Tom Jobim em cartaz no Casa Grande

"Tom Jobim Musical" celebra o legado do maestro em um espetáculo emocionante, com 27 atores e direção de João Fonseca, no Teatro Casa Grande. Por Paulo Alonso.

208

No ano que completa 30 anos da morte de Tom Jobim, a história desse gênio da música ganha vida em um espetáculo musical assinado por Nelson Motta e Pedro Brício. Tom Jobim Musical está em cartaz no Teatro Casa Grande, no Leblon. Trata-se de uma montagem emocionante e que retrata, com precisão, a vida e o legado de um dos maiores artistas populares do país e certamente o mais celebrado no exterior. O espetáculo leva o espectador a uma incrível e mágica viagem, desde a icônica Praia de Ipanema, imortalizada em sua obra, nos anos 1950, até suas conquistas internacionais em Nova York, onde ele difundiu de lá a Bossa Nova para todo o mundo. O musical enaltece, ainda, e com uma bela narrativa, sua importância na cultura musical do Brasil. Amado por sua música, reverenciado por colegas nacionais e internacionais, com inteligência viva e sempre muito bem-humorado, Tom Jobim exibiu aos cinco continentes o melhor do Brasil. A superprodução do espetáculo conta com 27 atores e 13 músicos, direção de João Fonseca e direção musical de Thiago Gimenes.

Para mim, foi uma grande emoção assistir ao espetáculo Tom Jobim Musical, e fazer uma viagem aos vários encontros havidos com o Maestro Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim; lembrar-me da sua irmã Helena, uma escritora notável; da sua mãe, Dona Nilza, fundadora do Colégio e da Faculdade Brasileiro de Almeida, em Ipanema, que mais tarde se transformaria em Faculdade da Cidade e que tive a honra de dirigi-la por longos anos e credenciá-la em Universidade da Cidade junto ao MEC.

Além disso, observar o poeta Vinicius de Moraes – figura das mais espetaculares que tive igualmente a honra e a felicidade de conhecer – em cena, encarnado pelo ator Otávio Müller, magistral, foi algo espetacular. Elton Towergey no papel do genial Tom Jobim, está irretocável. O musical é de fato uma viagem ao tempo, com artistas interpretando João Gilberto, Astrud Gilberto, Frank Sinatra, Stan Getz, Dolores Duran, Fernando Sabino, Carlinhos Lyra, Helô Pinheiro, Elza Soares, Elis Regina, Gal Costa (que saudade dessa baiana sensacional!), Miúcha, Jair Rodrigues…

Tom jobim musical cartaz
Cartaz da peça

As duas horas se passaram muito rapidamente, pois durante todo esse tempo estive tomado por grandes recordações, adormecidas no tempo, mas que continuam e continuarão para sempre presentes na minha mente e no meu coração. Uma enorme felicidade poder estar presente e aplaudir de pé e de forma vibrante os atores e atrizes nesse belíssimo espetáculo. O público, ao longo da apresentação, canta com os atores.

Espaço Publicitáriocnseg

Quando se ouve uma batida de bossa nova, em qualquer lugar do mundo imediatamente se imagina o Brasil, suas belezas naturais, seu povo alegre e criativo. E foi justamente a Bossa Nova, de Tom Jobim, ao lado de Vinicius de Moraes e de João Gilberto, que popularizou essa musicalidade e levou a cultura nacional para todos os cantos do mundo. Da criação da icônica Garota de Ipanema aos sucessos internacionais como Desafinado e Wave, cada nota ressoa com a paixão e a genialidade de Jobim.

Nelson Motta costuma dizer que “nunca houve, nem haverá de novo um compositor como Tom Jobim, que associou sua música maravilhosa para sempre como um símbolo do Brasil, de nossa riqueza e diversidade, de nossa natureza e nosso povo. Estilo, inspiração, e muito trabalho duro, o levaram ao panteão dos grandes mestres da canção popular do século 20 ao lado de Cole Porter, Gershwin, Irving Berlin, Duke Ellington, Rogers e Hart, Dylan, Stevie Wonder, Lennon e McCartney, Richards e Jagger … Tom Jobim mudou o rumo e ritmo da música do mundo, tornou-a mais leve, solar e melodiosa, Garota de Ipanema e Águas de março estão entre os maiores hits mundiais de todos os tempos, gravadas pelos maiores intérpretes do nosso tempo. Descendente musical de Dorival Caymmi e Ary Barroso com Debussy, Ravel e Cole Porter, não há um só entre os gigantes da música brasileira, Chico, Caetano, Gil, Milton, Edu Lobo, Paulinho da Viola, João Bosco, que não tenha bebido em sua generosa fonte. A parte mais difícil de transformar sua vida e obra em um musical de teatro é a qualidade de suas músicas, como escolher apenas 30? O certo é que nenhum musical da Broadway teve, tem ou terá um score musical à altura do maestro soberano Tom Jobim.”

