Só 32% das brasileiras que estão no mercado de trabalho alcançam cargos de gerência

Dados são do LinkedIn; já segundo Espro/Diverse, entre jovens, mulheres sentem mais preconceito e estão mais abertas à diversidade no trabalho

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Pictograma de banheiro masculino maior que o feminino (Foto: J.C.Cardoso)
Pictograma de banheiro masculino maior que o feminino (Foto: J.C.Cardoso)

Segundo o LinkedIn, as mulheres ainda enfrentam barreiras significativas para alcançar cargos de liderança no Brasil. Dados do novo estudo State of Women in Leadership, lançado pela plataforma, revelam que a participação feminina em posições de gerência chegou a 32% em 2024, um aumento modesto em relação aos 29% registrados quase 10 anos antes, em 2015. No entanto, esse crescimento se manteve estagnado nos últimos dois anos, evidenciando as barreiras estruturais que dificultam a progressão das mulheres a cargos executivos e a necessidade de soluções mais robustas para impulsionar a igualdade de gênero nas organizações.

O relatório mostra que, embora as mulheres representem 45% da força de trabalho total do país, esse percentual cai consideravelmente à medida que os níveis hierárquicos aumentam. Em inglês, o fenômeno conhecido como “The Broken Rung” (“Degrau Quebrado”), diz respeito a um obstáculo estrutural que impede a ascensão das mulheres para cadeiras mais altas. Essa situação pode ser vista nos dados de estagnação revelados pelo estudo do LinkedIn: a representação feminina na transição de cargos de gerência para diretoria cai 17%, e de diretoria para vice-presidência, alarmantes 21%.

“Ao olharmos para o topo das organizações e analisarmos a presença feminina, vemos que o número de mulheres diminui drasticamente. Essa disparidade é ainda mais acentuada em setores como tecnologia e serviços financeiros, onde a diferença de gênero é mais marcante, com quedas de até 40% e 46%, respectivamente, ao longo da progressão de carreira”, alerta Ana Claudia Plihal, Head de Soluções para Talentos do LinkedIn Brasil. “Por outro lado, já sabemos que empresas que promovem a diversidade tendem a ter resultados mais robustos, são mais inovadoras e desempenham melhor financeiramente. Dar espaço para mulheres desenvolverem suas carreiras não é apenas justo, é um diferencial competitivo”, explica a executiva.

Na América Latina, o cenário também revela desafios: o número total de contratações caiu 22% em janeiro de 2025, quando comparado ao mesmo período do ano anterior, o que pode impactar ainda mais os obstáculos para mulheres que buscam ascender profissionalmente. Globalmente, 45% das novas contratações foram femininas, uma queda de 1,6 ponto percentual em relação ao ano anterior – sinalizando que o retrocesso na equidade de gênero é uma preocupação mundial.

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Para reverter esse quadro, realizar contratações e promoções baseadas em habilidades se mostra essencial. Essa estratégia poderia expandir o alcance dos talentos femininos em até 13 vezes, com um aumento de 12% na participação de mulheres em funções sub-representadas no Brasil. “Temos um grande espaço para avançar e para que empresas possam reequilibrar a presença feminina em indústrias historicamente masculinas, principalmente nas áreas de tecnologia, construção e logística. Já em setores onde as mulheres são maioria, como saúde e serviços ao consumidor, a prática poderia contribuir para uma força de trabalho mais equilibrada, ampliando a diversidade e impulsionando ainda mais a inovação”, analisa Ana Claudia Plihal.

Apesar dos desafios, o avanço gradual nos índices de liderança feminina mostra que a transformação é possível e tanto empresas quanto recrutadores(as) têm um papel fundamental nessa transformação. Investir em processos seletivos mais inclusivos, com descrições de vagas que priorizem habilidades ao invés de experiências específicas, é um primeiro passo. Programas de mentoria interna, incentivo ao aprendizado contínuo e reforço de mensagens que mostrem o impacto positivo das lideranças femininas na organização podem acelerar o equilíbrio de gênero. Além disso, revisar políticas de benefícios, flexibilidade e suporte contribui para um ambiente mais acolhedor e propício ao crescimento profissional feminino.

“A mudança cultural, aliada a ações corporativas intencionais, é o caminho para um futuro onde mulheres ocupem, cada vez mais, cadeiras de tomadoras de decisão e sejam reconhecidas pelo talento e competência que já demonstram diariamente no mercado de trabalho”, avalia a executiva.

Já a Pesquisa Diversidade Jovem do Ensino Social Profissionalizante (Espro), em sua terceira edição, revelou percepções elevadas de preconceito quanto à identidade de gênero e a outros fatores em diversas situações do dia a dia – e com índices geralmente maiores entre as mulheres. Nesta edição, o estudo, que teve a participação de 3.257 jovens de todo o Brasil, foi realizado em parceria com a Diverse Soluções.

Enquanto 75% do total de jovens respondentes homens já sentiram ou presenciaram situações de preconceito na escola ou faculdade, por exemplo, entre as mulheres o índice sobe para 82%. Da mesma forma, enquanto 33% do total de participantes da pesquisa afirmaram que as situações ocorrem muitas vezes ou sempre, entre as mulheres a taxa sobe para 35%.

Em serviços como transporte público, saúde e restaurantes, 70% dos jovens homens ouvidos disseram já ter percebido situações de preconceito, sendo que 23% deles relatam que elas acontecem muitas vezes ou sempre. Entre as mulheres, os mesmos índices sobem respectivamente para 80% e 32%.

Entre os ambientes considerados pela pesquisa, o trabalho é o mais acolhedor para as diversidades dos jovens, com a menor lembrança de percepção de situações de preconceito: 41%. O índice é ligeiramente maior entre as jovens mulheres (42%) do que entre jovens homens (40%).

A Pesquisa Diversidade Jovem Espro/Diverse também identificou que as jovens mulheres são mais receptivas a práticas de diversidade e inclusão (D&I) no trabalho. Questionados sobre o quanto concordam com a frase “sinto-me bem em trabalhar com pessoas diferentes de mim”, 77% dos entrevistados homens disseram concordar ou concordar totalmente. Entre as mulheres, o índice alcança 87%.

Sobre o quanto concordam com “acredito que as empresas que melhorarem a inclusão de pessoas sub-representadas serão mais produtivas e terão mais impactos positivos”, 76% do total de consultados afirmaram concordar ou concordar totalmente. A porcentagem entre as mulheres ficou em 81%. Além disso, enquanto a média geral dos que concordam ou concordam totalmente com a frase “procuro estudar e entender cada vez mais sobre as questões de diversidade” ficou em 57% para os jovens homens, entre as mulheres ela foi de 75%.

Indagados acerca da frase “considero as pessoas que defendem inclusão e diversidade chatas e que só falam de si”, apenas 5% das jovens mulheres disseram concordar ou concordar totalmente, contra 7% da média geral. Sobre “costumo frequentar ambientes plurais e diversos”, 63% das mulheres relataram concordância ou concordância total, contra 58% da porcentagem na amostra total. Outro dado chama a atenção: enquanto 78% das jovens mulheres disseram conversar sobre diversidade em passeios, festas ou momentos de lazer, 62% de jovens homens relataram fazê-lo.

O levantemento ouviu adolescentes e jovens na faixa etária de 14 a 23 anos, que são ou já foram atendidos por iniciativas de desenvolvimento e inclusão do Espro e do total de participantes, 66% (2.161) foram mulheres. A coleta das respostas aconteceu entre os dias 16 de setembro e 31 de outubro de 2024. O índice de confiabilidade é de 99% e a margem de erro é de 2%.

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