Taurus (TASA4): resultado do 2T24, mercados e perspectivas

Nesta entrevista, Salesio Nuhs analisa as perspectivas do mercado americano para a Taurus tendo em vista a eleição presidencial do país.

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Salesio Nuhs (foto divulgação Taurus)
Salesio Nuhs (foto divulgação Taurus)

Conversamos com Salesio Nuhs, CEO da Taurus, sobre o resultado do 2T24 da companhia.

Como a Taurus avalia o seu resultado do 2T24?

O resultado do 2T24 foi dentro da nossa expectativa. Nós fizemos uma receita de quase R$ 410 milhões e continuamos com a melhor margem bruta do segmento de armas no mundo, entre as empresas que, evidentemente, divulgam seus resultados: 35,4%.

Um ponto importante é que não podemos isolar o resultado do 2T24 da questão do Rio Grande do Sul. Eu quero evidenciar isso para deixar claro a capacidade que a Taurus tem em reagir, muito rapidamente, às situações do mercado. Isso porque como o nosso segmento é extremamente controlado em todos os sentidos, tanto em termos políticos quanto regulatórios, nós temos que ter uma capacidade de adaptação muito grande.

A Taurus não teve nenhuma consequência direta com relação às cheias no Rio Grande do Sul, pois a região onde ela está não foi atingida, mas ela foi totalmente atingida de forma indireta. Como nós paralisamos a nossa operação durante uma semana, isso trouxe uma consequência de produção. Além disso, como os nossos embarques de exportação eram feitos por via aérea através do Aeroporto Salgado Filho, que está interditado até hoje, nós tivemos que mudar o nosso modelo de transporte, indo até Campinas através do rodoviário e a partir de Campinas através do aéreo. Como tudo isso foi adaptado, nós tivemos, evidentemente, um pequeno efeito nos nossos números do 2T24.

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O nosso resultado líquido, é bom falar isso, foi prejudicado pela variação cambial. Todas as nossas vendas do 2T24 foram realizadas com dólar médio, que começou o trimestre a R$ 5,08 e terminou o período a R$ 5,55. O ponto é que enquanto a nossa receita de exportação foi medida pelo dólar médio, a nossa despesa financeira foi medida pelo dólar do último dia do mês, o que gerou um efeito de R$ 45 milhões no lucro líquido da companhia. Só que isso não é caixa, e sim contábil. No momento seguinte, isso vai se equilibrar, pois se o dólar, no próximo fechamento, for inferior a R$ 5,55, isso vai trazer uma receita para dentro do lucro líquido. Isso não foi só com a Taurus. Todas as empresas, que são fortemente exportadoras, tiveram esse efeito do dólar no lucro líquido, mas como isso é bem tranquilo, eu acredito que o mercado assimilou isso de uma forma bem positiva.

Como a Taurus avalia as perspectivas do mercado americano? Trump já é conhecido, mas a companhia já tem alguma ideia de como pensa Kamala Harris?

Aqui, nós temos que voltar um pouco e olhar o passado como um balizador para o futuro, pois eu costumo dizer que o passado tem que ser analisado como um espelho retrovisor. O histórico dos últimos 20 anos do NICS (National Instant Criminal Background Check System), que é o medidor de intenção de compra dos americanos, mostra que os governos democratas acabam aumentando a demanda por armas de fogo, e eu acredito que isso vai se repetir agora. Kamala Harris já disse, claramente, a sua opinião sobre a questão das armas e que vai colocar no seu plano de governo um controle maior.

Em anos de eleição nos Estados Unidos, normalmente, há um aumento de demanda por armas, independente de quem seja o favorito. O americano tem muito forte essa questão da liberdade e do direito ao acesso às armas de fogo para a sua proteção e para proteção da sua família e dos seus bens. Isso é muito claro pra eles e não tem preço. Quando acontece qualquer coisa que possa ameaçar isso, eles, evidentemente, se protegem correndo para adquirir armas de fogo. É por isso que entendemos que a Kamala vai trazer um Efeito Obama para o segmento.

Existe diferença entre as visões de republicanos e democratas referentes ao mercado americano de armas?

Nos oito anos do governo Obama, a intenção de compra saiu de 9 milhões em 2009 para 15 milhões em 2016. Eu costumo dizer que Obama foi o maior vendedor de armas do mundo, pois ele ficou oito anos batendo e insistindo na questão de que as armas teriam que ser mais controladas e que mais restrições teriam que ser criadas.

