Na cidade do Rio de Janeiro, segundo informações do IBGE de 2021, o rendimento do trabalho das pessoas que moram em residências com saneamento é de R$ 4.150,10, enquanto a renda das pessoas sem os serviços básicos é de R$ 1.516,94, uma diferença de mais de R$ 2,6 mil. Na capital fluminense, toda a população recebe o atendimento de água potável e 90% dos habitantes têm coleta de esgoto, enquanto 74% do esgoto gerado é tratado na cidade. Porém, no que diz respeito ao índice de perdas de água, mais da metade do recurso hídrico (53,4%), não chega de forma oficial nas residências.
Segundo o estudo “Painel Saneamento Brasil”, o Instituto Trata Brasil (ITB) aponta como os serviços básicos influenciam no trabalho e na renda da população no Rio. De acordo com o levantamento, a melhoria da saúde eleva de forma sistemática a produtividade dos trabalhadores: “se o trabalhador tem acesso à água potável e coleta de esgoto, vê reduzida a chance de desenvolver doenças associadas à falta de saneamento. Assim, além da melhor qualidade de vida, o índice de afastamento do trabalho em razão dessas doenças também será diminuído. Como consequência, os trabalhadores terão uma produtividade maior, com efeito sobre sua remuneração em igual proporção. Entretanto, a situação contrária traz efeitos negativos”, diz o levantamento.
Já a pesquisa global Women in Work Index 2023, da PwC, apontou que o ritmo de crescimento da equidade entre homens e mulheres no mercado de trabalho ainda não atingiu o nível pré-pandemia. O estudo traz uma análise entre países membros da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE). A edição deste ano traz um aumento de 1,3% em relação ao ano passado, na participação feminina no mercado de trabalho, atingindo 70,8%. A diferença salarial por gênero avançou 0,6%, chegando a 13,8%. No entanto, o progresso em direção à igualdade de gênero continua muito lento.
No Brasil, o contexto é semelhante aos dados globais. “Analisamos nossa base de dados da PwC Brasil de benchmarking de capital humano, o que nos traz insights relevantes: observamos uma tendência de crescimento em representatividade feminina de 5,9% ao ano na liderança feminina geral e 7,6% ao ano na liderança feminina executiva (três primeiros níveis: CEOs, VPs e diretores) desde 2013 até 2019. A partir da pandemia, houve uma involução drástica desse número, retornando a patamares de 10 anos atrás – de maneira mais agravada nas líderes executivas” comenta a diretora da PwC Brasil Camila Cinquetti.
A análise mostra que há ganhos de trilhões de dólares a serem obtidos com fim da disparidade salarial entre homens e mulheres. Aumentar os salários médios das mulheres para igualá-los aos de seus colegas masculinos entre os países da OCDE aumentaria a renda feminina em mais de US$ 2 trilhões por ano. Mas, com base na disparidade salarial entre homens e mulheres de 14% em 2021 e nas taxas históricas de progresso em direção à igualdade salarial entre homens e mulheres, levará mais de 50 anos até o fim desta disparidade.
A pesquisa mostra ligeira queda na taxa de desemprego das mulheres, de 6,7% para 6,4%, em 2021. No entanto, melhorias semelhantes também foram evidentes na participação masculina e nas taxas de emprego, sugerindo que os níveis de empregabilidade são um sintoma de desaceleração macroeconômica e reflexo da recuperação geral do mercado de trabalho, em vez de avanço em direção à igualdade de gênero.
Dois fatores principais justificam a desaceleração do progresso para diminuir a diferença entre homens e mulheres: o desequilíbrio da distribuição de horas entre pais e mães para cuidar dos filhos e o tempo de retorno da mulher ao trabalho depois de dar à luz o primeiro filho. Apesar dos dados da Women in Work Index trazerem apenas números dos países-membros da OCDE, as conclusões da pesquisa também são percebidas no mercado brasileiro, indica a diretora.
“O cuidado com os filhos foi amplamente afetado pela pandemia. Passamos a perceber uma sobrecarga para a mulher, que acabou despendendo oito horas a mais que homens durante a semana nesta tarefa em países da OCDE. Já a volta ao trabalho também ficou ainda mais desafiadora. Nosso levantamento mostra, historicamente, uma queda de 60% nos rendimentos das mães em comparação aos pais nos 10 primeiros anos de vida do primeiro filho. Mesmo sem os números concretos deste impacto no Brasil, percebemos que no mercado nacional há um contexto bastante similar”, analisa a Camila Cinquetti.
No Brasil, os dados mostram que 45,6% representam a participação de mulheres no mercado de trabalho (PNAD Contínua). Segundo a mesma fonte, a média de horas dedicadas a afazeres domésticos é menor no gênero masculino. “É interessante refletir como o gênero feminino tem maior percentual na formação de nível de Ensino Superior, quando comparado com gênero masculino”, pontua.
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