Três perguntas: a inflação e o câmbio na América Latina

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Ramón Morel (foto divulgação Skilling)
Ramón Morel (foto divulgação Skilling)

Começamos o ano com uma expectativa de inflação de 3,32% para 2021. Próximo ao fim do ano, já temos uma inflação acumulada de 8,24% até outubro, enquanto a expectativa do mercado é que o IPCA feche 2021 em 10,12%.

Como o agravamento do processo inflacionário não tem ocorrido apenas no Brasil, conversamos com Ramón Morel, analista financeiro da Skilling, sobre o desenvolvimento deste processo e o comportamento do câmbio em uma região que não é muito abordada pela mídia brasileira: a América Latina.

Aproveitamos a oportunidade para sabermos como está o momento atual da economia argentina, já que em julho havíamos feito uma entrevista com a Skilling sobre a situação econômica do nosso principal vizinho. A Skilling é uma plataforma europeia de negociação online de Forex e CFD (Contracts for Difference / Contratos por Diferença).

 

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Como está o processo inflacionário na América Latina? Na sua opinião, quais são os países que vão bem e quais os que vão mal no combate à inflação?

A inflação na América Latina e Caribe sempre foi acima de 4,5% nos últimos dez anos, crescendo para 7,65% em 2019, caindo em 2020 para 6,38% e voltando a subir para 7,23% em 2021, de acordo com Statista.com (plataforma alemã especializada em estatísticas, dados de mercado e pesquisas). No entanto, se tomarmos os números do Banco Mundial, a média é dois pontos abaixo para toda a região.

Em todo caso, a questão relevante é quem está indo bem e quem não está no combate à inflação. A Argentina obviamente perdeu a guerra contra a inflação; o Brasil está efetivamente lutando contra ela; o Uruguai está tentando; o Paraguai está tomando as medidas corretas para contê-la, e o México, também.

Com relação a outros países como Bolívia, Equador, Costa Rica, Guatemala, os baixos níveis de inflação mostram que eles não estão aumentando a liquidez do sistema financeiro e têm margem de manobra. Na verdade, eles devem evitar o risco de uma implosão potencial. Chile, Colômbia e El Salvador parecem ter um equilíbrio entre ajudar as forças produtivas e manter um nível aceitável de inflação, dadas as circunstâncias.

 

O comportamento do câmbio nesses países segue o mesmo padrão?

As taxas de câmbio são impulsionadas quase inteiramente pelo comportamento do dólar americano nos dias de hoje. Sua força crescente afeta todos os pares de Forex, independentemente dos níveis de inflação e do desempenho da economia em cada país. Isso vale para toda a região, independentemente da sensibilidade de sua economia ao dólar, desde aquelas com controles cambiais rígidos como a Argentina até aquelas que são dolarizadas como o Panamá.

O foco relevante é se esses países têm planos econômicos sólidos e os colocam em prática. É aqui que podemos ver diferenças importantes.

 

Em julho, conversamos com a Skilling sobre a situação econômica da Argentina, que parecia estar melhorando. O que aconteceu na Argentina desde nossa última conversa?

A Argentina está em pior estado do que em julho. A inflação aumentou 3,5% no mês passado e deve fechar em 50% no ano de 2021. Como as taxas de serviços públicos estão congeladas, a inflação será selvagem quando chegar a hora dos ajustes. Além disso, as reservas líquidas do Banco Central somam apenas de 3 a 5 bilhões de dólares, de acordo com as fontes consultadas.

A Argentina está em negociações com o FMI porque em fevereiro do próximo ano precisa fazer um pagamento importante e não tem dinheiro para isso. O atual presidente quer chegar a um acordo, mas, ao mesmo tempo, reconhece que a prioridade é dar meios para o povo. Assim, em vez de despejar dinheiro direto nos setores produtivos para promover o emprego, ele subsidia transportes e serviços sociais, que é um processo de transferência de fundos muito mais passivo para a economia real. Pode-se debater que se trata de uma atitude como “vamos manter a discrição e esperar para ver se o FMI nos resgata mais uma vez”.

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