O ponto é que o comportamento do americano, eu volto a dizer, é muito ligado à questão da liberdade. Dessa forma, os próprios políticos democratas, individualmente, possuem um comportamento que se assemelha aos americanos. Nessas votações, ou nas tentativas de votações, você vê que os próprios democratas acabam não concordando com as propostas de lei mais restritivas. Isso porque, no fundo, quem está no Congresso americano é representante dos americanos, e os americanos, independente da sua ideologia política, prezam, em primeiro lugar, pelos seus direitos à liberdade e à proteção.

Como a Taurus avalia as perspectivas do mercado brasileiro?

Usando um termo bastante prático, o pior já passou. O atual governo demora a tomar decisões, pois essa é uma maneira que ele tem de conseguir os resultados que espera. Você vê matérias de jornal, com estatísticas motivadas por ONGs desarmamentistas, que dizem que “a venda de armas no Brasil caiu 70% no Governo Lula”. Óbvio, se não tem regulamentação, não dá para comprar.

O atual governo tem um ano e meio, e ainda não temos 100% da legislação regulamentada por portarias. Os CACs (Colecionador, Atirador Esportivo e Colecionador), os policiais militares e os bombeiros militares foram regulamentados, mas ainda falta regulamentar a compra por integrantes da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, dos policiais civis dos estados, dos guardas civis metropolitanas e dos magistrados, enfim, ainda falta a regulamentação dessa camada.

O que estamos percebendo é que começa uma tendência de melhora das vendas do comércio, e os próprios clubes de tiro já estão vendo isso. Houve um impulsionador nesse segmento que foi o lançamento do 38 TPC, que é um calibre novo, e não uma nova arma, criado pela Taurus. Isso é um motivo de orgulho para a Taurus e para o Brasil, porque, normalmente, um calibre novo é desenvolvido por empresas americanas e europeias. O Brasil vai escrever o seu nome na história das armas do mundo com uma calibre brasileiro que se chama Taurus Pistol Caliber 38.

Um calibre novo é desenvolvido sempre que existe uma necessidade operacional, que pode partir de uma demanda policial ou do mercado esportivo, ou de uma demanda legal, que foi o caso do Brasil. Como a regulamentação estabeleceu uma limitação em 407 joules, o que restou para o brasileiro foi o calibre 380, sendo que esse calibre está no mercado através de plataformas antigas, que são mais caras e que possuem um custo maior, já que elas têm muito mais peças, e o processo de fabricação é mais oneroso. Além disso, o calibre 380 é um calibre anêmico para as necessidades atuais de proteção individual.

Pensando nisso, a Taurus poderia tomar dois caminhos: desenvolver uma nova plataforma para o Calibre 380 ou desenvolver um novo calibre. Evidentemente, o desenvolvimento de um calibre seria muito mais difícil, mas eu entendo que seria o caminho mais desejado pela população brasileira. Como nós temos um Centro de Tecnologia e Engenharia muito atuante e competente, nós desenvolvemos esse novo calibre em seis meses, aproximadamente, trazendo a maior performance dentro dessa limitação legal.

Em termos de energia balística, nós temos um produto 40% superior ao 380 e 16%, em média, abaixo do 9 mm. E o mais importante: com um controle de tiro muito grande, ou seja, com um recuo muito pequeno. Esse é um calibre que será exportado para outros países, pois as pessoas mais idosas e as mulheres que procuram uma arma com o poder de parada e de incapacitação maior, e que tenha pouco recuo, vão optar pelo 38 TPC ao invés do 9 mm, que tem muito recuo, já que o 38 TPC tem 30% menos de recuo que o 9 mm. Essa foi uma solução que criamos para atender uma necessidade do mercado brasileiro, mas que terá mercado no mundo inteiro.

Resumindo, o mercado brasileiro começa em uma tendência de crescimento, até para atender essa demanda reprimida de 18 meses, mas é importante ressaltar que quando uma pessoa decide comprar uma arma de fogo, o efeito não é imediato, pois ela só vai ter acesso à arma depois de três meses, mais ou menos, por conta de toda a burocracia. Mesmo assim, nós entendemos que vamos ter no 2S24 um mercado nacional bem mais importante para a Taurus.

