Tarifaço de Trump sobre alumínio e aço entra em vigor hoje

'Dependência excessiva dos EUA expõe vulnerabilidades, especialmente nos setores agrícola e industrial', diz analista

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Donald Trump (Foto: Eskinder Debebe/ONU)
Donald Trump (Foto: Eskinder Debebe/ONU)

As tarifas mais pesadas do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre o aço e o alumínio entrarão em vigor hoje e atingirão quase US$ 150 bilhões em produtos feitos com esses metais – desde porcas e parafusos até lâminas de escavadeiras -, ameaçando aumentar os custos tanto para o setor quanto para os consumidores. As informações são da Agência Brasil, citando a Reuters.

“A decisão de Trump de considerar tarifas sobre produtos brasileiros pode impactar a economia nacional, mas também destaca a urgência de diversificar mercados. A dependência excessiva dos EUA expõe vulnerabilidades, especialmente nos setores agrícola e industrial. Nesse sentido, reforçar acordos com a União Europeia, fortalecer as relações com a China e explorar novas parcerias comerciais são caminhos necessários para reduzir os danos causados por políticas protecionistas americanas”, avalia Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos.

Ontem, o presidente americano já havia ameaçado o Canadá com tarifas de 50% sobre o aço e o alumínio do país viznho, mas recuou depois que o governador de Ontário, Doug Ford, retirou uma sobretaxa de 25% sobre as exportações de eletricidade do Estado canadense para os EUA.

Ainda segundo a Reuters, “o valor total das importações em 2024 para as 289 categorias de produtos listados chegou a US$ 147,3 bilhões, com quase dois terços para alumínio e um terço para aço, de acordo com dados do governo obtidos por meio do sistema Data Web, da Comissão de Comércio Internacional dos EUA. Por outro lado, as duas primeiras rodadas de tarifas punitivas de Trump sobre produtos industriais chineses em 2018, durante seu primeiro mandato, totalizaram apenas US$ 50 bilhões em valor de importação anual. As tarifas atingirão mais de US$ 25 bilhões em componentes de alumínio importados para carros, caminhões, ônibus, tratores e veículos especiais, e US$ 15 bilhões em importações de móveis e peças de metal.”

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Para José Alfaix, economista da Rio Bravo, “as ameaças tarifárias de Trump talvez não estejam gerando o efeito esperado pelo presidente. O que inicialmente era visto como um jogo político para conseguir negociar interesses, como o caso do controle das fronteiras com o México, agora, tem se materializado em uma iminente guerra tarifária, com todos os seus parceiro comerciais anunciando retaliação às tarifas que serão impostas. O pior cenário possível. Há grande incerteza sobre o potencial de impacto das tarifas. Observamos, no primeiro mandato de Trump, efeito pouco expressivo sobre a inflação, dado o contexto de desaceleração global da época. Agora, com a economia aquecida e o Fed preocupado com a resiliência da inflação de serviços, as tarifas tendem a ter efeito recessivo. A maioria se protege acumulando estoque, e, no caso dos produtores, aumentando os preços para se proteger dos impactos posteriores. Medidas que resultam, tudo ou mais constante, em menos consumo e mais inflação. A iniciativa de incentivar a indústria nacional pode, como muitas vezes, resultar em incremento de preço para o consumidor final. As circunstâncias são diferentes de 2016.”

O Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas que fabricam o metal, informou ter recebido com surpresa a decisão, mas disse estar confiante na abertura do diálogo entre os governos dos dois países para restabelecer o fluxo de produtos de aço para os EUA nas bases do acordo firmado em 2018, durante o primeiro mandato de Donald Trump.

Segundo o instituto, o acordo definiu o estabelecimento de cotas de exportação para o mercado norte-americano de 3,5 milhões de toneladas de semiacabados/placas e 687 mil toneladas de laminados.

“Tal medida flexibilizou decisão anterior do presidente Donald Trump que havia estabelecido alíquota de importação de aço para 25%. Importante ressaltar que a negociação ocorrida em 2018 atendeu não só o interesse do Brasil em preservar acesso ao seu principal mercado externo de aço, mas também o interesse da indústria de aço norte-americana, demandante de placas brasileiras”, diz a nota do Instituto Aço Brasil.

De acordo com a entidade, a taxação do produto impacta não apenas a indústria brasileira, como também a própria economia americana, uma vez que ela depende da importação do produto.

“A taxação de 25% sobre os produtos de aço brasileiros não será benéfica para ambas as partes”, avalia.

Ainda segundo o instituto, o mercado brasileiro também “vem sendo assolado pelo aumento expressivo de importações de países que praticam concorrência predatória, especialmente a China”.

“Assim, ao contrário do alegado na proclamação do governo americano de 10 de fevereiro, inexiste qualquer possibilidade de ocorrer, no Brasil, circunvenção para os EUA de produtos de aço oriundos de terceiros países”, diz o instituto.

A entidade informa ainda que, na balança comercial dos principais itens da cadeia do aço – carvão, aço, máquinas e equipamentos -, no valor de US$ 7,6 bilhões, os EUA são superavitários em US$ 3 bilhões, ou seja, vendem mais que o dobro do que compram do Brasil.

Já a CNI, que representa as indústrias brasileiras como um todo, informou que continua buscando diálogo para reverter a decisão. A confederação destaca que os EUA são o destino de 54% das exportações de ferro e aço brasileiros, sendo o quarto maior fornecedor desses produtos para os americanos.

Para a confederação, a decisão de taxar o aço é ruim tanto para o Brasil quanto para os EUA. A confederação informou que segue trabalhando para fortalecer as relações entre os dois países e que acredita em alternativas consensuais para preservar esse relacionamento comercial.

Matéria atualizada às 12h16, para acrescentar a posição do Instituto Aço Brasil e da CNI

Com informações da Agência Brasil, citando a Reuters

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