O Brasil importou mais em 2024. Essa é a primeira conclusão diante dos dados da balança comercial brasileira do ano passado – que acabou com um superávit de US$ 74,6 bilhões, queda de quase um quarto (24,6%) em comparação ao resultado de 2023. Isso aconteceu porque, enquanto o volume de exportações permaneceu estável em US$ 337 bilhões (retração tímida de 0,8%, na comparação anual), o fluxo de importações cresceu significativos 9%, saindo de US$ 240,5 bilhões, em 2023, para 262,5 bilhões, em 2024.
Na leitura da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), isso ocorreu por causa da atividade econômica brasileira, cujo Produto Interno Bruto deve ter crescido em torno de 3% no ano passado. A confirmação deve acontecer em março.
Mas isso deve ser observado considerando a conjuntura de superprodução da China, que baixou os preços em termos globais, gerando uma concorrência mais agressiva entre vários produtos industrializados mundo afora. No Brasil, isso, inclusive, abriu muitas oportunidades de negócios para importadores. O fenômeno pode ser visto, por exemplo, no aumento de 17% no quantum (volume) de importações em 2024, mesmo com uma valorização de mais de 25% do dólar frente ao real – que, na teoria, deveria gerar um impacto negativo sobre as importações.
Para a economia interna, essa conjuntura ainda passa outro recado: o consumo está mais aquecido do que a produção, e, por isso, foi necessário buscar produtos de fora do país. Mesmo diante da desvalorização do real, a queda nos preços internacionais, estimada em 7,4%, favoreceu a compra de produtos estrangeiros. Essa queda de preços também impactou as exportações, na medida em que, apesar de o quantum ter crescido 3% no ano, os valores envolvidos nessas transações caíram 3,5%.
A importação de bens de capital – máquinas e equipamentos mais modernos e fundamentais para aumentar a produtividade da nossa economia – cresceu pelo terceiro ano consecutivo, mas representa apenas 11% do total. Na avaliação da Fecomércio-SP, isso acontece porque o Brasil ainda é um país muito fechado comercialmente para esse tipo de transação, e é por isso que a entidade tem atuado ativamente para pleitear ao governo a redução das tarifas de importação de bens de capital e bens de informática e telecomunicação. Para se ter uma ideia, enquanto as tarifas de ambos os bens no Brasil ultrapassam os 10%, a média mundial é da ordem de 4%.
A corrente de comércio brasileira (soma de exportações e importações) bateu na trave dos US$ 600 bilhões no ano passado (R$ 599,5 bilhões), alta de 3,3% em relação a 2023, o que é muito positivo, pois indica que aumentamos a nossa participação no comércio internacional.
Além dessas percepções, os números da balança comercial brasileira mostram uma realidade já bastante conhecida – o país é extremamente dependente do mercado chinês. Em 2024, quase 30% de todo o volume exportado foram destinados à China, seguida pelos países da Zona do Euro (cerca de 15%) e pelos EUA (12%). Em 2016, o total de exportações para os chineses estava na casa de 20%.
Segundo a Fecomércio-SP, mais preocupante do que isso é o fato de o saldo comercial de US$ 74,5 bilhões estar, hoje, ainda mais concentrado: quase metade (41%) veio da relação com o país asiático. Esse cenário não se repete no caso das importações, que ainda são diversificadas entre players globais, como Europa, EUA e a própria China.
A mesma análise se repete quando analisamos os produtos exportados – que são, em sua maioria, de caráter primário. Na verdade, a cada ano há uma concentração ainda mais firme em três commodities: petróleo, minério de ferro e soja, que correspondem a 35% das vendas ao exterior. De acordo com a Fecomércio-SP, aumentar a participação de manufaturados e bens de alto valor agregado nesses fluxos deve ser um objetivo de longo prazo do governo. As exportações da indústria da transformação até bateram recorde histórico em negócios em 2024, atingindo US$ 181,9 bilhões, mas a composição ainda é de produtos de baixíssimo conteúdo tecnológico, como açúcares, carnes, derivados de petróleo e celulose.
Ainda que os números do ano passado tragam alguns aspectos animadores, como o aumento da corrente de comércio (que havia caído em 2023) e o segundo maior saldo comercial da história – além do crescimento nas importações de bens de capital -, a verdade é que o Brasil ainda é muito fechado para o mercado internacional. Apesar de estar entre as 10 maiores economias do mundo, o Brasil figura em torno da 25ª posição nos rankings de grandes exportadores e importadores mundiais, ao passo que a participação nacional na corrente de comércio mundial gira em torno de 1,5% há pelo menos meio século.
A Fecomércio-SP acredita que a experiência internacional nos mostra ser fundamental promover uma maior abertura comercial, ao inserir o país nas cadeias produtivas tecnológicas e inovadoras do mundo por meio de um plano de desenvolvimento e investimentos sólidos em Educação, aumentando a produtividade e fornecendo mão de obra qualificada às empresas.
Já de acordo com a Tek Trade, empresa especializada em importação e exportação junto a dados do Ministério de Comércio Exterior, com aumento de 21%, Itajaí, em Santa Catarina, foi a cidade que mais importou no Brasil pelo segundo ano consecutivo. Em 2024, o volume de importações alcançou impressionantes US$ 15,91 bilhões, aumento de 21% em relação a 2023, quando o total registrado foi de US$ 13,14 bilhões.
O volume total de mercadorias importadas por empresas de Itajaí chegou a 6,6 bilhões de quilogramas líquidos, com destaque para produtos como polímeros de etileno, cobre, acessórios e equipamentos para veículos, pneus e materiais químicos. Mais de 60% das importações vieram da China, consolidando a relação comercial com o gigante asiático.
O ranking de 2024 traz Manaus em segundo lugar, com US$ 15,84 bilhões, seguido por São Paulo com US$ 9,52 bilhões, Petrópolis com US$ 8,22 bilhões, e Rio de Janeiro com US$ 7,31 bilhões.
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