Como está a JV da Taurus na Índia e as tratativas para criação da JV da Taurus na Arábia Saudita?

Nós estamos indo bem na Índia. É importante lembrar que a JV da Índia é transferência de tecnologia, e não uma fábrica. Então não é só produzir na Índia, mas treinar as pessoas em termos de produtos e de processos, além de treinar os nossos fornecedores. Esse processo está tendo uma evolução mais lenta do que imaginávamos, mas está indo muito bem nesse ramp up de produção.

Um ponto importante é que o mercado civil indiano ainda é muito pequeno, mas a legislação passou a ser adequada recentemente, tanto que estamos falando em revólveres 32 e pistolas 765, mas se levarmos em consideração os números e o tamanho da população, que é a maior do mundo, nós temos uma perspectiva muito boa no mercado civil indiano, mas, neste momento, essa evolução tem sido lenta, e entendemos que não vai haver um salto muito grande no mercado civil. 

Eu costumo falar que o mercado civil paga as contas, e quando nós ganhamos uma licitação, nós passamos a falar em investimentos e em crescimento. Nós seguimos na licitação de 420 mil fuzis, que, considerando a burocracia indiana, está dentro do prazo do governo. Os testes de inverno, que são os últimos, serão feitos em dezembro no Himalaia,  em condições bastante rígidas de temperatura. Paralelo a isso, existem outras licitações que estão ocorrendo na Índia. Inclusive,  nós ganhamos, recentemente, uma licitação de 500 fuzis de 9 mm que já estão em fase de produção.

Esse é um projeto de longo prazo e a nossa decisão de construir essa JV foi bastante acertada. Isso porque se não tivéssemos feito isso há quatro anos, nós não estaríamos participando da licitação de 420 mil fuzis, algo em torno de US$ 47 milhões de dólares, e de outras licitações.

Com relação a Arábia Saudita, as equipes da Taurus e da Scopa entregaram o plano de negócios para as diretorias das duas empresas, sendo que nós entendemos que ele está bastante robusto e interessante. Agora, nós estamos tratando dos detalhes da JV. Acertando esses detalhes, nós devemos assinar os documentos ainda neste ano. Em paralelo, nós estamos participando de algumas licitações de submetralhadoras e fuzis para a polícia e para o Exército da Arábia Saudita através da Scopa, a nossa possível parceira de JV, que também é a nossa atual representante no país. 

Como a Taurus vê as suas perspectivas para o 2S24?

Eu vou começar essa resposta com a mesma frase que utilizei na pergunta sobre o mercado brasileiro: o pior já passou. Para isso, é importante considerar o que foi feito aqui na Taurus. Todo o processo de reestruturação criou fundamentos sólidos para a companhia e que a tornaram robusta. Nós soubemos aproveitar a questão da alta demanda do mercado americano no período da pandemia, mais do que dobramos a nossa produção e colhemos resultados fantásticos para a companhia, para os nossos investidores e para os nossos acionistas, da mesma forma que nos ajustamos, imediatamente, ao novo período político no Brasil e ao período econômico nos Estados Unidos, que fez com que os distribuidores reduzissem seus estoques. É importante relatar isso, pois nós continuamos fazendo a melhor margem bruta do mercado de armas do mundo, já que somos muito ágeis, as nossas linhas de produção são flexíveis e a nossa gestão é muito próxima e dinâmica.

Assim, considerando o histórico dos Estados Unidos com relação à intenção de compra, o efeito de um possível governo democrata e o efeito de um ano eleitoral, nós temos uma capacidade de reação muito grande e estamos preparados para isso. Não será nada estratosférico, mas eu entendo que o 2S24 deverá ter uma tendência de crescimento se o compararmos com o 1S24.

Considerando a conversa que tivemos, você gostaria de acrescentar algum ponto à nossa entrevista?

Eu só gostaria de acrescentar a questão dos dividendos, até por conta das perguntas que estamos recebendo. Como nós tivemos o efeito do dólar no nosso lucro líquido, o que fez com que ele fosse muito pequeno, estão nos perguntando como ficam os dividendos. Como nós temos no nosso balanço uma grande reserva estatutária, algo em torno de R$ 300 milhões, mesmo que não haja um grande lucro líquido, havendo uma decisão do conselho e da companhia, e havendo caixa, nós podemos pagar os dividendos, pois temos reservas para isso.

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