Três perguntas: a implantação de ônibus elétricos no Brasil

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Marcelo Barella (fotos divulgação Higer Bus)
Marcelo Barella (fotos divulgação Higer Bus)

Conversamos sobre a implantação de ônibus elétricos no Brasil com Marcelo Barella, diretor da fabricante chinesa Higer Bus para América Latina. A Higer está atuando no Brasil com a marca TVEx-Higer.

 

Como vocês estão vendo a introdução de ônibus elétricos no Brasil?

Hoje, no Brasil, só existem duas cidades que estão a ponto de ter ônibus elétricos em grande volume: São Paulo e São José dos Campos.

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São José dos Campos está para lançar um edital para compra de 350 unidades. Com relação a São Paulo, o falecido prefeito Bruno Covas havia feito um cronograma de transição do diesel para o elétrico que envolvia a troca de 12 mil dos 14 mil ônibus que atendem o município até 2035. Foi feito um processo com os operadores para que eles assumissem esse cronograma fazendo as projeções de compra, ou seja, deixando de comprar ônibus a diesel e passando a comprar elétricos.

O problema é que a pandemia atrasou todo o processo, prejudicando, inclusive, todo um sistema de cálculo já que a demanda de passageiros havia abaixado muito. Recentemente, o prefeito Ricardo Nunes anunciou um cronograma para colocar 2.600 ônibus elétricos na cidade.

Além de São Paulo e São José dos Campos, cidades como Fortaleza, Salvador, Curitiba, Niterói e Ribeirão Preto estão com vontade de mudar para a eletromobilidade. Os grandes municípios que tem uma solidez um pouco melhor já estão se preparando para essa transição e, obviamente, entendendo a necessidade de haver um subsídio.

 

Como será montada a infraestrutura de carregamento das baterias?

Nós temos a solução veicular, mas não temos a solução de infraestrutura de energia. Por isso que nós fizemos parcerias com a Enel e a Engie. No caso de São Paulo, a Enel fica responsável por verificar o endereço de cada garagem e sua capacidade de energia. Caso ela não tenha a capacidade ideal, a Enel vai fazer investimentos necessários no bairro onde ela está localizada de forma a viabilizar a energia necessária para carregar centenas de ônibus.

A infraestrutura de energia é tão grande que, se você não fizer uma adaptação no setor onde está a garagem, ele terá problemas quando os carregadores forem ligados. A Enel também fará a gestão de compra dessa energia no mercado livre, já que ela tem que ser mais barata.

Não é só vender e colocar o ônibus elétrico. É necessário se preocupar com toda a infraestrutura das garagens. Quando se fala em carros, não há necessidade de tanta potência, mas quando se fala em ônibus, você está juntando tudo num lugar só. Uma casa deve gastar 500 kilowatts por mês. Um ônibus pequeno consome 385 kilowatts por dia. Imagine a quantidade de energia que será necessária no local de uma garagem para o carregamento de uma frota. Todo o projeto foi feito para que um ônibus consiga trabalhar um dia inteiro com uma carga só.

 

Como está se dando a entrada da Higer no Brasil?

Antes de mais nada, é importante mencionar a transferência de tecnologia que acontecerá com a instalação da fábrica da Higer no Brasil. Atualmente há um desnível tecnológico acentuado entre o que se faz hoje no país e o que fazemos há duas décadas em outros países.

Não há dúvidas sobre a necessidade de investimentos financeiros e de tempo para reverter linhas de produção que hoje estão dedicadas a ônibus a diesel para ônibus elétricos no mercado brasileiro.

A Higer chega no Brasil com um produto pronto, não um protótipo. O modelo que será introduzido em São Paulo já tem mais de 4 mil ônibus rodando em diversos países.

Pela necessidade de São Paulo ter ônibus elétricos, houve uma correria para se criar modelos elétricos, e isso gerou dúvida nos operadores. A solução que estamos trazendo já é testada e tem como objetivo solucionar esse problema e transferir tecnologia.

Muitas marcas também já têm essa tecnologia na Europa, mas, talvez por preço ou por outros interesses, ainda não se definiram por trazê-la ao Brasil.

Só que o diesel continuará existindo. O Brasil tem mais de 5.500 municípios, com grande parte deles ainda com estradas em terra e com limitada infraestrutura. Não adianta falar que todos conseguirão eletrificar suas frotas no médio prazo. O foco está nos grandes municípios, que possuem a capacidade de fazer a transformação para a eletromobilidade. Será neles que o impacto para o meio ambiente e para os milhões de usuários será mais forte.

Estamos atuando para que toda essa tecnologia chegue a um preço mais acessível, quem sabe, até com adequações tributárias.

Nos últimos três meses, ouvimos bastante sobre o fato dos nossos ônibus serem importados e como isso traria problemas para a indústria nacional, o que não é verdade. Além de estruturar rede de distribuição e de assistência técnica, pretendemos montar uma fábrica no Brasil, gerar empregos e realizar transferência de tecnologia para o País.

Em breve, firmaremos com o Estado do Ceará um protocolo de intenções para construção da fábrica. Nós também temos a tecnologia do hidrogênio que pode ser adotada com essa nova unidade industrial, inicialmente para caminhões.

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