Transformando o mercado de crédito: fintechs e soluções inovadoras
A concessão de créditos no Brasil sempre foi um desafio. Dados recentes do Banco Central revelam que os financiamentos concedidos pelas instituições financeiras recuaram 9,6% em fevereiro em relação a janeiro, chegando a R$ 383,7 bilhões no mês. A pesquisa corrobora as dificuldades enfrentadas por empresas e pessoas físicas no país e, ultimamente, o aperto ampliou-se, relacionado com a alta dos juros, aumento geral da inadimplência e o temor provocado por eventos como a crise nas lojas Americanas. A questão é que o mercado de crédito é fundamental para o crescimento e desenvolvimento da economia brasileira.
É por meio da captação de recursos que os empreendedores conseguem expandir seus negócios e, assim, gerar mais empregos e oportunidades, impulsionando a economia do país. Apesar do impacto positivo que pode trazer para a economia nacional, é um setor complexo e que exige muita expertise e pesquisa.
É um desafio criar uma operação de crédito que funcione de forma saudável e escalável, tanto para quem está ofertando o crédito quanto para quem o recebe.
Hoje em dia, não são apenas os bancos que atuam na concessão de crédito. As fintechs despontam a cada dia com soluções práticas e inovadoras para reduzir a burocracia e facilitar o acesso ao dinheiro para empresas de diversos tamanhos e perfis. Já existem empresas capacitadas para enfrentar os desafios da concessão de crédito, realizando a análise de forma mais rápida do que instituições tradicionais, além de conseguir oferecer soluções personalizadas para cada perfil.
Neste artigo, vou abordar o que considero ser os principais desafios para qualquer operação de crédito.
O primeiro deles é a emissão de licenças junto ao órgão regulador para poder operar e conceder crédito, que engloba toda a entrega de relatórios regulatórios e formalização do crédito. É importante também atender a questões de segurança, como o Know Your Client (KYC) para ratificar a autenticidade do cliente.
Nos meios digitais, a autenticação do cliente é ainda mais importante e desafiadora, sendo um pré-requisito para que a operação escale. Isso demanda uma estrutura tecnológica e de pessoas dedicadas. Outro desafio bastante significativo é o funding da operação, ou seja, quem vai custear aquela concessão de crédito, se é a própria empresa, um investidor terceiro ou até mesmo outros clientes, no caso da SEP.
Isso impacta na complexidade da oferta, já que a concessão de crédito envolve riscos, e quem os corre (aportando o funding) busca o retorno financeiro.
O funding é considerado o combustível para uma operação de crédito. Um terceiro desafio é a responsabilidade por toda a esteira de crédito, que envolve desde os processos de aquisição e gestão de carteira até a cobrança. A empresa que concede crédito deve ter um time dedicado e/ou um parceiro que cuide dessa parte para que a operação se sustente.
Ainda é preciso maturidade e estratégia para analisar o público-alvo, o apetite de risco da operação e o retorno que ela deve trazer e quando deve trazer. Não se controlam todas as variáveis em uma operação de crédito, mas está mais próximo do sucesso quem melhor desempenha a agenda de previsibilidade – através de dados – nas tomadas de decisão.
Com isso, entramos no quarto desafio, que é a estratégia e inteligência por trás de toda essa esteira. Quem é o público-alvo? Qual é o apetite de risco dessa operação? Essas são perguntas que geralmente são feitas antes de iniciar a operação e, para isso, o uso estratégico de dados é essencial.
Desde a definição de estratégia até a criação de soluções personalizadas e que façam sentido para cada usuário, de acordo com o apetite de risco. Não existe uma “receita de bolo”, a estratégia começa com um guia, mas pode (e deve) mudar de acordo com o apetite de risco x retorno e, principalmente, cenário macroeconômico.
Atualmente, existem empresas com expertise para revolucionar essa jornada, permitindo um salto de inteligência em todo o ecossistema, desde a gestão de portfólio até a entrega customizada na ponta da cadeia. Um dos grandes diferenciais, capaz de desempatar o jogo, é o uso de dados do cliente em qualquer outro ecossistema digital para enriquecimento dos critérios de aceitação e, principalmente, no cálculo da exposição ao risco. Informações de bureaus são necessárias, mas não suficientes para se ter um diferencial competitivo.
Uma operação de crédito também deve incluir uma agenda de recuperação de crédito, considerando uma porcentagem de inadimplência dos usuários. O mais recente levantamento da Serasa, com dados de fevereiro de 2023, indica que a inadimplência no Brasil segue crescendo, após desaceleração no final do ano passado.
Com um aumento de mais de 430 mil pessoas, o indicador de inadimplência aponta 70,53 milhões de brasileiros com o nome restrito. Aqui, é necessário criar estratégias para acolher o cliente e oferecer soluções para que ele quite suas dívidas. Chegar primeiro, pelo melhor canal, com a melhor oferta e no momento certo faz toda a diferença.
Apesar dos desafios, o mercado de crédito mantém sua relevância, já que as empresas oferecem novas soluções e os clientes se empoderam e se responsabilizam por suas escolhas. Isso traz mais agilidade e assertividade para a concessão de crédito e vai ajudar a definir as possibilidades dos próximos anos neste mercado.
Leonardo Borges é Diretor de Crédito e Riscos de Data Strategy do Bankly.