Tensão prolongada

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Bolsa de Valores (Foto: divulgação)
Bolsa de Valores (Foto: divulgação)

Ontem foi um dia muito ruim para os mercados domésticos, com a Bovespa perdendo 3,28% e índice em 110.672 pontos, depois de ter vazado para baixo o patamar de 110 mil pontos. Dólar com mais uma alta de 1,33%, fechando cotado em R$ 5,59, depois de ter furado o patamar de R$ 5,61. Juros para todos os vencimentos também com fortes altas.

No exterior, mercados em alta na Europa e também nos EUA, e o resultado é que a Bovespa perde no ano 7%, e os mercados maduros dos EUA sobem na casa de 20%. Aqui, muito estresse com o Auxílio Brasil fura-teto e governo marcando e depois cancelando anúncio do programa (sem nova data), o que denota largo improviso.

Hoje, mercados da Ásia terminaram o dia com comportamento misto, de olho na inflação ascendente, safra de balanços e desaceleração das economias. Europa começando o dia tentando se manter no campo positivo e futuros do mercado americano com leve alta e indefinidos. Aqui, certamente, o estresse vai continuar entre os investidores, mas seria bom não perder o patamar de 109 mil /110 mil pontos do Ibovespa, e há condições para recuperação, depois da queda de ontem, a maior diária desde março.

Nos EUA, o presidente Joe Biden conversa com Democratas sobre pacote social mais modesto de US$ 1,9 trilhão, parecendo abandonar aquele de US$ 3,5 trilhões. Na China, o PBoC (o BC chinês) manteve juros básicos estabilizados pelo 18º mês seguido e, na Alemanha, a inflação medida pelo PPI (atacado) de setembro com alta de 2,3% e, contra igual período, com +14,2%.

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Na Zona do Euro, a inflação pelo CPI de setembro anualizada com alta de 3,4%, no mês em 0,5% e núcleo anualizado de 1,9%. No Reino Unido, a inflação pelo CPI anualizada de 3,1%, de previsão de +3,2%. Na Rússia, com recordes de mortes pela Covid-19, o governo impôs novas restrições.

No mercado internacional, o petróleo WTI, negociado em Nova Iorque, mostrava queda de 0,82%, interrompendo grande sequência de alta, com o barril cotado a US$ 82,28. O euro era transacionado em queda para US$ 1,162, e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,63%. O ouro e a prata com altas na Comex, e commodities agrícolas com altas na Bolsa de Chicago.

Aqui, teoricamente, teremos a leitura do relatório da CPI da Covid-19, com promessa de 11 crimes caraterizados para Bolsonaro e 70 pedidos de indiciamentos. Já o presidente da Câmara, Arthur Lira, criticou o Senado que, segundo ele, está parado. Ele também diz que o governo busca alternativas para o auxílio, que o governo adiou o anúncio mas conseguiu derrubar os mercados.

O BC faz hoje três operações de swap cambial, com rolagem, overhedge e extra, e a Vale anunciou crescimento da produção em 0,8% e vendas com +3,2% no comparativo com igual trimestre de 2020. A agenda do dia é fraca e vamos ficar ao sabor da safra de resultados do terceiro trimestre e do noticiário político local.

Expectativa de Bovespa tendo espaço para reagir, mas em um dia de enorme tensão, dólar ainda forte no cenário externo e juros em alta.

Ontem foi um dia muito tumultuado para os mercados domésticos. Queda generalizada na Bolsa, dólar em nova alta forte e juros pressionados. Podemos atribuir, quase totalidade disso, ao risco fiscal, detonado pela tentativa de burlar o teto de gastos, regra de ouro da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Enquanto isso, no exterior, os mercados tiveram um dia de alta, absorvendo até aqui a boa safra de resultados de empresas no terceiro trimestre.

Em reunião ocorrida ontem, ficou acertado que o Auxílio Brasil seria lançado com os R$ 300 prometidos pelo presidente, que o adicional de mais R$ 100 seria pago pelos próximos 60 dias e, ainda, ficariam fora do teto de gastos. A equipe econômica reagiu contra, mas acabou vencida pela ala política do governo. Com isso, os investidores fizeram a leitura de burlamento às diretrizes traçadas lá em 2016, ou contabilidade criativa, e isso poderia acarretar novas defecções na equipe econômica insatisfeita.

Lá fora, os mercados ficaram bem mais tranquilos. Apesar das incertezas com a inflação renitente e retirada de estímulos sendo discutidas, tivemos um dia de boas altas dos mercados acionários. Nos EUA, a construção de novas residências de setembro encolheu 1,6%, com previsão de contração de somente 0,3%. Já novas permissões de construções encolheram 7,7%.

O FMI também anunciou revisões para pior do PIB em 2021. Segundo ele, a China foi reduzida para 8,0% (de 8,4%), o Japão para 2,4% (de 3,3%) e a Ásia deve crescer somente 6,5%, de anterior em 7,6%. Ainda na China, a incorporadora Sinic aumentou a lista de inadimplentes, enquanto o PBoC luta para evitar maiores danos.

No mercado internacional, o petróleo oscilou bastante ao longo do dia entre os campos positivo e negativo, e mantinha alta sequencial de +0,52%, com o barril cotado a US$ 82,87. O euro era transacionado em alta, para US$ 1,164, e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,639%, em alta. O ouro e a prata com altas na Comex e commodities agrícolas com viés positivo na Bolsa de Chicago. O minério de ferro negociado em Qingdao, na China, em dia de leve queda de 0,23%, com a tonelada em US$ 124,04.

No segmento doméstico, a FGV divulgou a segunda prévia do IGP-M de outubro, com deflação de -0,03%, vindo de anterior com -0,58%. Também anunciou o monitor do PIB de agosto, apontando contração de 1,0% e, contra igual período de 2020, com expansão e 4,4%. Tivemos também live do diretor do BC, Fabio Kanczuk, dizendo que o banco olha dados e eventuais impactos de mudanças de projeções, e foi claro ao dizer que existe reação da política monetária para o aumento do risco fiscal, além do aperto da taxa de juros. Acrescentou que avaliam a convergência da inflação em 2022 e a necessidade eventual de acelerar, caso ponha em risco também a meta de 2023.

Ontem, o BC fez intervenção no segmento à vista do dólar, vendendo US$ 500 milhões, mas isso não segurou a taxa cambial nem muda a direção da moeda por conta do risco fiscal e incertezas. Mais para o meio da tarde, com expectativa de aumentar o extrateto do Auxílio, os investidores aceleraram vendas e a Bovespa fez mínima na casa de 109 mil pontos, e o dólar vazou a cotação de R$ 5,60.

No mercado, dólar em boa alta ao longo de todo o dia, para encerrar com +1,33%, cotado em R$ 5,594. No segmento Bovespa, da B3, na sessão de 15/10, os investidores estrangeiros alocaram recursos no montante de R$ 906,4 milhões, deixando o acumulado de outubro positivo em R$ 10,5 bilhões e, no ano, com ingresso líquido de R$ 52,76 bilhões. No mercado acionário, a terça foi dia da Bolsa de Londres em alta de 0,19%, Paris com leve queda de 0,05% e Frankfurt com +0,27%. Madri com alta de 0,67% e Milão com +0,25%. No mercado americano, o Dow Jones com +0,57% e Nasdaq com +0,71%. Na Bovespa, dia de forte queda de 3,28% e índice em 110.672 pontos, melhorando um pouco quando governo suspendeu a divulgação de hoje do Auxílio. Na mínima do dia, o índice chegou a 109.947 pontos.

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Alvaro Bandeira

Economista-chefe do Banco Digital Modalmais

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