Stablecoins e o risco dos títulos do Tesouro dos EUA

Governo dos EUA quer usar stablecoins para financiar títulos de curto prazo do Tesouro e manter influência do dólar

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Stablecoin USDC
Stablecoin USDC (ilustração moxumbic, Adobe Stock)

Em um cenário de déficits explosivos, desconfiança nas instituições multilaterais e transformações tecnológicas profundas, uma nova engrenagem passou a sustentar silenciosamente o poder do dólar no mundo: os stablecoins. “Nos Estados Unidos de Trump 2.0, essas moedas digitais ganharam novo status. De ferramenta útil no mundo das criptos, passaram a ser uma peça estratégica para financiar o Estado americano, garantir liquidez ao Tesouro e reforçar a dominação monetária global dos EUA”, analisa, em artigo, Fabio Ongaro, economista, CEO da Energy Group e vice-presidente de finanças da Câmara Italiana do Comércio de São Paulo (Italcam).

Apesar de encenar cortes de gastos públicos, o déficit federal dos EUA cresceu US$ 243 bilhões nos primeiros 70 dias do governo Trump 2.0 e deverá alcançar 7% do PIB até o fim do ano. “Diante disso, Trump impulsionou uma proposta legislativa chamada Genius Act, que exige que empresas emissoras de stablecoins invistam exclusivamente em títulos do Tesouro americano de curto prazo – exatamente os papéis que o Tesouro mais precisa vender com rapidez”, explica Ongaro.

“O maior stablecoin do mundo, o Tether (USDT), já superou os US$ 149 bilhões em circulação. Seus emissores, para manter o lastro, aplicam a maior parte dos recursos em títulos da dívida americana. Em 2024, a Tether tornou-se um dos maiores compradores individuais de dívida pública dos EUA, superando países como Noruega e Taiwan”, relata o economista.

“Mais curioso: o custodiante dessas reservas é a Cantor Fitzgerald, tradicional empresa de Wall Street comandada até recentemente por Howard Lutnick, hoje secretário de Comércio de Trump. A empresa agora é gerida por seus filhos e continua a operar investimentos cripto com o aval do governo. Ou seja, enquanto a Casa Branca corta programas sociais, amplia silenciosamente o financiamento estatal por meio de emissores de criptomoedas, muitos deles com laços familiares com a própria administração.”

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Ongaro escreve que “com os stablecoins, os Estados Unidos criaram uma nova forma de projetar poder financeiro: silenciosa, global, baseada em tecnologia e movida por interesses privados alinhados ao Tesouro”.

Alegam os financistas que circulam na Casa Branca que uso de stablecoins permitirá a qualquer pessoa, de qualquer país, adquirir o equivalente ao título do Tesouro dos EUA de forma simples, ampliando as vendas – solucionando o problema de que a necessidade do governo de colocar títulos supera a demanda.

Há um problema nisso tudo: ainda não se viu uma criptomoeda que seja estável em valor, tenha um emissor estável e solvente e esteja segura e protegida de redes criminosas, hackers e golpistas. Em 7 de março, relata a EIR, o chefe de pesquisa da Circle – emissora do token de stablecoin USDC – reconheceu: “Grandes bancos vêm experimentando blockchain há anos. Não é uma tecnologia nova para eles. Mas oferecer suporte a criptomoedas para pagamentos tem sido visto como arriscado.” De fato: a moeda “estável” USDC caiu em um incidente em 2023, do prometido US$ 1 para apenas nove centavos de dólar.

A crise do subprime, que afetou a economia global em 2007/2008, surgiu de especulações com derivativos de valor duvidoso. O que poderá acontecer com as stablecoins e os títulos do Tesouro tende a ser muito pior, como veremos amanhã.

Rápidas

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