As usinas Belo Monte e Tucuruí, no Pará, e Sobradinho, na Bahia, estão jogando água fora por não ter como escoar toda a energia que poderiam produzir. Ao mesmo tempo, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mantém produzindo termelétricas que geram energia mais cara, ocupando linhas de transmissão que deveriam ser utilizadas pelas hidrelétricas.
A denúncia feita nesta segunda-feira pelo jornal O Globo corrobora matéria do Monitor Mercantil de 2 de julho de 2021 que mostrava que o volume de água que entrou nos reservatórios das usinas hidrelétricas brasileiras durante o último ano é o quarto melhor ano da última década, equivalente a 51.550 MW médios. No entanto, o volume de energia produzida por hidrelétricas ficou em 47.300 MW médios, ou seja, 4.250 MW médios abaixo da quantidade de água que entrou nos reservatórios no mesmo período, o equivalente a uma usina de Belo Monte.
“Os reservatórios foram esvaziados sem que houvesse necessidade de atender a um aumento na demanda, uma vez que ela diminuiu.” Segundo o MAB, em diversas usinas, como Itaipu, a operação foi realizada “com evidente interesse de gerar escassez para explodir as tarifas. Toda essa água vertida poderia ter sido armazenada ou transformada em energia, sem aumento dos custos”.
Responsáveis por 20% da capacidade de geração hidrelétrica no país, Belo Monte, Tucuruí e Sobradinho estão com água suficiente para produzir mais. A usina baiana joga água fora em um estado atingido por severas enchentes.
A reportagem do jornal cita a termelétrica Porto Sergipe, “que tira espaço das hidrelétricas nas linhas de transmissão que ligam os sistemas do Norte e do Nordeste ao centro-sul do país. Ela custa R$ 12,6 milhões por dia, R$ 378 milhões por mês (…) O custo mensal de uma única termelétrica é mais da metade do montante destinado a descontos nas contas de luz de 35,3 milhões de consumidores nas faturas de janeiro”.
Enquanto várias hidrelétricas estatais vendem energia a R$ 65/MWh, térmicas cobram acima de R$ 1 mil. A usina William Arjona (MS) foi autorizada pela Aneel a cobrar R$ 1.520,87/MWh, denuncia o MAB. A ONS ainda não se pronunciou.