Quem tem cabelos brancos e leu O Poço do Visconde terá lembrança de Pedrinho, neto de Dona Benta, dona do Sítio do Picapau Amarelo, afirmando:
Bolas! Todos os dias os jornais falam em petróleo, e nada de o petróleo aparecer. Estou vendo que, se nós, aqui no sítio, não resolvermos o problema, o Brasil ficará toda vida sem petróleo. Com um sábio da marca do Visconde (um sabugo de milho) para nos guiar, com as ideias da Emília (uma boneca falante) e com uma força bruta como a do Quindim (um rinoceronte cordial), é bem provável que possamos abrir no pasto um formidável poço de petróleo.
Éramos técnicos. Sabíamos das rochas metamórficas, turfa, diatomáceas, protoplasma, sinclinal-anticlinal, asfalto, gás, falhas e intrusões vulcânicas, lençol aquífero etc. Invejávamos o México, que tinha o poço de petróleo de Cerro Azul; Venezuela, Peru, Colômbia, Equador e Bolívia tinham petróleo… A Argentina havia perfurado um poço de 2.500 metros em Mendoza. Como o Brasil não teria petróleo? Faltava decisão ou estaríamos sendo enganados. Por isso, estávamos com Pedrinho. (Carlos Lessa, Prefácio a Sergio Xavier Ferolla e Paulo Metri, “Nem todo o petróleo é nosso”, 2006).
O petróleo, tão desejado antes dos anos 1970, passou a inimigo da humanidade a partir do Diálogo Interamericano (1982), criação do banqueiro David Rockefeller, e dos burocratas do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgando uma constituição mundial, na forma de decálogo, o Consenso de Washington (1989). E nem é o petróleo o mais avançado insumo energético do mundo. O que gera, então, a verdadeira caça às bruxas, que as finanças apátridas promovem na luta contra os combustíveis fósseis, mais insistentemente contra o petróleo? A importância do petróleo para a industrialização, combatida pela financeirização da vida.
A energia deve ser avaliada pela sua magnitude ou grandeza, pela continuidade de seu fornecimento, pela estabilidade, mas, examinando a história do homem, fica evidente que foi para a produção de calor que nossos ancestrais a foram buscar.
Nossa mãe, a Homo sapiens Lucy, nasceu e viveu na região de Afar no leste da África, onde hoje está a Etiópia, pouco ao norte da linha do Equador. Isso não foi um acaso, mas o único lugar do mundo em condições de calor e de umidade capaz de promover uma transformação nas espécies. Recordemos que o planeta Terra já fora uma bola de gelo, onde a vida era impossível. Isso ocorreu há dois bilhões de anos e durou cerca de 300 milhões. A última glaciação, denominada Würn, deixara uma faixa de cerca de 1.500 quilômetros em torno da linha do Equador onde se desenvolveram os australopitecos, gênero de hominídeos primitivos, que existiram na África durante o Plioceno e o Pleistoceno Inferior.
Observa-se que a imensa maioria desta faixa corresponde aos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico. As poucas porções emersas se encontram na África, na América do Sul e parte da Malásia e Indonésia. Mas, se incluirmos as demais condições para existência e evolução das espécies, apenas as encontraremos na África aquela que fez surgir o homem e sua civilização.
Foi o calor que aproximou o homem da energia, sendo o fogo a primeira conquista da espécie. E ao dominar a produção e uso do fogo, o homem pode sair da África e habitar o globo terrestre.
Antes de usar a energia fóssil, o homem destruiu as florestas
Por milhares e milhares de anos, o fogo promoveu o desenvolvimento humano; transformou a condição de habitabilidade de porções de terras, possibilitou o uso de metais e a fabricação de instrumentos e equipamentos para produção de vida, transporte e para guerra entre semelhantes. Também, com menos aplicações, utilizou a energia do Sol, das águas e dos ventos. E estacionou por mais de 2.000 anos, bem mais de dois milênios, até descobrir a energia fóssil, há menos de três séculos. E, em apenas 250 anos após a descoberta do carvão mineral cresceu como nunca e passou para novos estágios civilizatórios: o da civilização industrial do petróleo e o da energia nuclear.
