A inflação de outubro, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi de 1,25%, a maior variação para um mês de outubro desde 2002 (1,31%). Em setembro, o IPCA havia ficado em 1,16%. No ano, a inflação acumula alta de 8,24%, e nos últimos 12 meses, alta de 10,67%.
Conversamos com Luis Otavio Leal, economista-chefe do Banco Alfa, sobre o atual quadro inflacionário e sua rápida deterioração; se haveria algo a ser feito além dos aumentos da Selic para combater a inflação, e se o processo inflacionário brasileiro está em linha com o que está acontecendo no mundo ou é mais agressivo.
Em conformidade com os boletins Focus, no final de junho a expectativa de inflação para 2021 era de 5,97%. O último boletim indicava 9,33%. Como se explica o atual quadro inflacionário e por que ele piorou tão rápido?
Na verdade, tivemos uma verdadeira tempestade perfeita, tanto interna quanto externa. Se pensarmos bem, desde o final de junho tivemos uma piora dos gargalos das cadeias produtivas, uma crise energética que elevou os preços de toda a matriz, notadamente o petróleo e o gás natural, uma crise hídrica por aqui e, como cereja do bolo, tivemos até duas geadas em períodos importantes para as safras do 2º semestre. No caso brasileiro, o cenário de inflação alta é persistente por um bom período de tempo, mesmo que inflada por choques temporários, e acaba sendo mais perigoso devido aos mecanismos de indexação ainda existentes na economia brasileira. Isso explica, por exemplo, a contaminação rápida da piora da inflação de 2022 pela de 2021. Um exemplo claro disso é o salário mínimo, que é reajustado pela inflação do ano anterior.
O que deveria ser feito para reverter esse quadro além dos aumentos da Selic feitos pelo Banco Central?
Pouca coisa. Tentativas de controle direto dos preços já foram tentadas no Brasil e em vários países do mundo e nunca deu certo. Talvez, a melhor coisa que o Governo poderia fazer para ajudar o Banco Central no controle da inflação é reduzir a volatilidade do noticiário de forma a não estressar o câmbio, um dos fatores de pressão sobre a inflação.
O atual processo inflacionário que está ocorrendo no Brasil está em linha com o que está ocorrendo no exterior ou está sendo mais agressivo?
Faz parte de um contexto mundial, mas é pior no Brasil devido às questões já citadas dos mecanismos de indexação ainda existentes no Brasil, que torna a inflação muito mais inercial do que em outros países, mesmo na comparação com os demais emergentes (com exceção da Turquia e da Argentina).
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