Títulos privados – escolha, cuidados e riscos

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Rodrigo Caetano (foto divulgação Toro Investimentos)
Rodrigo Caetano (foto divulgação Toro Investimentos)

Conversamos sobre títulos privados com Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos.

 

Como escolher um título privado?

Para que o investidor possa fazer esse tipo de escolha, primeiro ele tem que ter ciência do que é um título privado, sendo que hoje, basicamente, nós temos três tipos: debêntures, CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e CRAs (Certificados de Recebíveis Agrícolas).

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As debêntures são emissões realizadas pelas empresas que visam a captação de recursos para financiamento dos seus negócios, seja para investimento, seja para rolagem de dívida, enquanto os CRIs e os CRAs são títulos de securitização de dívida dessas companhias. É importante destacar que o CRI, o CRA e as debêntures incentivadas são isentos de Imposto de Renda (IR) para o investidor pessoa física.

O segundo passo é entender quem é o emissor da dívida, pois quando o investidor está comprando um título de uma empresa, ele está se expondo ao risco dessa empresa. Por exemplo, se o investidor compra uma debênture da Vale, ele está se expondo ao risco da Vale. Assim, o investidor precisa analisar se o emissor está com uma estrutura financeira e com os indicadores saudáveis e se ele tem caixa para suprir suas obrigações.

Por último, o investidor deve analisar se a taxa é atrativa para os seus objetivos financeiros, verificando se no mercado não há nada melhor que o produto onde ele pretende aplicar. Por exemplo, se o investidor está vendo uma debênture pagando IPCA+6%, mas há no mercado um título do governo pagando IPCA+6,5%, ele tem que avaliar se essas debêntures são tão boas quanto o título do governo que está com uma taxa mais atrativa. Para isso, é importante comparar produtos com as mesmas características, ou seja, um título isento de IR com outro título isento de IR, pois é discrepante comparar um título isento com outro não isento.

 

Quais cuidados um investidor deve ter na escolha de um título privado?

O primeiro cuidado é a definição do risco ao qual ele está se expondo, como já mencionei. Outro ponto que o investidor precisa ter ciência é que um título privado não tem o benefício da cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) como um CDB (Certificado de Depósito Bancário), uma LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e uma LCA (Letra de Crédito Agrícola), que são títulos comprados através de um banco.

Como um título privado não tem a cobertura do FGC, ele é emitido com uma garantia para o caso do seu emissor ficar inadimplente, sendo que ela pode ser de quatro tipos: real, flutuante, quirografária e subordinada.

A garantia real pode ser um imóvel, um bem ou um fluxo de pagamentos. A garantia flutuante nada mais é que a garantia real, só que nesse caso a empresa tem a liberdade de trocá-la no meio do processo. Por exemplo, ela pode fazer uma emissão tendo um prédio como garantia, para num segundo momento trocá-lo por mil veículos. Se o investidor aplica num título com garantia quirografária, ele possui um risco de credor, da mesma forma que um banco que emprestou para a empresa. Por fim, na garantia subordinada, o investidor é como se fosse um acionista da empresa. Caso ela não honre as obrigações do título emitido, o investidor é um dos últimos na fila de prioridade para receber os seus recursos.

 

Títulos pré ou pós?

Essa escolha depende do momento de mercado. Se há uma perspectiva de que os juros vão aumentar, o ideal seria os títulos pós-fixados, pois, com a rentabilidade atrelada ao CDI, quanto maior a Selic, maior será o CDI. Se a perspectiva é de corte de juros, o investidor deve começar a se expor a títulos prefixados, pois, independente do movimento da taxa de juros, ele prefixou o seu retorno num nível elevado.

 

Por qual período um investidor deve montar uma estratégia de investimento? Por exemplo: um ano, três anos, cinco anos ou dez anos?

Isso depende dos objetivos do investidor. Se ele tem como foco montar uma estratégia para a sua aposentadoria, ela será focada num vencimento mais longo. Por exemplo, se o investidor pretende se aposentar daqui a 20 anos, esse é o seu target. Agora, se o investidor tem como objetivo a aquisição de um imóvel daqui a 3 anos, ele não vai montar uma estratégia com títulos de 20 anos, pois seu investimento estaria descasado do seu objetivo.

É importante reforçar que o investidor já deve ter uma reserva de emergência preparada. Se ele precisa de liquidez diária, pois pode precisar dos seus recursos a qualquer momento, não é aconselhável entrar em títulos privados, pois, dependendo do momento em que ele saia, a marcação a mercado pode ser punitiva.

 

O que um investidor deve levar em consideração quando analisar um título privado mais arriscado?

O investidor tem que analisar o seu apetite a risco, pois no mercado de títulos privados, quanto maior a taxa, maior o risco. Se há uma debênture pagando IPCA+10%, enquanto o mercado como um todo está pagando IPCA+6%, o sinal de alerta já tem que ser ligado, pois essa empresa está com um risco mais elevado. Nesse caso, o investidor deve estudar a empresa e verificar o motivo pelo qual a taxa está mais elevada, ou seja, os riscos envolvidos na operação. Ele não deve entrar, puramente, por taxa.

Se o investidor aplicou num título porque a taxa estava “boa”, ele pode ter uma perda total do seu capital caso aconteça alguma coisa. Recentemente, nós vimos os casos da Light e das Americanas, cujos títulos, praticamente, foram marcados quase a zero. Quem tinha esses títulos viu seu capital quase ir a zero. É muito importante que o investidor tenha ciência desses riscos.

 

Na sua visão, e de uma forma geral, as pessoas entendem o que é marcação a mercado e o seu impacto?

Anteriormente, havia uma grande área cinzenta a respeito desse assunto, mas, recentemente, a Anbima fez uma mudança com relação à marcação dos títulos. Antes, os títulos podiam ser marcados na curva, ou seja, em conformidade com a sua rentabilidade, ou marcados a mercado. Hoje, a marcação a mercado se faz obrigatória, tanto para títulos privados quanto títulos públicos. Só os títulos bancários que não.

Por conta dessa obrigatoriedade, boa parte dos investidores já tem uma noção do que é marcação a mercado, pois eles já veem suas debêntures, CRIs e CRAs sendo marcados dessa forma pelas suas corretoras. Antes disso, esse tema era muito complexo para os investidores pessoa física.

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