Com energia das águas dos rios, o homem obteve a maior geração de potência elétrica. Com a dos fósseis, carvão mineral e petróleo, a maior produção de energia. E com a energia nuclear a maior densidade energética. Em seguida, dominando a tecnologia da informação, o homem deu novo salto com a miniaturização, produzindo circuitos integrados que processam e armazenam informações – reais ou virtuais.
E neste estágio alcançou o segundo milênio após o nascimento de Jesus Cristo, a Era Cristã do Ocidente, ou, o ano 5.786 do povo judeu, ou o ano 4.723 dos chineses, o “Ano da Serpente de Madeira”, cujo último ocorreu em 1965, e este atual irá até 16 de fevereiro de 2026. E formidável mudança civilizacional e na distribuição do poder mundial se processam nestes últimos cinquenta anos.
Analisemos, resumidamente, a mudança do poder mundial, a partir da Segunda Grande Guerra (1945).
A industrialização passou a representar quer para o ocidente capitalista, quer para o oriente comunista, o sistema mais moderno, progressista e vitorioso; fazendo do capitalismo financeiro um poder perdedor, sem a expressão que obtivera no século 19, quando dirigia a Inglaterra, o Império onde o Sol nunca se punha. O que fizeram então as finanças? Passaram a combater o petróleo, símbolo da industrialização, e com concentração em poucos locais no Mundo, quase sempre fora da dominação das potencias ocidentais: os Estados Unidos da América (EUA) e a Europa Ocidental (Reino Unido, França, Alemanha, Holanda, Bélgica, Suíça, Áustria, países mediterrâneos e Portugal).
Examinando as 23 maiores reservas mundiais, aquelas que superam quatro milhões de barris de petróleo, verificam-se as maiores concentrações: (1) Oriente Médio (922,4 milhões de barris, com a soma da Arábia Saudita, Irã, Iraque, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Qatar e Omã); (2) América do Sul, (336,3 milhões de barris, com a Venezuela, Brasil, Guiana e Equador); (3) África (com 147 milhões de barris da Líbia, Nigéria, Somália, Argélia, Namíbia e Angola); (4) Rússia a que se somam o Cazaquistão e o Azerbaijão, totalizando 117.000 milhões de barris; (5) a China, com 26 milhões de barris, (6) Noruega, com oito milhões e cem mil barris e (7) México, com seis milhões de barris (dados de 2024, da International Energy Agency).
Até as transformações geopolíticas ocorridas no século 21pareciam maldição, como a “doença holandesa” da exportação de tulipas, no século 17, repetida em 1960, com exportação de gás natural, ou da aplicação de regra, criada pelo economista canadense John Hartwick (1944), que os países deveriam utilizar seus recursos não renováveis para investir em capitais físicos (infraestrutura, máquinas e equipamentos), como se estes fossem eternos ou não houvesse acelerada mudança tecnológica e científica no atual mundo da informação.
E o mundo desenvolvido e rico, mas sem petróleo, passou a desenvolver um sistema de “marcos regulatórios” para retirar a autonomia dos detentores de significativas reservas, como enunciadas, subordinando-os aos interesses dos importadores. O Brasil se encontra neste estágio desde o domínio das finanças apátridas iniciado com o último governo militar, do general João Figueiredo, prosseguido com a eleição indireta de José Sarney, e dos eleitos Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, do golpista Michel Temer, e de Jair Bolsonaro. Enquanto Lula da Silva e Dilma Rousseff mantinham e mantêm a dependência externa do Brasil.
ONG, transição energética, meio ambiente e COP30
Entre 10 e 21 de novembro prevê-se ocorrer em Belém (Pará) a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (30th United Nations Framework Convention on Climate Change – COP30).
Em 2017, Lorenzo Carrasco, Silvia Palacios e Geraldo Luís Lino promoveram a 12ª edição revisada do livro “Máfia Verde”, pela Capax Dei Editora. No ano seguinte, o Brasil completaria 30 anos de promulgação de sua Constituição Cidadã, nas palavras do presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães. Imensa expectativa corria no Brasil, após 21 anos de sucessivos governos militares, sem que o povo participasse da escolha de seus presidentes. Mas naquele ano também uma inusitada repercussão internacional surgia com o assassinato do líder seringueiro Chico Mendes, em 22 de dezembro. Personagem até então desconhecido no Brasil, intrigando a todos pela virulência que era agredido nosso país: “vilão ambiental mundial número um”.