Essa peça sobre Tom só pode ser uma celebração sobre a música, o amor, a natureza e sobre o Brasil, como diz o diretor João Fonseca: “narrado pelo grande parceiro e amigo Vinicius de Moraes, a música de Tom é a protagonista do espetáculo, mas o homem bonito e charmoso também está lá, aquele que era popular e erudito, maestro e boêmio, carioca e universal. Essa mistura única também é a marca desse musical original sobre esse brasileiro muitas vezes apontado como um dos melhores compositores de música popular do mundo”.

Tom Jobim compôs muitas canções que fazem parte dos repertórios clássicos do jazz e do pop. Garota de Ipanema, por exemplo, já foi gravada mais de 240 vezes por outros artistas e em vários idiomas, inclusive o mandarim e o coreano. Seu álbum de 1967, “Frank Sinatra e Antonio Carlos Jobim”, foi indicado para Álbum do Ano, em 1968. Em 2022, um levantamento produzido pelo Ecad, Tom tem 8 das 15 músicas brasileiras mais regravadas da história, contando canções solo ou em parceria, sendo a mais regravada a famosa e icônica Garota de Ipanema, que fez em parceria com o genial poetinha Vinícius de Moares.

As raízes musicais de Jobim foram firmemente inspiradas na obra de Pixinguinha, o lendário músico e compositor que iniciou a música moderna brasileira na década de 1930. Dentre seus professores estavam Lúcia Branco e, a partir de 1941, Hans-Joachim Koellreutter, um compositor alemão que viveu no Brasil.

Tom Jobim também foi influenciado pelos compositores franceses Claude Debussy e Maurice Ravel e pelos compositores Ary Barroso e Heitor Villa-Lobos, que foi descrito como a “influência musical mais importante” de Jobim.

Dentre muitos temas, suas letras falavam sobre amor, autodescoberta, traição, alegria e principalmente sobre os pássaros e as maravilhas naturais do Brasil. Na década de 1940, passou a tocar piano em bares e casas noturnas do Rio e, nos primeiros anos da década de 1950, trabalhou como arranjador no Estúdio Continental, onde gravou sua primeira composição, em 1953, quando o cantor brasileiro Mauricy Moura gravou Incerteza, composição de Jobim, com letra de Newton Mendonça.

Jobim ganhou destaque no Brasil quando se associou ao poeta e diplomata Vinícius de Moraes para compor a música da peça Orfeu da Conceição, (1956), lembrada no musical. Em 1958, o cantor e violonista João Gilberto gravou seu primeiro álbum com duas das canções mais famosas de Jobim, Desafinado e Chega de Saudade. As harmonias sofisticadas de suas canções chamaram a atenção de músicos de jazz nos Estados Unidos, principalmente após sua primeira apresentação no Carnegie Hall, em 1962.

Tom Jobim e Elis Regina se conheceram em 1974, em Los Angeles, quando Elis tinha 29 anos e ainda era uma cara nova na indústria musical. Os dois artistas se uniram para criar o álbum “Elis e Tom” que inesperadamente se tornaria tremendamente popular nos Estados Unidos, assim como em todo o mundo.

Jobim casou-se com Thereza Otero Hermanny, em 1949, e teve dois filhos: o arquiteto e músico Paulo Jobim (1950–2022) e pai de Daniel Jobim (1973) e Dora Jobim (1976); e a pintora Beth Jobim (1957). Jobim e Thereza se divorciaram, em 1978. Em 1986, casou-se com a fotógrafa Ana Beatriz Lontra, com quem teve mais dois filhos: João Francisco Jobim (1979–1998) e Maria Luiza Helena Jobim (1987). A música Luiza foi composta em homenagem à sua filha.

No início de 1994, após terminar seu álbum “Antonio Brasileiro”, Jobim foi submetido a uma operação em NYC, em dezembro. No dia 8, enquanto se recuperava da cirurgia, teve uma parada cardíaca, vindo a falecer.

Jobim foi um inovador no uso de estruturas harmônicas sofisticadas na canção popular. Algumas de suas reviravoltas melódicas, como a melodia insistindo na sétima maior do acorde, tornaram-se comuns no jazz depois que ele as usou.

Tom Jobim ganhou o Lifetime Achievement Award, no 54º Grammy Awards, em 2012. Como homenagem póstuma, em 1999, a Prefeitura do Rio mudou o nome do Aeroporto Internacional do Galeão, batizando-o com Aeroporto Internacional Tom Jobim. O Aeroporto do Galeão é explicitamente mencionado em Samba do avião. Em 2014, foi postumamente introduzido no Hall da Fama dos Compositores Latinos, e, no ano seguinte, a Billboard nomeou-o como um dos 30 artistas latinos mais influentes de todos os tempos.

Toda essa história é cantada e contado no espetáculo Tom Jobim Musical de forma arrebatadora e emocionante.

Paulo Alonso, jornalista, é reitor da Universidade Santa Úrsula.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui