A ausência de uma política industrial europeia, com visão de futuro, é a principal causa da trágica situação de uma das indústrias mais importantes da Europa: a indústria automobilística. Essa falta já provocou a dramática crise da Volkswagen e, com ela, a crise da indústria automobilística europeia, além de afetar a cadeia de suprimentos mecânicos da Alemanha e de outros países, incluindo, sobretudo, a Itália.
A razão subjacente é que a Europa, com suas divisões nacionalistas, não se tornou o Estado federal esperado pelos pais fundadores: Alcide De Gasperi, Altiero Spinelli, Jean Monnet, Robert Schuman, Joseph Bech, Konrad Adenauer e Paul-Henri Spaak. Essa situação geopolítica está na base do risco de que o maior e único mercado integrado do mundo possa desmoronar.
A causa do problema decorre do fato de a China estar inundando o mercado mundial com carros elétricos a custos muito inferiores aos da concorrência. Além disso, com a necessidade de aumentar a produção de Veículos Elétricos a Bateria (BEV), os mercados estrangeiros correm o risco de serem sobrecarregados por carros equipados com motores de combustão interna, colocados à venda pelas indústrias europeias e não europeias.
As raízes dessa crise remontam a 40 anos, quando a Europa não se dotou de uma política industrial, precisamente porque, para isso, é necessário ser um Estado, o que a Europa, hoje, não é. O que falta, de fato, é a capacidade de planejar a longo prazo. Não se trata de uma visão de médio prazo, mas de uma perspectiva que abarque, no mínimo, algumas décadas. Hoje, a situação não permite isso, porque a UE não sabe que rumo tomar, e esse fato é a razão da crise. A política atual é de sobrevivência, pensando no amanhã, mas não nos amanhãs seguintes.
Essa realidade fica evidente ao observar a chamada Cassa Integrazione (Caixa Integração), criada na Itália para ajudar os trabalhadores. De fato, em tempos de crise, as empresas costumam recorrer a uma solução intermediária entre cortar drasticamente o quadro de funcionários ou continuar as atividades em 100%. Essa solução é chamada de “fundo de complementação salarial”. Usando uma metáfora, podemos dizer que o fundo de integração é uma espécie de salva-vidas que o INPS italiano lança para uma empresa em sérias dificuldades financeiras, a fim de evitar que o navio afunde, levando todos os marinheiros consigo.
Nos últimos anos, esse recurso foi utilizado diversas vezes, mas é impensável manter uma indústria viva usando apenas redes de segurança social. Não se pode viver no improviso; a União Europeia precisa começar a agir com uma perspectiva de longo prazo, mirando o futuro.
Uma das principais causas da crise, se não a principal, tem sido o que se convencionou chamar de Green New Deal, que estabelece objetivos muito restritivos para a indústria automobilística europeia, impostos de cima para baixo, sem considerar as consequências futuras. A razão é simples: não há um Estado porque a Europa não é um Estado. Somente um Estado pode planejar uma política industrial de longo prazo.
O erro fundamental cometido foi a aplicação de metas sem prever ou entender as consequências. Portanto, é essencial rever as restrições do Green New Deal. Essa nova atitude poderia transformar a crise automobilística em uma oportunidade para, finalmente, fazer da União Europeia um Estado capaz de se equipar com uma política industrial eficiente.
Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália), editor da revista Italiamiga e vice-presidente do Ideus.
Era de se esperar, a indústria automobilística ficou só trocando a lanterna traseira de tamanho e lugar e dizendo que foi lançado novo modelo de automóvel. Aí os asiáticos vem e pá……