No livro “Máfia Verde”, os autores informam que, “em fevereiro de 1989, o chamado Encontro de Altamira reuniu naquela cidade do Pará centenas de representantes de organizações não-governamentais (ONGs) e lideranças indígenas brasileiras e estrangeiras, para pressionar o governo brasileiro contra os projetos de desenvolvimento na região amazônica”. O primeiro presidente eleito, Fernando Collor, incluiu na sua agenda, a ser ostentada na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – ECO-92, em outubro de 1992, o enquadramento do Brasil na “Nova Ordem Mundial”. Desde 1961, surgiam no exterior ONGs, como a WWF World Wide Fund for Nature (Suíça), a Greenpeace, em 1971, no Canadá, e o Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça). Instituição chave, antidesenvolvimentista, para ressuscitar preconceitos como da “Lenda Negra”, nas colônias ibéricas, foi o Conselho Mundial das Igrejas (CMI), da década de 1930, quando ocorre a Revolução Nacionalista encabeçada por Getúlio Vargas.
Hoje, já não existe dúvida que os movimentos ditos ambientais, as propostas de mudanças energéticas, a criminalização dos hidrocarbonetos são recursos para manter a submissão colonial e impedir o desenvolvimento econômico, social, cultural, civilizacional do Brasil.
Assim, Getúlio Vargas foi levado ao suicídio, Leonel Brizola, construtor de escolas, foi isolado politicamente por todas matizes ideológicas, e os militares que promoveram o golpe de 1967 foram considerados assassinos, torturadores, pois obtiveram o maior desenvolvimento econômico e tecnológico que o Brasil já teve em apenas treze anos, mas não teve igual qualificação o golpista dirigido pelos EUA, Marechal Castelo Branco.
Se o argumento é só a força, se não vale mais o direito, se não vale a lei internacional, se não valem os organismos internacionais, se valem a força e o poder militar, então todos os países terão obrigação de se armar, melhorar sua posição militar, em relação aos demais países do mundo. Se passa a imperar a força bruta cínica, é bom que adquiramos também, como nação, uma força que, pelo menos, tenha caráter dissuasório, fabricando o que já podemos fabricar. Não há por que ficarmos respeitando um tratado de não proliferação quando o que prolifera é a força das armas, a força bruta. Se os parâmetros agora são outros, não há porque ficarmos presos a um compromisso que tinha outros pressupostos da legitimidade, do respeito à ONU, do respeito aos tratados internacionais. Se isso não vale, teremos que repensar nossa posição.
Senador Roberto Saturnino Braga, discurso transcrito por Marcos Coimbra no Monitor Mercantil, 23 de outubro de 2007
Ao examinarem em profundidade as ameaças que se fizeram ao Brasil e ao seu povo, os cinco Ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) não se limitaram à cúpula golpista, mas incluíram na decisão de 21 de outubro de 2025, aqueles enquadrados no “Núcleo da Desinformação”.
O movimento ambientalista internacional se estrutura numa cúpula onde são elaboradas as diretrizes e coordenadas as pautas para doutrinação. É onde estão o capital, como o Goldman Sachs e o JP Morgan Chase, gestores de ativos, como BlackRock e Vanguard Group, a União Internacional para Conservação da Natureza (UICN), o CMI e o WWF. Segue o comando executivo, de inteligência, operacional e logístico, com diversas organizações ligadas à ONU, ao Clube de Roma, ao britânico Instituto Tavistock, e uma miríade de tropas de choque, vivendo de orçamentos públicos e dos capitais coletados de ingênuos do mundo inteiro. A nobreza europeia faz-se presente para ter ocupação e participar de seletos clubes como 1001 Club.
O WWF Canadá não era nada parecido com a imagem que tive durante anos. Não era organização democrática nem representativa, e jamais o foi. Tem restrito e secreto grupo de patrocinadores e membros. Seu relatório anual não reflete a origem das doações nem como o dinheiro é gasto. Responde aos temas estabelecidos pela sua organização-mãe internacional, World Wide Fund for Nature, que também não é transparente ou democrática, dirigida por membros de famílias aristocráticas, e executivos de grandes empresas de petróleo, produtos farmacêuticos, de fumo e financeiras.
Elaine Dewar, “Cloak of Green”, 1995
Questões climáticas e transição energética são falácias para que poucos dirijam e usufruam a vida na Terra.
















