os resultados mais à frente mais previsíveis.
Qual a sua avaliação sobre o modelo de negócio da SLC?
Nós gostamos bastante do modelo da SLC. A companhia performou superbem na última década, possui fazendas em sete estados do cerrado brasileiro e fez uma grande revolução na forma como se planta e se colhe. Além disso, a SLC é líder de exportação de soja, milho e algodão.
O clima é o maior desafio para o modelo de negócio da SLC, mas como a companhia possui 23 fazendas, com 730 mil hectares de área plantada para a próxima safra, distribuídas em sete estados, ela consegue ter uma maior estabilidade e previsibilidade, o que ajuda, por exemplo, no hedge e na compra de insumos. Isso porque o clima de um estado, às vezes, não interfere no outro.
Além disso, a SLC tem um guidance para ter 2/3 de terras arrendadas e 1/3 de terras próprias, o que é muito bom para a composição de retorno para os acionistas e para o endividamento da companhia. Por exemplo, como a SLC possui R$ 3 bilhões em dívidas, mas R$ 11 bilhões em terras, ela pode buscar crédito barato, já que possui bastante garantia.
Com relação às commodities, por mais que esteja havendo um pouco mais de oferta de soja e algodão, o que pressiona os preços, a demanda vai seguir crescendo nos próximos anos. Já com o milho, um fator positivo é a demanda das indústrias de etanol, localizadas, principalmente, no Centro-Oeste.
A SLC é uma companhia que possui um bom mix, está no lugar certo, tem um bom modelo de negócios e conta com muita garantia.
Qual a sua avaliação sobre o endividamento da SLC?
A SLC possui uma alavancagem de 1,8x dívida líquida/Ebitda. Essa é uma alavancagem relativamente baixa, apesar de ter subido de 1,06x para 1,8x entre 2023 e 2024. Independente disso, essa não é uma alavancagem que preocupa, muito por conta do custo médio da dívida. Com relação às aquisições recentes, isso pode fazer com que o endividamento suba um pouco mais, já que a geração de caixa vai ficar um pouco mais comprometida.
Um ponto importante é que nós sempre temos que olhar o endividamento junto com o hedge, que, no caso da SLC, está superbem feito, tanto no câmbio quanto nas commodities, o que ajuda a fazer com que o endividamento não seja um problema.
Qual a sua avaliação sobre os dividendos pagos pela SLC?
Entre 2020 e 2024, a SLC teve um dividend yield médio de quase 5%. Olhando apenas para 2024, o dividend yield foi de 3,1%, o que pode ser considerado bom dado os preços atuais das commodities. O mix da SLC lhe permite distribuir dividendos e crescer de forma equilibrada, tanto com terras arrendadas, o que favorece o retorno de curto prazo, quanto com terras próprias, o que favorece o retorno de longo prazo.
Como você avalia o desempenho das ações da SLC nos últimos anos?
De 2007 a 2016/2017, a ação da SLC ficou em um parâmetro mais lateralizado. No final de 2019, quando o mercado brasileiro de renda variável teve maior destaque, a ação subiu bastante, mas depois ela voltou por conta da Covid e seus impactos na cadeia de oferta e demanda de soja, milho e algodão. Até a normalização dessa cadeia, os preços ficaram bastante altos, o que favoreceu muito o resultado da companhia, sendo que a SLC aproveitou esse momento para investir no próprio negócio. Desde o final de 2021, quando os preços das commodities começaram a regredir, a ação está de lado, o que é um fator positivo.
A SLC possui bastante valor para ser destravado. Ela está sendo negociada a 4,8x Ebitda para 2025, basicamente uma vez o preço do valor patrimonial. Caso o câmbio suba, e as commodities fiquem com preços pressionados, isso pode abrir mais descontos sobre o preço do papel, mas se o câmbio se mantiver no patamar atual, e os preços das commodities começarem a subir, abrem-se mais oportunidades.
Qual o perfil de investidor que compra ações da SLC?
A SLC possui dois perfis de investidor. O primeiro gosta do lado micro da companhia e entende a sua produtividade. O segundo é composto pelos fundos institucionais, que enxergam a SLC como uma proxy de dólar, já que toda a sua produção de soja, milho e algodão é lastreada em câmbio, o que faz com que ela tenha uma posição mais estratégica dentro dos fundos.
Quais são as perspectivas da SLC para 2025?
Para 2025, a SLC reportou que deve ter um crescimento de área plantada total de 10,6% e uma queda do custo de produção por hectare de 7,5% para o algodão e de 13% para a soja, muito por conta dos melhores preços dos fertilizantes. Esse custo de produção menor vai fazer com que o grande tema para este ano seja a recuperação das margens e do lucro, tudo mais constante em questão de câmbio e preço de commodities.
Com relação às aquisições, por mais que elas façam bastante sentido, alguns investidores podem se preocupar com os seus impactos no fluxo de caixa de curto prazo. Isso porque a SLC vai ter que pagar R$ 1,2 bilhão em parcelas em 2025 e R$ 480 milhões em 2026, o que pode exigir um aumento temporário de alavancagem e levar a uma redução do fluxo de caixa.
Nós também podemos esperar uma recuperação do preço da soja e do algodão no curto prazo. Isso porque, por exemplo, o preço do algodão está chegando perto do nível de custo marginal da indústria. Muito abaixo desse valor, alguns players começam a pedir falência, já que a receita por hectare não compensa o custo de produção. Se a quantidade de empresas diminuir, nós teremos uma diminuição na oferta, mas se a demanda continuar igual, isso vai levar a um aumento de preços.
Considerando a conversa que tivemos, você gostaria de acrescentar algum ponto à sua entrevista?
Existe um ponto importante relacionado à questão das tarifas do governo Trump. No Trump 1, nós tivemos a trade war. Em termos de mineração, siderurgia e produtos acabados, é muito simples compor a tarifa de importação, ou seja, Trump tarifa os países, que conseguem tarifar os Estados Unidos de volta, justamente o que estamos vivendo agora.
No entanto, se olharmos para o Agro, especificamente para a SLC, o trade war é como se fosse um porto seguro, já que commodities agrícolas como soja, milho e algodão são neutras nesse campo. Como grande parte da produção da companhia é para alimentação animal, além de outros mercados, a SLC consegue crescer a sua exportação caso haja um conflito comercial entre Estados Unidos e China, já que os americanos são grandes produtores de algodão e milho.
Caso tenhamos um pouco mais de incertezas relacionadas às tarifas de Trump, nós podemos esperar um pouco de alívio, vamos colocar assim, para o Agro brasileiro. Vale lembrar que o que aconteceu no primeiro mandato de Trump explica, em parte, o aumento do preço da ação da SLC naquele período.