‘Tanqueciata’ afeta militares mas não muda impopularidade de Bolsonaro

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Desfile militar na Esplanada dos Ministérios em Brasília (Foto: Marcelo Camargo/ABr)
Desfile militar na Esplanada dos Ministérios em Brasília (Foto: Marcelo Camargo/ABr)

Pesquisa semanal de popularidade do governo, realizada pelo Modalmais em parceria com a consultoria AP Exata, mostra que o governo Bolsonaro mantém um índice alto de reprovação, embora com tendência de queda ao longo da semana.

O levantamento é feito com base em análise de sentimentos em interações públicas nas redes sociais e leva em consideração também pesquisas de opinião. A base de dados é geolocalizada, com informações de 145 cidades de todos os estados brasileiros.

O percentual de pessoas que avaliam a gestão como ruim/péssima é de 42,6%.30,3% consideram o governo bom/ótimo e 27,1% avaliam como regular.

A semana foi dominada pelo bolsonarismo e suas bandeiras. A mobilização do presidente em torno da aprovação da PEC do voto impresso deu o tom para o início da campanha eleitoral e, ao criar um novo inimigo, reagrupou sua militância política.

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Segundo o estudo, os demais pré-candidatos ao Planalto não foram capazes de entrar no debate e o presidente conseguiu convencer muitos brasileiros de que as urnas são passíveis de fraudes, ainda que ele próprio admita não ter provas sobre a tese.

O reagrupamento dessa militância pode ser visto claramente pela análise de grupos de WhatsApp, que vinham dispersos, pautados por temas difusos em torno de bandeiras antigas da direita, como ataques à China, a membros do Supremo Tribunal Federal ou apoio a pautas conservadoras. Dias antes da discussão da PEC no Congresso, ela voltou a se reunir em torno de um único tema.

As menções ao presidente da República subiram e a popularidade do governo apresentou tendência de melhora, o que nos leva a crer que Bolsonaro não deixará o assunto morrer.

Após a atuação muito intensa de perfis governistas nas redes, que conseguiram emplacar narrativas sobre fraude eleitoral e luta pelo voto impresso, as menções positivas voltaram a cair e parecem estar normalizando em valores habituais entre 35% e 40%.

O embate entre Executivo e Judiciário parece longe de ser resolvido. Alexandre de Moraes demonstrou que STF e TSE não deverão ceder à pressão do Planalto e incluiu o presidente da República em inquéritos judiciais sobre vazamento de informações sigilosas da PF e fake news. A ofensiva mostra a inclinação do Judiciário para romper esse ciclo de informações falsas ou distorcidas que levam à desinformação, podendo até levar o presidente a ficar inelegível.

O ministro tem sido considerado, por internautas, linha da frente nesta batalha. Apesar disso, Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, se mantém como alvo principal de bolsonaristas que pretendem desacreditar o processo eleitoral. Os ataques ao ministro têm sido violentos e pessoais.

Governistas receberam com indignação a notícia de que Moraes também ordenou a prisão de Roberto Jefferson. Eles denunciam que os conservadores estão sendo perseguidos por uma “ditadura judicial”. Opositores aplaudiram a decisão.

As discussões sobre uma possível abertura de processo de impeachment arrefecem, não porque Bolsonaro teve mais votos favoráveis que contrários ao voto impresso, mas porque ele ainda tem a fidelidade do Centrão. As redes, incluindo perfis apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, só se questionam até quando.

A articulação política de Ciro Nogueira também foi questionada por alguns perfis governistas. Eles esperavam que o novo ministro trabalhasse para conseguir o apoio necessário à PEC na Câmara. Os votos contra de partidos do Centrão também foram contabilizados e criticados. Foi nítida a pressão da militância antes, durante e após a votação, que fizeram circular listas de parlamentares, com respectivos telefones e contas nas redes, que se abstiveram ou votaram contra o projeto.

A “tanqueciata”, apesar das críticas de oposicionistas, não interferiu na imagem do presidente para o bem nem para o mal: o tema se perdeu em meio à polarização política em torno da discussão das urnas. As Forças Armadas saíram mais fracas do episódio. Além da visibilidade dada a veículos degradados, levando a diversas piadas quanto ao poderio bélico do Brasil, internautas criticaram os militares por permitirem que a instituição fosse usada no jogo político pelo presidente.

O ponto alto da CPI foi a audição de Ricardo Barros, que acusou a Comissão de afastar farmacêuticas interessadas em vender vacinas ao Brasil. Opositores e empresas desmentiram esta informação, mas governistas difundiram a narrativa com sucesso.

A Comissão também pretende pedir o indiciamento do presidente por charlatanismo, apoiando-se na divulgação do uso de medicamentos como cloroquina e ivermectina. Internautas duvidam que a PGR deixe a acusação progredir.

Nova alta do IPCA e do preço da gasolina causou muitas reclamações nas redes. Os preços de alimentos, gás e combustíveis são apontados como carrascos dos orçamentos familiares menores, e os internautas não veem progresso na criação de emprego.

Alguns perfis governistas e muitos opositores questionaram a utilidade da troca do presidente da Petrobras. O preço da gasolina já subiu 51% em 2021, levando cada vez mais internautas a contestarem a indexação do preço ao dólar.

Notícias sobre o índice de miséria no país relacionaram a inflação e o desemprego na destruição do poder de compra e segurança alimentar de milhões de brasileiros.

Os pedidos de ajuda nas redes, descrevendo situações desesperadas, também aumentaram significativamente nos últimos meses.

A discussão sobre a PEC dos precatórios tem preocupado perfis da economia. Eles dizem que o fundo sugerido pelo governo, para fazer gastos fora do teto, é fiscalmente irresponsável e pode comprometer toda a estabilidade orçamentária nos próximos anos.

O financiamento do Auxílio Brasil é outro problema apontado como causador de instabilidade no mercado. Analistas avaliam que ou Paulo Guedes encontra espaço no orçamento, ou Bolsonaro terá que explicar aos brasileiros porque o aumento não chega aos 50% prometidos.

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